Moda

Paula Rondon e seu olhar vintage sobre a moda

À moda! Das primeiras a apostar com força no mundo do upcycling contemporâneo, Paula Rondon segue exercitando seu olhar vintage

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FOTOS GILBERTO FRANÇA / DIVULGAÇÃO

Palavra-chave indispensável na moda do século 21, o upcycling evoluiu rapidamente ao status de commodity. Uma alternativa mais humanizada e sustentável de produzir novas roupas a partir de material preexistente, esse viés de pensamento é, no fim de 2024, tanto forte expressão artística para jovens designers como chance de reposicionamento (ou possível greenwashing) para empresas estabelecidas.

No cenário brasileiro, não faltam iniciativas que adotem o mote do “in with the old”. Como Paula Rondon, uma das pioneiras a trazerem um olhar forte de moda para esse universo recente. Já experiente no mundo vintage ao tocar o B.Luxo desde o começo dos anos 2000, a marca própria surgiu há quatro anos. O que começou como uma reinvenção pós-quarentena para dar vazão a uma coleção de tecidos antigos garimpados pelo mundo acabou se firmando como fonte de design podero- so, com uma clientela fiel que devora os drops mensais de peças únicas produzidas em esquema de ateliê.

“Muita coisa mudou nesse tempo, consegui aumentar a produção e manter a ideia desse universo criativo que é bem meu”, conta Paula, que vê um público cada vez mais interessado. “Fui abrindo esse caminho para mim, mas hoje é um cenário bem mais amplo. A vantagem é que, com mais gente trabalhando o upcycling, o olhar da consumidora vai mudando e se acostumando. Elas ficaram mais receptivas, é um público que entende a história e o valor do trabalho. É um alívio saber que, na moda, não há só a consumidora que atende ao frenesi da Shein.”

FOTOS GILBERTO FRANÇA / DIVULGAÇÃO

No repertório da criadora, a matéria-prima preciosa dá vazão a peças amplas – majoritariamente vestidos –, com um mood que é romântico e lúdico, mas não cai no visual da menina boba. “Acho que consigo trabalhar bem as misturas de materiais e texturas, há uma criação que parte muito do material e depende muito do que tenho disponível”, diz, orgulhosa do acabamento precioso que passa longe do overloque. “Eu até nem digo que faço tanto upcycling, pois não estou ‘dando um up’ em uma peça pronta, como se vê muito. Construo a peça do zero, o que dá muito mais trabalho do que customizar um blazer, por exemplo.”

Com uma paixão quase fetichista por tecidos antigos, Paula tem os seus padrões. “Tento priorizar tecidos produzidos, no máximo, até os anos 1990, sempre com bordados ou es- tampas. Mas a maioria dos com que trabalho é dos anos 1960. Arrematei há um ano o acervo de um brechó que fechou, com um monte de pedaços e rolos de tecidos daquela época. Consigo algumas pérolas nesse caminho, mas não é fácil. Ainda mais agora, que a demanda foi aumentando”, conta. “Compro muito no Brasil, tenho o meu acervo. Mas seja por aqui ou quando viajo, buscando tecidos diferentes do que estamos acostumados, as fontes estão ficando mais escassas – e mais caras.”

Em paralelo, o exercício estético já deu filhotes em uma série de acessórios hit (também apegada às antiguidades), um drop masculino recém-lançado e uma linha de peças de náilon (essas, com material novo) que ela chama de utilitárias – mas ao seu modo, sem perder a moda. “Virei a louca da academia e tenho usado muita roupa esportiva, então senti uma necessidade de peças mais práticas para o cotidiano da metrópole”, explica, divertindo-se: “Não saio do universo da marca. O meu básico para a academia pode ser um short balonê ou uma jaqueta de manga bufante”. Identidade forte é isso.

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