Anacê: marca ressurge na SPFW com direção criativa solo
Oficialmente em carreira solo, Ana Cecília Gromann constrói a versão 2.0 da sua Anacê com olhares voltados para novas gamas de criações
Quem acompanhou os bastidores do SPFW, na última temporada, viu a Anacê caminhar para um novo capítulo. Nas mãos oficialmente solo de Ana Cecília Gromann, após encerrar a sociedade do duo criativo que começou toda a história recém saída da faculdade, a marca inaugurou a sua versão 2.0 — com foco pragmático na construção de um estilo de vida que não cogita ficar só no vestuário.
Quando apareceu, pouco antes da pandemia arrasar os planejamentos do varejo de moda, a Anacê soube espertamente aproveitar a comunicação digital para trabalhar suas coleções. O trajeto típico de uma marca nova conseguiu atrair um público fiel que abraçou as ideias de alfaiataria descomplicada e pouco agarrada a gêneros. “Eu falo que a Anacê nasceu de uma certa ingenuidade”, reflete Cecília, em retrospecto. “Sempre quis ter uma marca, gosto de criar produtos; mas essa história de empreender acontece muito pela vontade de fazer acontecer. Daí vai-se experimentando, até entender qual é essa visão que nem você tem muita certeza.”
Três anos depois, mais segura do metiê, a estilista já sabe como atingir sua base — formada quase igualitariamente por homens e mulheres, uma raridade para qualquer empreendimento: “Conseguimos atingir tanto o menino que não tem medo de se expressar com uma roupa diferente, com uma silhueta feminina, quanto a menina meio tomboy, de ombro marcado e silhueta reta. As pessoas gostam de ver como trabalhamos esses contrapontos.”
Prática, Gromann afirma ter clareza para onde quer ir, agora por conta própria. “Claro que é uma mudança que gera um receio, até resolver o momento conturbado. Porém, quando comecei a fazer as pesquisas têxteis para esta coleção, a construir toda a história, senti que o desenvolvimento fluía. O mesmo ponto que é desafiador, torna-se uma vantagem: você se vê sozinha, tomando todas as decisões, arcando com as responsabilidades. Ao ver que a coleção fazia sentido, fiquei mais tranquila.”
O core da Anacê segue firme, reflexo do próprio guarda-roupa da criadora. “Eu não queria que fosse uma marca nova”, afirma. “Mas sabia que traria coisas que eu já fazia por conta própria, antes de tudo. E o mix de produtos faz parte do que sou, sempre estive nesse lugar da camisa, da calça de alfaiataria. Eu só uso isso no dia a dia. Sempre brincamos de ser um pouco sobre pegar o guarda-roupa do pai. Ao mesmo tempo, tem esse meu mood que vai para esse lado sexy, que mostra um pouco mais de pele. É menos experimental e mais produto, o que melhorei muito nesses três anos.”
Para ela, a busca do produto certeiro é um desafio que nutre. “Gosto de ter essa limitação do processo. Pode ser uma barreira criativa em certos momentos, mas sei o que vendemos e o que quem consome a Anacê quer. Não acho que a moda precisa querer flertar com a arte, se a arte não flerta de volta — impossível construir um business desse jeito, sempre dependendo de outros nichos.”
Ainda assim, essa nova Anacê tem seus olhos voltados para outros rolês além da roupa. Tanto que acaba de lançar o embrião da sua linha de décor, em parceria com a artista emergente Natasha Bernardo — uma série de esculturas que eternizam o movimento dos tecidos em gesso — enquanto traça caminhos para o mobiliário. “É algo que já flertamos antes, em papel de parede com a Occre. Agora é para se tornar parte da expansão da marca, alimentando esse estilo de vida. Estamos fazendo testes de uma luminária, também com o trabalho da Natasha”, revela. “É um primeiro passo para esse caminho de trazer outros artistas para colaborar nessa cocriação.”