Chanel: qual a história da peça mais icônica da maison?
A jaqueta de tweed da Chanel foi capaz de atravessar gerações e se reinventar como um item indispensável do guarda-roupa
Poucas peças de roupa são tão emblemáticas como a jaqueta de tweed da Chanel. Ao perceber o vestuário feminino da década de 1950 muito restrito, Gabrielle Chanel desenhou a jaqueta de tweed com uma sofisticação casual, tornando-a flexível e funcional ao mesmo tempo.
Inspirada na elegância descontraída dos homens que entraram em sua vida, em particular, o duque de Westminster, ela transgrediu os códigos de alfaiataria de sua época, escolhendo materiais que priorizassem o conforto.
O tweed é um tecido mais robusto feito de lã, originalmente produzido na Escócia. Seu nome deriva da palavra escocesa tweel, que significa “tecido cruzado”, provavelmente influenciado pelo Tweed, um rio que flui entre a Inglaterra e a Escócia. Gabrielle foi a primeira estilista a usá-lo no vestuário feminino na década de 1920. Desde então, reinventado a cada temporada, o material aparece em todas as coleções de alta-costura e prê-à-porter da grife. “Fui eu quem ensinou os escoceses a fazer tweeds mais leves”, afirmou ela em certa ocasião.
Gabrielle inventou a jaqueta de tweed, e Karl Lagerfeld lhe deu uma nova vida. Como diretor criativo da grife, a partir de 1983, ele reinterpretou a peça com audácia e humor, capturando o zeitgeist e os desejos das mulheres como ninguém mais poderia.
Karl combinou a jaqueta com bermuda, maiô e vestido de noiva. Produziu a peça em uma variedade infinita de tweeds: adornados com lantejoulas, miçangas, penas, feitos com tecido com tiras de tule, organza, chiffon, renda, jeans e couro. Ele trabalhou as proporções, alterando o comprimento, o volume, a extensão dos ombros, sempre incentivando os ateliês especializados da marca a assumir desafios – um fato interessante é que a Maison Lesage, famosa por seus bordados, é também a responsável por produzir os tweeds que a Chanel usa em suas coleções desde 1998.
Certa vez, Karl disse que “há algumas coisas que nunca saem de moda: jeans, camisa branca e uma jaqueta Chanel”. Em 2012, prestou homenagem à peça com o livro The Little Black Jacket: Chanel's Classic Revisited, no qual diversas celebridades, da atriz Uma Thurman ao cantor Kanye West, foram vestidas com a peça icônica e fotografadas pelo próprio Karl.
Em seu desfile de estreia como nova diretora criativa da marca, no cruise 2019/20, Virginie Viard deu um destaque maior às jaquetas de tweed, reforçando os códigos da grife de maneira contemporânea e ultradesejável. Ela reformulou a peça com uma delicada modernidade numa infinidade de proposições: com dois, quatro ou seis bolsos, com ou sem gola, ombros macios e arredondados, cortada curta ou longa, amarrada com uma corrente entrelaçada com couro. Da ideia à concepção, de coleção em coleção, a jaqueta Chanel nunca deixa de tecer sua bela história.