Moda

Nicolas Ghesquière: uma década como diretor criativo da Louis Vuitton

Nicolas Ghesquière valorizou o DNA da marca, engatou vários sucessos e se estabeleceu como nome forte da moda contemporânea

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Look da coleção outono/inverno 2014-15 - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Em uma década como diretor criativo da Louis Vuitton, Nicolas Ghesquière valorizou o DNA da marca, engatou vários sucessos e se estabeleceu como nome forte da moda contemporânea. Confira os destaques!

No dia 5 de março deste ano, o desfile outono-inverno da Louis Vuitton ocupou o Cour Carrée no Louvre, encerrando a semana de moda de Paris. Eram o dia e o local exatos da estreia de Nicolas Ghesquière em 2014 como diretor da marca que lidera o imaginário popular como sinônimo de luxo – em 2023, a Louis Vuitton tornou-se a primeira marca a ultrapassar os 20 milhões de euros. Os 4 mil convidados do show, sendo a metade formada por funcionários da grife, foram recebidos com uma nota datilografada – repetindo o gesto de seu primeiro desfile LV – na qual o estilista recordava a “imensa alegria” que sentiu quando assumiu o cargo.

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Look da coleção outono/inverno 2024-25 - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Seu compromisso inicial de construir o futuro preservando o DNA tem sido cumprido de maneira criativa, com o famoso monograma e as iniciais LV decorando desde itens clássicos até ousadias fashionistas. O baú, grande ícone da grife, virou a bolsa Petite Malle já na sua estreia e, nesta nova coleção, estampa look e bolsa com corte gráfico lembrando o formato da mala. É o baú a origem da construção do espírito do viajante, que embala o lifestyle e várias ações da marca. No desfile comemorativo, essa atmosfera fazia conexão com uma vasta estufa futurista em forma de globo, iluminada por 13 enormes lustres, criada pelo artista visual Philippe Parreno e pelo designer James Chinlund. A estética de olho no amanhã, como em um filme de ficção científica, ainda que comumente se assemelhe mais ao visual minimalista, na Louis Vuitton dialoga perfeitamente com o gosto do diretor criativo pela opulência, tanto nas roupas quanto nos acessórios.

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Bolsa com padrão monograma e interferência artística de Sun Yitian do pre-fall 2024 - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Com contrato renovado no fim do ano passado, Ghesquière ressalta que o primeiro capítulo de sua jornada na marca francesa esteve focado em definir uma nova identidade baseada na herança cultural e estética da marca e no foco em inovação. “Em particular, tive o privilégio de aproveitar o talento e a experiência da Maison e das suas equipes para desenvolver novos códigos”, diz ele, ressaltando que esse é um caminho que pretende continuar explorando: utilizar elementos icônicos da grife transpondo-os para o contexto da moda. “Dando a eles um caráter distinto, criando uma nova forma de compreendê-los”, ressalta.

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Look do pre-fall 2023 - Foto: Louis Vuitton.

Ghesquière nunca teve uma marca que levasse seu nome, entretanto, criou um estilo particular e influente no vestuário contemporâneo. A jornada desse franco-belga na moda começou cedo. Aos 15 anos, já estava em programas de estágio. Em 1991, se tornou assistente de Jean Paul Gaultier e quatro anos mais tarde entrou para a Balenciaga, onde virou diretor criativo em 1997. Foi então que suas silhuetas esculpidas, futuristas e “parisian chic” ganharam holofotes e lhe renderam prêmios: Designer Internacional pela CFDA, uma das cem pessoas mais influentes pela revista Times, Chevalier des Arts et des Lettres pelo governo francês, Fashion Innovator pelo Wall Street Journal e estilista internacional do ano pelo British Fashion Award – os dois últimos concedidos no fim de 2014, um ano após ter sido contratado pela Louis Vuitton.

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Bolsa geométrica do pre-fall 2023 - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Seu gosto pelo futurismo aproximou a Louis Vuitton da tecnologia. Desde a utilização da personagem Lightning de Final Fantasy como modelo virtual em campanha com curadoria dos fotógrafos Jurgen Teller e Bruce Weber em 2015 até a coleção cápsula de skins para a True Damage, banda virtual do jogo League of Legends, em parceria com a Riot Games no fim de 2019 e a pesquisa de novos materiais. No ano passado, foi lançado o projeto VIA Treasure Trunk, um baú digital projetado como um soulbound token (SBT) que permite aos proprietários da arte desbloquear criações inéditas da Maison e ainda viver uma experiência phygital a partir do acesso exclusivo ao equivalente físico do baú. 

