Alexandre Herchcovitch: exposição celebra seus 30 anos de moda
Estilista brasileiro é tema de mostra no Museu Judaico de São Paulo com acervo de roupas, sapatos, fotografias e bastidores de desfiles
Um dos maiores nomes da moda brasileira comemora três décadas de carreira com uma exposição que promete mergulhar no universo fashion no Brasil. Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda explora o universo multifacetado, subversivo e único do estilista brasileiro nos espaços expositivos do Museu Judaico de São Paulo.
Além do público ter acesso a um acervo de roupas, sapatos, bolsas, chapéus, fotos e vídeos exclusivos de desfiles, será possível conhecer mais sobre a trajetória e os processos criativos do estilista. Alexandre Herchcovitch é filho de imigrantes judeus de segunda geração e deu seus primeiros passos como designer de moda ao aprender com sua mãe Regina Herchcovitch, dona de uma confecção de lingeries, a costurar. Com o aprendizado, Alexandre pôs suas ideias em prática ao criar roupas para ela. “Estou bastante feliz em poder mostrar parte do meu acervo e de minhas ideias ao grande público. Sempre sonhei com este momento", disse Alexandre Herchcovitch.
A curadoria da mostra é assinada por Maurício Ianês que reconta as três décadas da carreira construída com trabalho árduo, criativo e impecável de Herchcovitch. O estilista brasileiro já participou das principais semanas de moda do mundo, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Paris e Nova York. Em sua trajetória, Alexandre já vestiu personalidades como a estrela islandesa Björk e a atriz estadunidense Scarlett Johansson, além de modelos brasileiras de sucesso como Gisele Bündchen, Caroline Ribeiro e Fernanda Tavares, ícones da moda internacional nos anos das décadas de 1990 e 2000.
A Exposição
No final de sua adolescência, Alexandre Herchcovitch desenhou uma caveira que, com sua assinatura, se tornou a sua primeira logomarca. Inspirada em imagens de livros de anatomia, o símbolo foi também a sua primeira estampa que se transformou na etiqueta de sua produção utilizada até hoje.
Um dos itens que fazem parte do acervo da mostra é a primeira caveira desenhada por Alexandre em 1986, antes mesmo de ter iniciado o curso de moda na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Além desse elemento histórico, a exposição conta com mais de 40 looks que remontam a trajetória do estilista. Entre eles, é possível destacar o macacão de poliamida criado exclusivamente para o DJ Johnny Luxo em 1993, peças feitas de látex, uma bolsa com o formato da personagem infantil Hello Kit, e a reedição, feita exclusivamente para a exposição no Museu Judaico de São Paulo, além de 5 looks da coleção de inverno 2012 que foi inspirada nas vestes de judeus religiosos.
Alexandre Herchcovitch fez das roupas uma ferramenta de questionamento dos padrões de gênero e de representatividade. Nesta mostra, é possível relembrar o senso de coletividade, subversão e inclusão que guiou o estilista para colocar abaixo os preconceitos e limites de um mercado exclusivo, reconstruindo um sistema a partir de um olhar queer. No universo criado pelo estilista, isso fica evidente na instalação que ocupa todas as paredes da galeria em um grande painel.
Fotografias de família, desfiles, bastidores e editoriais servem como fundo para 30 pequenos monitores que apresentam os desfiles das coleções criadas por Alexandre Herchcovitch. Desde os anos 1990, o designer de moda brasileiro passou a fazer parte da efervescente noite paulistana e se aproximou de drag queens, travestis, transexuais e de toda a multiplicidade de personagens que compunham a cena da música eletrônica da época. Na abertura da mostra, a drag queen e modelo Marcia Pantera fez uma performance artística vestindo um look criado especialmente para a ocasião, e que remonta ao desfile de formatura do estilista em que Márcia foi a principal atração. “Este olhar nunca deixou de levar em conta as vivências de Herchcovitch como judeu, mas abrange também suas outras vivências, sociais e políticas, de forma intensa”, afirma o curador Maurício Ianês relembrando também a inclusão de indígenas, negros, asiáticos e marginalizados pela normatividade hegemônica. “Essas parcerias e universos marginais foram centrais para Herchcovitch, e essa exposição é uma celebração desse caleidoscópio mutante que é a cabeça do criador", completou o curador.
Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda também aborda como a estética das mulheres judias religiosas da Europa Central e do Leste e as roupas dos Haredim (judeus ultraortodoxos) se misturaram a macacões sadomasoquistas, sapatos de salto, roupas de látex, vestidos de cetim de seda desconstruídos, lingeries, babados inspirados em Carmen Miranda, burkas e biquínis, sempre resgatando as comunidades alternativas que o receberam quando era jovem: os punks, góticos, ravers, as drag queens, as trabalhadoras sexuais, as travestis e as transexuais. A exposição é um retrato de um estilista que exprimiu a influência de sua identidade judaica que dialoga com outras perspectivas e identidades.
A exposição fica em cartaz de 20 de abril a 8 de setembro, no Museu Judaico de São Paulo.