Alta-costura: saiba tudo sobre a temporada mais luxuosa da moda
Sim, a alta-costura só existe em Paris! E, para ser mais específico, somente no Triângulo de Ouro da Cidade Luz, ou seja, no espaço delimitado pela Avenue des Champs- Élysées, Avenue Georges V e Avenue Montaigne.
Setor que encanta, sonho de muitas e realidade para poucas pessoas. Tudo começou com o inglês Charles Frederick Worth (1825-1895), que, ao se mudar para Paris, foi trabalhar em uma loja de tecidos na Rue de Richelieu. Por duas vezes, propôs sociedade ao seu patrão para fazer roupas – e esse não aceitou. Casou-se com Marie Vernet (outra funcionária da loja) e, conseguindo sociedade com um industrial sueco, abriu negócio próprio no n° 7 da Rue de la Paix, para elaborar roupas propriamente ditas.
Na virada de 1857/1858, lançou sua primeira coleção, imprimindo algumas premissas de diferenciação, como ter uma modelo viva (sua esposa, madame Worth); impor o próprio gosto; lançar uma coleção por estação e colocar uma etiqueta com o próprio nome nos seus sofisticados vestidos. Eram novidades para a moda, uma vez que, com a Revolução Industrial, já havia sido desenvolvida a máquina de costura e já existia, também, o comércio de roupas prontas nos “magazins” parisienses, denominadas “roupas de confecção”. Em 1868, sindicalizou-se e deu ao seu sofisticado trabalho o nome de “costura”. Ao falecer, em 1895, seus filhos, Gaston-Lucien (1853-1924) e Jean-Philippe (1856-1926) deram continuidade à maison (casa).
Em 1910, foi criada a Chambre Syndicale de la Couture Parisienne (Câmara Sindical da Costura Parisiense), que, inclusive, passou a ter um presidente e ganhou, agora sim, o nome fantasia de “alta-costura”. Somente com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que vieram as regras que conhecemos e que são praticadas ainda hoje como essências conceituais do setor.
Durante a ocupação nazista na França, quiseram levar a sede da Câmara de Paris para Berlim. Foi aí que o então presidente da Câmara, o costureiro Lucien Lelong (1889-1958), teve a ideia de criar as regras, fazer um registro de “patente” e estabelecer (sendo a norma número 1 até hoje) que alta-costura só pode estar em Paris, tornando-a um patrimônio cultural exclusivamente parisiense.
Outras regras existem, como ter prédio próprio no Triângulo de Ouro; apresentar dois desfiles anuais com pelo menos 25 looks por estação (no início das normas, eram mais de 70 looks exigidos); ser feita à mão (pelo menos 80% de cada peça); ter bordados manuais; ser peça única; e, para a sobrevivência financeira, ter pelo menos um perfume associado à casa. Cosmética, acessórios e roupas prontas (prêt-à-porter) não são regras, mas as casas os oferecem como forma de expansão comercial. Vale ressaltar que, na alta-costura, fala-se “maison” (e não “griffe”), assim como “costureiro” (e não “estilista”), e o profissional não precisa ser de nacionalidade francesa.
O espanhol Cristóbal Balenciaga foi e ainda é considerado o principal nome do setor, pois possuía domínio técnico, era criativo e tinha tino comercial. Sua principal cliente foi a americana e condessa alemã (por casamento) Mona von Bismarck, considerada a maior cliente da alta-costura de todos os tempos.
A tradição é terminar cada desfile com o “vestido de noiva” (não é regra), pois esse passa a ideia de exclusividade e feito à mão e costuma ser considerado a peça mais cara do guarda-roupa de qualquer mulher... além de realizar um sonho.