Sauer - o tempero agridoce da joalheria de Stephanie Wenk
Stephanie Wenk assina coleção de 30 peças que une passado e presente para comemorar os 80 anos da Sauer
Sauer vêm praticando o exercício de olhar para dentro e para fora, com a dinâmica de trabalho de Stephanie Wenk desde que foi convidada pela família a assumir a direção criativa da Amsterdam Sauer – hoje, Sauer. O objetivo, conta, é trazer os códigos da joalheria para a atualidade. Para a coleção que celebra os 80 anos da empresa, ela refez novamente essa trilha, mas com ótimas surpresas no caminho. Pela primeira vez teve a oportunidade de usar pedras guardadas no acervo museológico, entre elas turmalinas Paraíba e rosa. “Outra estrela foi uma esmeralda bruta que lapidamos e com a qual fizemos seis peças muito especiais”, conta ela sobre a pedra de meio quilo adquirida há algumas décadas em Minas Gerais e que foi transformada em 200 quilates de gemas depois de lapidada.
Stephanie explica que criou atualizações a partir de três joias icônicas do passado: a pulseira Luna, premiada em 1992 com o De Beers International Awards, o Oscar da joalheria internacional, agora se desdobra em dois anéis eletrizantes, de diamante e ouro amarelo ou cravejado de safiras, esmeraldas, topázio azul e ametistas; a pulseira Tahiti, de 2002, ou Stairway to Heaven, em homenagem ao hit do grupo Led Zeppelin, volta em uma harmônica psicodelia de pedras coloridas e facetadas;
“A minha preferida é a releitura do anel Constellation (vencedor em Nova York do Diamonds International Award de 1966), best-seller até hoje. Revisitei com diamantes quadrados em lapidação princess cut. Ficou arquitetônico com jogo de alturas, em um visual grid contemporâneo e minimalista, mas com muita presença”, conta a designer, que, não por acaso, é fã das joias criadas pela marca nos anos 1960. “Foi nessa dé-cada, junto da corrida espacial, que ele foi criado. A moda foi influenciada por esse período, e na joalheira não foi diferente”, contextualiza.
E mais: a linha Rainbow, uma tradição da marca, chega como grande aposta. Nessa edição, o ônix é aliado ao arcoíris de pedras. Aliás, gemas de alta qualidade são assunto sério na Sauer. A maior pedra vinda da esmeralda mineira, em formato antique e com quase 30 quilates, virou o cen- tro das atenções em um colar minimalista. Outras raridades do acervo entram em cena para a celebração dos 80 anos da marca. Do início de sua trajetória, em 2013, Stephanie resgatou o cristal de rocha, que agora divide espaço com po- derosas turmalinas Paraíba e tanzanitas. O rosa e seu simbolismo afetuoso são outro ponto de emoção para a designer. O tom delicado da turmalina e da safira, segundo ela, simboliza a feminilidade, além da nova identidade da Sauer. “Essas safiras são muito especiais para mim, pois foram as primeiras pedras que selecionei junto ao Daniel Sauer (seu padrasto) para o nosso acervo”, recorda.
Apesar de a marca ter sido fundada em 1941 pelo francês Jules Sauer e ter figuras masculinas importantes, Stephanie lembra da força feminina: “Desde Zilda, esposa de Jules, que comandava o escritório da empresa desde os anos 1940, pas- sando por Débora, filha de Jules, que durante 30 anos assinou nossa direção criativa, chegando à nossa equipe atual, formada em sua maioria por mulheres. É algo raro no ambiente joalheiro e, de certa forma, estou homenageando as que abriram as frentes para mim”, conta a designer, que estudou psicologia e “caiu” na joalheria meio por acaso, apesar da tradição familiar.
Depois de uma temporada morando em Nova York, Stephanie começou a contribuir com as mídias sociais da empresa e a se envolver na criação e nas campanhas. A grande virada, entretanto, aconteceu com uma coleção despretensiosa inspirada no mar que ela desenvolveu a quatro mãos com a amiga Bianca Brandolini, que é mezzo brasileira, mezzo italiana e filha da condessa Georgina Brandolini d’Adda e que virou sucesso na Europa.
Dessa repercussão veio o convite oficial da família para que ela assumisse o departamento de criação. A ousadia e o humor elegante são sua assinatura. “É um grande mix de tudo o que gosto, do que já vi, das pessoas com que convivi, dos lugares a que já fui, dos filmes a que assisti. É esse cruzamento de um monte de referências que a cada momento se orienta para lugares diferentes dentro do meu espectro de interesses”, descreve.
Essa irreverência atualiza o DNA da empresa, sem abrir mão do passado. “Conseguimos atrair novos clientes e mantivemos os antigos. A resposta deles desde o início foi boa, acho que foram evoluindo junto com a marca”, pondera. É consequência de muita dedicação. “São joias com história e significado além da parte estética, temas não explorados na joalheria e uma mis- tura de materiais ordinários com extraordinários”, comenta.
O saldo são coleções que, à primeira vista, dialogam com universos distintos. “Como erótico, Nordeste brasileiro, cosmos, infantil... mas os produtos em si têm a mesma linguagem e os mesmos códigos, podendo e devendo, inclusive, ser usados juntos”, contextualiza. Em seu radar também estão as questões sustentáveis. Há cinco anos vem trabalhando exclusivamente com ouro 18 quilates de reúso. “Reciclamos e purificamos todo o nosso estoque. Anualmente, fazemos a campanha Reset, em que avaliamos o ouro dos nossos clientes em 20% acima da cotação do mercado e damos créditos para a troca de uma joia nova da Sauer”, explica, ressaltando que todo esse processo é um movimento importante de mudança da dinâmica interna em favor do bem mais precioso: a própria Terra.