Bia Harley fala sobre carreira em entrevista exclusiva a L’Officiel
Bia Harley é a mulher por trás da marca masculina de resortwear Sardegna Sartoria. Confira sua entrevista exclusiva a L’Officiel
Com uma trajetória inspiradora e uma experiência profissional eclética e abrangente, Bia Harley é a mulher por trás da marca masculina de resortwear Sardegna Sartoria. Confira entrevista exclusiva a L'Officiel!
Como muitas meninas, até seus 12 anos de idade, Bia Harley vivia dividida entre ser atriz, modelo, médica, astronauta e bailarina. A quarta, de 5 filhos, de pais pernambucanos bem tradicionais, com o tempo entendeu que teria apenas cinco opções de faculdade: Engenharia, Medicina, Administração, Direito ou Economia. “Acabei optando por Direito e hoje faria a mesma escolha. É um curso que forma integralmente, abre um leque de opções no que tange a caminhos profissionais, além de possibilitar uma profissão”, reflete, 20 anos depois. Bia fez estágio nas áreas Societária e de Propriedade Intelectual. “No meio do caminho, meu pai adoeceu e faleceu aos 53 anos, e eu resolvi tentar a Medicina, mas compreendi que era mais por uma questão de salvar o mundo do que ser propriamente médica.” Logo após a faculdade, fez especialização e mestrado em Propriedade Intelectual, em Boston, seguidos por uma experiência profissional em Business Development em uma empresa brasileira sediada em Nova York. De volta ao Brasil, se viu perante dois caminhos: trabalhar em um escritório de advocacia ou empreender com as duas irmãs, Ana Paula e Ana Cecília. “Abracei o segundo desafio e trouxemos para o Brasil, como franqueadoras master, uma franquia norte-americana chamada FastTracKids, que oferecia cursos extracurriculares especializados no desenvolvimento do que hoje chamamos de habilidades socioemocionais.” Por dez anos, foi responsável por toda a parte jurídica no Brasil, além do comercial e operacional. Em 2010, se tornou mãe e por uma questão de saúde, se afastou de tudo, inclusive da empresa. “Quando voltei à ativa, ingressei no terceiro setor, onde atuei durante quatro anos, e, completado esse ciclo, passei para o varejo, abraçando então a moda, até chegar à Sardegna, marca de moda masculina de alfaiataria clássica e a moda autoral, onde me encontro hoje, radiante. “A moda tem uma linguagem única que nos permite conciliar funcionalidade e estética, ao passo que torna a vida mais leve e bela.” A seguir, ela fala sobre essa experiência profissional eclética e abrangente.
L’OFFICIEL Você passou algum tempo no terceiro setor, onde participou de uma Fundação que buscava arrecadar recursos para outras instituições; atuou, também, na captação de fundos para a compra de mamógrafos digitais, para serem implantados em áreas de vulnerabilidade. Fazer o bem, não importa a quem, faz bem?
BIA HARLEY Eu tive a fantástica oportunidade de ingressar no Terceiro Setor inicialmente por meio da Fundação Arredonda Brasil, que após um trabalho de rebranding tornou-se o M.O.V.A. – Movimento Vamos Arredondar, e tinha como escopo a mobilização da sociedade para a captação de recursos para ONGs de diversos segmentos, por meio do arredondamento de contas de casa, por exemplo. Do M.O.V.A., me tornei superintendente do Instituto Verdescola, que atua desde 2008 no litoral norte de São Paulo, na área de educação no contraturno escolar e atende também jovens e adultos da região com os mais diversos cursos de capacitação profissional. Como minha filha era pequena e eu estava muito fora de casa, decidi sair e buscar algo que me desse a flexibilidade para acompanhá-la mais de perto. Foi aí que eu e uma grande amiga, Marina Garcia, voluntariamente fizemos uma ação de MRC (Marketing Relacionado à Causa) em prol da ONG Américas Amigas. Na época, desenvolvemos uma campanha para o Outubro Rosa com o apoio de uma das maiores redes de franquia de moda íntima do país e todas as unidades aderiram ao movimento. Foi um sucesso. Trabalhar com propósito e saber que as nossas ações e nossas escolhas agregam muito mais do que valor às outras pessoas, muitas vezes salva vidas, o que torna a atividade profissional e/ou voluntária infinitamente enriquecedora e satisfatória, tanto no profissional quanto no emocional. Aliás, existem estudos que comprovam cientificamente que quando fazemos o bem, temos uma sensação de bem-estar, que reduz os níveis de estresse e propicia um melhor equilíbrio emocional. Quase como ginástica…, mas para a alma!
L’O O que a moveu em direção a esse setor?
