Moda

Harris Reed: romantismo em paredes poéticas

Os tecidos autorais do estilista Harris Reed e seu inegável romantismo se tornaram realidade graças a uma parceria com o estúdio inglês de papel de parede fromental.

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Harris reed outono/inverno 2024, fotos de Marc Hibbert

“Eu acho que história é tudo”, me disse Harris Reed, na cadência de seu sotaque, uma mistura de inglês britânico e americano, permeando as palavras. “É olhando para trás que você mais aprende.” Nossa conversa aconteceu alguns dias após ele apresentar a coleção primavera/verão de sua marca homônima – uma ode ao mundo dos têxteis perdidos, com vestidos estruturais feitos de materiais como tecidos vintage de armarinho e toalhas rendadas de mesa point de Venise de 200 anos. A uma altura dessas, qualquer outro designer estaria sem fôlego, mas Reed sente-se entusiasmado, dinâmico, cheio de vida. Esse jovem de 28 anos, formado em 2020 na Central Saint Martins, tem um currículo com que muitos estilistas sonham, estabelecido em apenas quatro anos: coleções reconhecidas, notáveis por seu gosto exigente, romântico com R maiúsculo; um cliente novo, Harry Styles, que ele colocou na Vogue em um vestido que quebrou a internet; e, em 2022, uma indicação para ser o diretor criativo de Nina Ricci. Para um jovem estilista em tanta atividade, olhar para o passado não é apenas uma forma de desacelerar – é uma maneira de construir um alicerce inabalável.

Esse alicerce tem suas raízes na parceria de longa data de Reed com o Fromental, um ateliê de papéis de parede pintados e bordados à mão, baseado em Londres. Chefiado pelo casal Tim Butcher e Lizzie Deshayes, o estúdio compartilha uma filosofia parecida com a da marca de Reed. Aqui, encontram-se coberturas de parede de seda confeccionadas com capricho, o que inclui o fluido e florido estilo chinês; réplicas de travertino lustradas com tintas metálicas iridescentes em movimentos gestuais; e paisagens bucólicas visivelmente inglesas, pintadas no estilo de gravuras ao ar livre do século 19; entre outras inúmeras criações. O Fromental também reverencia o passado. Para sua parceria de 2022 com o empreendimento de design de interiores Rinck, Butcher e Deshays, eles vasculharam cuidadosamente os arquivos do Mobilier National – o arquivo têxtil e mobiliário do governo francês – para encontrar padrões de estofamento do século 20. “No Fromental, nós nos esforçamos para criar peças não só visualmente incríveis, mas que vibrem em um nível mais profundo, evocando um sentido de fascínio e conexão”, diz Butcher.

A parceria se materializou depois que Reed foi atrás do trabalho do Fromental para sua residência em Londres. Butcher chamou a primeira reunião deles de “reação de alquimia”, em que descobriram seu amor em comum por artigos têxteis raros, tecidos de arquivo e estampas de chita. Tudo se encaixou perfeitamente – o Fromental colaborou com Reed em sua coleção outono/inverno 2024, Shadow Dance (Dança das Sombras), reaproveitando como tecido alguns opulentos papéis de parede vitorianos de seda; e, em maio, bordou um design arquivado de peônias para compor o visual de Demi Moore no Met Gala. “Usar papel de parede funcionou muito bem no nosso processo de design”, diz Reed. “A equipe estava muito preocupada com a fragilidade dos materiais, e porque alguns deles requeriam centenas de horas de um trabalho difícil com bordados e pinturas à mão. Mas, como alguém que gosta de trabalhar com silhuetas enormes e de extrapolar os limites de como as roupas podem ser usadas, eu encarei as peças mais como uma obra de Henry Moore, algo muito mais escultórico. O papel de parede foi incrível, pois me permitiu embrulhá-lo no corpo, manipulá-lo, usá-lo e fazê-lo mais escultural. Muitas vezes, com meus tecidos, tenho de fundir lona e crina de cavalo para dar-lhes mais estrutura. O mais legal com o papel de parede é que ele tem essa consistência, essa firmeza que realmente permite que as roupas e as esculturas se juntem. Então elas meio que deram vida uma à outra.”