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Look outono/inverno 2024-25 - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Ghesquière também usou realidade aumentada para incrementar a colaboração com Yayoi Kusama, cobrindo marcos icônicos como a Torre Eiffel e a Estátua da Liberdade com as famosas bolinhas da artista, e deu a gadgets linguagem de moda para os fãs da Louis Vuitton: fones de ouvido em estojos de luxo e caixa de som decorados com o monograma.

Se Marc Jacobs deu caráter pop à marca francesa criada em 1854, é visível que em uma década no comando criativo, Nicolas Ghesquière a posicionou fortemente dentro dos movimentos do século 21 por suas experimentações, jogos ousados de proporções, pesquisa de materiais, gosto pela inovação e conexão com os rumos da sociedade – na coleção primavera/ verão 2021, estampou uma camiseta com a palavra “Vote” e no outono/inverno 2024/25, incluiu um chapéu que lembra orelhas de gato, usado pelas mulheres americanas em reação aos comentários sexistas e misóginos de Donald Trump, por exemplo. Que venha mais uma década.

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O diretor artístico da Louis Vuitton, Nicolas Guesquière - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

OS NOVOS CLÁSSICOS 
POR NICOLAS GHESQUIÈRE

Petite Malle

“O momento que melhor expressa o contato com os arquivos da marca foi o da criação da Petite Malle, quando a questão era como transpor o baú, o símbolo da Maison por excelência, em uma bolsa. Atualmente, o baú não existe mais como uma necessidade para viagens, é uma questão de proporção. A Petite Malle se encaixa perfeitamente na escala da vida moderna. Eu quis manter o conceito dos baús, entretanto, trazendo-o ao século 21. Procuramos baús icônicos como o de equipamentos fotográficos de Albert Kahn, ou o de Helmut Lang. Esse é um caminho que pretendo continuar a explorar, utilizando elementos icônicos da marca e transpondo-os para o contexto da moda, dando-lhes um caráter distinto e criando uma nova forma de compreendê-los.”

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Petite Malle - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Twist

“O que me fascinou enquanto eu estava mergulhado na história da Vuitton foi a impressionante riqueza de sua herança. Além disso, me impressionou os momentos em que encontrei algo, um dia criado, que correspondia às minhas ideias atuais. Isso é muito empolgante para um designer; quando a tradição coincide com um impulso criativo. Esse território de infinitas possibilidades é flexível e nele posso gerar transformação, até mesmo perturbá-lo ou transgredi-lo, como numa alteração sutil do padrão do couro Epi, por exemplo. Aí se encontra a Twist, com sua alça que pode ser ajustada para o momento dia e para o momento noite. A história começou em 1988 com a pochette Trapeze e seu delicado fecho, que brincava com duas letras “V” para criar a assinatura LV. Seu design tem muita personalidade, é ao mesmo tempo moderno e atemporal."

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Twist - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

GO 14 (Ghesquière october 2014)

"O trabalho do couro e o fecho Twist LV expressam luxo atemporal. A Go-14 é parte de uma emblemática linha de bolsas com correntes desenhadas para servirem tanto ao dia quanto à noite. Em outras palavras, é um ícone fashion. Ela reinterpreta o Malletage, técnica presente nos forros dos icônicos baús do passado. Eu sempre me pergunto: o que as mulheres à minha volta querem usar? Estou cercado por muitas mulheres e simplesmente as ouço. Coleto então um pouco do que cada uma diz e mixo entre si."

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GO 14 (Ghesquière october 2014) - Foto: Louis Vuitton / Divulgação.

Archlight

"Hoje estamos andando de tênis e achei que seria bom combiná-los com peças prêt-à-porter extravagantes. O que pode ser melhor do que misturar com roupas do século 18 da França e da Grã-Bretanha? Era aquela coisa de anacronismo com uma pitada de romantismo.”

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Archlight - Foto: Louis Vuitton.

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