Dior Scarves: "atlas de lenços" reúne imagens de arquivo da casa
Detalhe afetivo! Espécie de atlas de lenços, o livro Dior Scarves: Fashion Stories reúne imagens de 425 itens desde o início da marca e sugere várias maneiras de usá-los.
“Tenho uma ligação especial com lenços, uso desde criança. Minha mãe me levava com ela para escolher. Até hoje, sempre carrego um comigo”, conta Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da Dior, ao comentar sua relação bem próxima com o acessório. Sem dúvida, foi um motivo extra para a produção do novo livro da marca. Dior Scarves: Fashion Stories explora a infinidade de inspirações por trás de 425 lenços de seda e seu papel no contexto da maison, desde a fase inicial, comandada por Christian Dior, até os dias atuais. A maioria deles descansa rodeada de cuidados no rico arquivo da grife francesa.
Maria Grazia conta, na abertura da publicação, que suas pesquisas em coleções antigas fizeram com que percebesse o alcance e a diversidade dos lenços, graças aos temas tratados pelos diversos estilistas que passaram pela marca. “Em qualquer momento que eu consulte o arquivo de tecidos, sempre encontro algo interessante, que eu não havia visto antes. É um processo contínuo de descoberta. Recentemente, encontrei um lenço do período de Monsieur Dior decorado com o mapa de Paris, destacando a Avenue Montaigne e a histórica sede da marca. Desde então, a imagem virou estampa”, diz ela.
Outro exemplo é o logotipo Miss Dior em estilo pincelado que também virou estampa para gabardines, saias e bolsas da coleção verão 2024 – foi emprestado de um lenço desenhado por Marc Bohan, que esteve à frente da criação entre 1960 e 1989, a partir de um desenho de Alexandre Sache. Organizados por temas – Paris, efeitos ópticos, cosmogonias, tramas, codex, flora, bestiário, colorama, mensagens e moda –, os lenços que ilustram o livro são enriquecidos pelas fotos de Brigitte Niedermair logo nas primeiras páginas. “Interpretamos maneiras de usá-los e os sentimentos que podem expressar. O resultado foi uma série de imagens que sublinham uma incrível adaptabilidade. Um quadrado de tecido pode ser clássico, pop, convencional ou rebelde”, comenta Maria Grazia.
O volume foi editado pela crítica, curadora e professora Maria Luisa Frisa, que traz no currículo exposições como Bellissima: L’Italia dell’Alta Moda 1945-1968, de 2015. “Quando penso o que o lenço representa, surgem em minha mente figuras como Audrey Hepburn, Jackie Kennedy Onassis, Grace Kelly, Brigitte Bardot, Valentina Cortese ou Claudia Cardinale, que mostraram maneiras glamourosas de usá-lo”, descreve, acrescentando que o acessório também tem seu lado político. “Nos protestos contra o regime militar na Argentina, no fim dos anos 1970, as Mães da Praça de Maio usaram lenços brancos como símbolo de resistência, uma marca de identificação para a causa e ‘cartaz’ no qual escreviam o nome dos filhos desaparecidos.”
Em seu texto para a publicação, a curadora-assistente de têxteis, moda e móveis no Victoria & Albert Museum Claire Allen-Johnstone recorda que quando Christian Dior criou seus primeiros lenços, no fim de 1940, a peça era usada dobrada em um triângulo ao redor do pescoço ou na cabeça pelas mulheres mais modernas. “Era um fenômeno relativamente novo na França. Eram geralmente estampados e tinham o nome da marca ou do designer cercado por uma borda”, revela. Elda Danese, pesquisadora especializada em história têxtil na Universidade de Veneza, conta que a identidade de moda dos lenços, como conhecemos hoje, foi definida no Ocidente, no século 20. Vem da sua versatilidade a necessidade de serem confeccionados sempre com tecidos leves. A seda é o mais comum, mas é possível encontrar versões também de algodão.
“Muito mais do que um detalhe formal, uma pitada de cor ou estampa, esses quadrados concentram, na verdade, uma ideia de criação”, reforça Émilie Hammen, professora da Universidade Paris-1 Panthéon-Sorbonne e do Institut Français de la Mode, que estuda a arte dos lenços em suas diversas variações nas coleções Dior desde 1947. Essas percepções históricas, técnicas de confecção e sensoriais sobre o artesanato e o savoir-faire centenários, combinadas com a inovação tecnológica, são mostradas nas imagens fotografadas por Pol Baril, que fecham o livro de 760 páginas publicado pela editora Thames & Hudson (preço: 100 dólares).