Demi Moore com vestido Harris Reed no Met Gala 2024, foto de John Shearer, Getty Images

De acordo com Reed, a parceria é um testemunho “do etéreo e do material” e daquilo que podemos colher ao olhar para o passado. Ele me conta que seu processo de design se origina de experiências táteis; a ênfase criativa na colaboração foi baseada em materiais esotéricos de deadstock. “Era basicamente qualquer coisa que a gente encontrasse”, revela. “Eu sabia que queríamos brincar com cores. Eu sabia que eu queria brincar com texturas. Eu estava mesmo atraído por peças bastante bordadas, cenas bucólicas, coisas que tivessem pássaros e animais. Podemos usar papel de parede velho e dar-lhe uma vida nova, e o Fromental realmente nos permitiu fazer isso.”

Harris reed e modelos no desfile primavera/verão 2025 em londres, foto de Jason lloyd-evans

Em telas tão grandes, o modus operandi de Harris Reed – maximalismo, romantismo, teatralidade, fluidez – é perfeitamente contrabalançado pelo trabalho delicado e ornamentado do Fromental. “A parceria reflete um compromisso com a artesania, uma atenção aos detalhes e um profundo respeito pelos materiais com que trabalhamos. Também personifica a ideia de que a verdadeira criatividade muitas vezes vem do encontro de mentes e conceitos diferentes”, diz Butcher.

A experiência em comum de Butcher e Deshayes com moda e artigos têxteis – a dupla tem no currículo a criação de tecidos pintados à mão para designers e estilistas como Oscar de la Renta, Matthew Williamson, Christina Kim e Gilles Mendel – é visível. “Nossa jornada e visão inicial para papéis de parede foram profundamente influenciadas pela moda. Casar o setor da moda com a vastidão do de interiores, criando algo que é ao mesmo tempo intimista e grandioso”, define Butcher. “Tecido e papel falam a mesma lín- gua que textura, estampa e cor. Voltar ao ponto de partida e trazer para essa coleção 20 anos de experimentações foi uma celebração e um reencontro.”

Harris reed outono/inverno 2024, foto de Jason lloyd-evans

Em setembro, Reed e o Fromental fizeram mais uma parceria, na coleção primavera/verão 2025 do estilista, com retalhos de seda pintada à mão que cobriam as exageradas bordas externas das roupas. Há uma clara conexão de ideias entre o trabalho do estúdio e as fabricações pessoais de Reed: um desejo de não negligenciar a história, nem de repeti-la, mas, em vez disso, de permitir que histórias esquecidas sejam recontadas. “Quando você joga com a história e a respeita, mas se apropria dela, vem junto algo muito especial. É a coisa mais criativa e mais imaginativa que existe”, diz Reed. “Isso reflete o fato de que estamos num negócio fundamentado em sustentabilidade, fluidez e extravagância. Foi incrível para mim poder dar uma segunda vida a algo, mostrar que a sustentabilidade pode ser linda, buscada e digna do Met Gala. O tempo e o amor e o esforço e a consideração e o processo que o Fromental aplica nos seus papéis de parede estão totalmente alinhados com o que queremos pôr nas nossas peças. Juntar essas duas visões é simplesmente muito especial.”

Pergunto a Reed o que ele vê no horizonte – uma incursão pelo mundo do design de interiores, talvez? “Já recebemos propostas incrivelmente empolgantes”, conta. “E, a meu ver, o setor de interiores é uma grande parte de como eu vislumbro o crescimento da marca Harris Reed. Não estamos apenas criando roupas; estamos criando um mundo. Para mim, é um grande passo adiante. E, pois é, acho que é apenas o começo.”

Papel de parede Kiku, de seja Meij, do Fromental, em ambiente concebido por lucy doswell, foto de read McKendree, cortesia do Fromental.

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