Silvia Furmanovich dá significado às joias da coleção Quintessência

Quando conversei por telefone com Silvia, em dezembro, ela estava na Ilha do Ferro, um pacato povoado no sertão alagoano, à beira do Rio São Francisco e a 235 quilômetros de Maceió, onde moram cerca de 500 pessoas. A ilha que não é ilha atrai interessados em arte popular de raiz. As mulheres fazem bordados boa-noite – nome da flor nativa da região – e os homens, esculturas. A designer incluiu o lugar no seu amplo roteiro de pesquisa para as peças que cria para o corpo e para a casa. “Venho porque tem muita inspiração”, conta.

Na sua busca incessante por materiais, técnicas, histórias e referências, a designer quase sempre se debruçou sobre a riqueza peculiar de algum país longínquo. Desta vez, confidencia que olhou para dentro de si. “Foi uma viagem interna, esse tipo de alquimia”, diz.

Prática ancestral que combina elementos de química, filosofia, espiritualidade e arte, a alquimia costuma ser conectada à pedra filosofal – a substância lendária que supostamente teria o poder de transformar qualquer metal em ouro e proporcionar a imortalidade. Crença popular durante a Idade Média e o Renascimento, ainda que suas raízes remontem ao Egito, à Grécia e à Índia antigos, tem uma abrangência mais ampla. Muitos alquimistas viam a prática como um caminho de autoconhecimento e iluminação espiritual, comparando a transformação de metais com a evolução da alma. Rica em símbolos, metáforas e talismãs, é uma atividade que tem tudo a ver com a joalheria, na opinião de Silvia Furmanovich, já que o ouro muda de consistência para dar vida a uma joia. Sua trajetória profissional também está ligada à mudança ao garimpar pequenos objetos em antiquários de países como Japão e Uzbequistão para então transformá-los nas joias únicas que lhe deram projeção internacional e estão reunidas no livro que leva seu nome, editado pela Assouline. Na coleção Quintessência, Silvia se volta para os fundamentos da alquimia para criar a base de amuletos preciosos com a ajuda do designer e alquimista Mika Ferrari e de livros antigos de alquimia que ela pesquisou em Amsterdã. Aos conceitos seculares, acrescentou a própria magia: a criatividade pessoal aliada ao talento de artesãos brasileiros, chilenos e indianos.

“Quintessência representa o quinto e mais elevado elemento da filosofia antiga – a essência que permeia toda a natureza, a forma mais pura de beleza e criatividade”, contextualiza Silvia, acrescentando que buscou explorar o simbolismo dos processos alquímicos por meio de temas contrastantes como o céu versus a terra, a lua em oposição ao sol e a feminilidade divergindo da masculinidade. A coleção se destaca em três colares animais -amuletos: peixe, dragão e abelha. O primeiro, por exemplo, foi esculpido em cornalina – para os místicos, estimula a autoconfiança – e energizado com um recheio de pó de conchas.

Outros animais surgem na coleção, como o pavão, que simboliza a iluminação espiritual; o cisne, que traduz a pureza e a fusão harmoniosa dos mundos espiritual e material – que aparece dentro da peça mais complexa da coleção, um jarro de cristal esculpido acrescido de micropintura realizada por artesãos em Ui - dapur; a serpente, que representa transformação e renovação por meio da troca de pele e é um símbolo de conhecimento oculto, dualidade e equilíbrio; e a borboleta, que tem a ver com metamorfose. Silvia leva, ainda, para as joias, os princípios de polaridade, causa e efeito e da correspondência, a Montanha da Iniciação representando a jornada espiritual e o arco-íris, a iluminação.