Moda

Dior resgata a trajetória do estilista Raf Simons

Sexto table book da série sobre os diretores artísticos da marca francesa resgata a trajetória do estilista belga

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A modelo Élise Crombez usa look alta-costura 2013.

Dior no sexto table book da série sobre os diretores artísticos da marca francesa resgata a trajetória do estilista belga, Raf Simons. Confira!

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Raf Simons.

Após um ano da saída de John Galliano da Dior, Raf Simons assumiu como diretor criativo para as linhas femininas. Era 2012 e uma das estreias mais aguardadas da indústria da moda. Além do novo posto, o estilista continuaria à frente de sua marca masculina homônima. No documentário Dior e eu, que acompanha a produção e o desfile de sua primeira coleção de alta-costura, outono-inverno 2012/13, Sidney Toledano, então CEO da marca, apresenta o novato à equipe e pergunta a ele se deseja ser tratado como monsieur Raf ou simplesmente Raf. O estilista aponta a segunda opção, ao que Toledano completa: “Vamos chamá-lo de Raf como símbolo de modernidade”. Começava, de fato, uma nova era para a grife francesa. Nesta fase, o design das peças se tornaria clean sem perder a essência feminina. Sua trajetória à frente do estilo da Dior é tema da sexta publicação de uma série de table books dedicados a cada um dos diretores artísticos da Maison. 

Dior by Raf Simons, que sai pela Assouline, revela a visão criativa do designer belga por meio de “retratos de vestidos” feitos pelo fotógrafo Laziz Hamani ao lado de imagens de Tim Walker, Paolo Roversi, Peter Lindbergh, Willy Vanderperre e Sarah Moon, além de textos assinados pelo jornalista Tim Blanks. Em cada uma das coleções do estilista, os modelos contam implicitamente a história de seu fascínio por Christian Dior, com quem descobriu afinidades preciosas, incluindo natureza e jardins, design e arte. Com Monsieur Dior, ele também cultivou o gosto pela modernidade e o desejo de celebrar o legado através do prisma de uma perspectiva sempre voltada para o futuro. “Não devemos esquecer o passado, devemos ir além dele”, afirma Raf.

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Capa do livro.

Ao longo de 344 páginas, o livro aborda os três anos em que Raf uniu a herança cultural e estética da Dior com suas modelagens aerodinâmicas e apreço por novos materiais. Também mergulha na sua trajetória pessoal. Raf cresceu na pequena cidade de Neerpelt, carente de opções culturais, exceto por uma loja de discos onde ele podia peneirar bandas, como Kraftwerk, Joy Division, New Order e Depeche Mode, nos anos 1980. A televisão foi porta de entrada para a paixão pela arte e para a moda por meio de programas como Chambres d’Amis, do curador belga Jan Hoet, e Style with Elsa Klensch, da CNN.

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Vestido alta-costura outono/inverno 2012.

Simons mudou-se para Genk e formou-se em design industrial e de móveis em 1991 pelo Institut of Visual Communication, interessado por móveis da metade do século 20, vidro e cerâmica, ao contrário do movimento estético da época, que apontava para referências como Philippe Starck e o grupo radical milanês Memphis liderado por Ettore Sottsass. A criatividade e a ascensão do Antwerp Six, que colocou a Bélgica no mapa da moda internacional, o levou a estagiar para Walter van Beirendonck, desenvolvendo, por exemplo, móveis e embalagens e acompanhando o estilista a Paris algumas vezes. Uma dessas oportunidades mudaria sua vida para sempre. Ele assistiu seu primeiro desfile de moda, o terceiro de Martin Margiela e lendária apresentação para a primavera-verão 1990 em um playground infantil na vizinhança de Paris, com crianças lotando a primeira fila – as modelos convidavam os pequenos a entrarem na passarela. A cena era tão delicada que boa parte dos convidados se emocionou, incluindo Raf. “Nada mais na moda teve um impacto tão grande em mim. Só aí entendi o que a moda poderia ser ou o que ela poderia significar para as pessoas”, comenta ele, no livro.

O livro ABORDA OS TRÊS ANOS EM QUE Raf UNIU A HERANÇA CULTURAL E ESTÉTICA DA Dior COM SUAS modelagens AERODINÂMICAS E APREÇO POR NOVOS MATERIAIS. 

Sua grife masculina homônima, lançada em 1995 e encerrada em novembro do ano passado, contribuiu para transformá-lo em um dos mais aclamados estilistas contemporâneos. Com apenas dois anos de vida, sua neomarca já figurava entre as opções cult em desfiles parisienses, com sua alfaiataria skinny, pegada de uniformes, experimentações e casting de rua. Em 2005 entrou para a Jil Sander, onde estreou no segmento feminino e de onde saiu em 2012 para ocupar o lugar de John Galliano, que havia sido demitido após comentários antissemitas. Assim que assumiu a Dior, ele mergulhou nos arquivos e descobriu, além de criações que traduziam o DNA da marca, uma profunda conexão com Christian Dior através da paixão de ambos pela arte. “Não posso viver sem, é como o ar”, define. 

Estar à frente da criação da Dior também foi uma grande mudança de paradigma para Raf Simons. “Sempre me vi como uma pequena entidade, e sempre será assim. Eu não estou mudando. Mas acho que o grande desafio para mim ao enfrentar a Dior é ver como posso conectar isso a uma instituição tão grande. Eu vejo minha posição em toda essa construção da Dior de maneira muito diferente da minha própria marca. Esta permanecerá ou cairá por minha causa. Dior não vai cair se eu cair. Também permanecerá de pé se eu não estiver lá. Estou chegando lá e é como – não sei a palavra em inglês – como uma passagem”, disse ele na época que foi contratado. “Em retrospectiva, soa profético”, pontua Tim Blanks.

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Criação de Raf Simons para a Dior.

Raf deixou a marca francesa em outubro de 2015, depois de três anos e meio, chocando a indústria da moda. “É uma decisão baseada inteiramente e igualmente no meu desejo de focar em outros interesses da minha vida, incluindo minha própria marca, e nas paixões que me levam para fora do meu trabalho”, justificou ele. Nos bastidores, sua saída fomentou o debate sobre pressões, demandas e restrições impostas por grandes marcas. Depois da Dior, Raf passou pela Calvin Klein e desde 2020 é co-diretor criativo da Prada, atuando ao lado de Miuccia Prada. 

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Criações de Raf Simons para a Dior.

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