BH Na minha vida, tudo acontece no momento certo. Na época eu estava me recuperando de uma depressão pós-parto muito forte, e o trabalho com propósito foi um dos fatores que fizeram com que tudo voltasse a funcionar normalmente, além de claro todo o apoio indispensável de minha família. Toda possibilidade que eu tenho no meu dia a dia, seja no trabalho ou no meu cotidiano, de retornar, ajudar, mobilizar pessoas, eu abraço... Na Sardegna, por exemplo, costumamos escolher insumos (bases e aviamentos) sustentáveis, e buscamos homologar fornecedores que comunguem da mesma opinião e abracem esse propósito. Estamos inclusive em fase de desenvolvimento de uma collab social... em breve novidades que fazem diferença.
L’O Ser mãe mudou o seu rumo? Foi um marco divisor de águas?
BH Ser mãe mudou a minha vida e é definitivamente um dos papéis mais desafiadores que desenvolvo diariamente e, ao mesmo tempo, tranquilamente o meu predileto. O início da maternidade foi muito difícil por conta de uma gravidez de risco e um quadro de depressão pós-parto severa. Foram quase dois anos de uma batalha que, graças à minha fé, passou e, não fosse por minha mãe e toda a minha família, não sei o que seria de mim. Ser mãe deveria de fato ser uma profissão com direitos e deveres estabelecidos na CLT. As escolhas que fazemos diariamente, muitas vezes no escuro, principalmente quando se é mãe de primeira viagem, no meu caso única, terão impactos decisivos na vida de nossos filhos. A responsabilidade passa tanto pela integridade física quanto emocional, e nos dias de hoje, educar torna-se cada vez mais difícil, principalmente pelo fato de a informação ser acessível numa velocidade assustadora às pessoas, muito diferente de anos atrás quando tudo dependia de uma busca mais restrita por causa de uma vida analógica, e, na maioria das vezes essa informação, que já chega derrubando fronteiras, não condiz com a idade nem maturidade do público atingido. Mas ser mãe é isso: descobrir atalhos para, com muito carinho, educar nossos filhos para serem indivíduos acima de tudo felizes. A minha filha é, além de uma benção, meu maior aprendizado. Aprendi com ela o que efetivamente é lutar, não ter medo, olhar, cuidar, escutar, ensinar, respeitar, agradecer, ser exemplo, e amar incondicionalmente. E agora eu explico porque a Sardegna se tornou meu sonho. Tive a oportunidade de passar 90 dias sem sair de casa durante os primeiros meses da pandemia, justamente na fase pré-adolescente de minha filha. Vivi com ela momentos maravilhosos e outros bem difíceis, mas consegui ver que alguma coisa eu estava fazendo certo em sua educação.
L’O Em algum momento se imaginou à frente de uma marca masculina?
BH Nunca! Na verdade, achei que seria advogada especializada em Propriedade Intelectual para sempre. Eis que passei por serviços de educação, terceiro setor e já há algum tempo no varejo... Mas de moda masculina? Se alguém lá atrás me dissesse que essa seria a minha trajetória, enquanto me explicava que para ser atriz eu tinha que saber atuar… A Sardegna foi uma oportunidade de negócio que se tornou um sonho. Na época, eu havia acabado de me divorciar e ainda trabalhava com a empresa de meu ex-marido, também no varejo de moda feminina. Nada mais natural que eu escolher mudar a rota. Foi então que em outubro de 2020 fui apresentada ao projeto da Sardegna, e, consequentemente, ao meu sócio, Lucas Albuquerque, que já vinha do mercado de moda e de publicidade. Entendi claramente que aquele seria um desafio por vários motivos: por eu não entender nada sobre o segmento masculino, a não ser compras educadas pelo meu estilo; a pandemia, que virou o mundo de cabeça para baixo; e, os próprios desafios inerentes ao varejo. Mas como os papéis estavam muito definidos, eu na operação, ele na criação e marketing, tive a segurança necessária para abraçar o projeto com toda minha energia. Vi na Sardegna a oportunidade de fazer o que gosto (gestão), ao lado de pessoas que tinham muito a me agregar, como a Verônica Coelho, que é meu braço direito, esquerdo e o resto do tronco desde o dia zero da marca, e que também me possibilitaria ser executiva e mãe concomitantemente, 24 horas do dia.
L’O Às vezes aproveita a trend genderless e usa uma peça ou outra da marca?
BH Eu não diria às vezes... Estou mais para quase diariamente! No início, quando contava para as mulheres ao meu redor que as peças que eu estava usando eram da Sardegna e me perguntavam.... “tem vestido”? Eu respondia com sorriso de canto a canto... “Sabe que não? Somos uma marca masculina bem democrática, tudo cabe em todo mundo!” Já usei bermuda de swim com salto e jaqueta jeans, as camisas de linho com saia, calça e até como saída de praia, PJs, que traduzindo são pijamas casuais, para o dia a dia, e os conjuntos estampados, uso o tempo todo, com salto, rasteira e ainda faço um mix de estampas! Acho que moda é isso... você ter a possibilidade de usar aquilo que deixa você feliz, confortável, que permite ter a sua própria forma de expressão, independentemente de tendências.