Moda

Sustentabilidade e inovação: A jornada de Rogério Vasques na moda

Órbita baixa! Discreta e apostando na construção de ateliê, Maison Revolta leva sustentabilidade possível para desfile em Moscou. 

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Fotos: MOSCOW FASHION WEEK / DIVULGAÇÃO

Por destino ou estratégia, eventualmente pode ser necessário atravessar o planeta para ganhar um crivo inesperado sobre o que se acredita. Que o diga Rogério Vasques, criador da Maison Revolta, marca brasileira da vez a ser convidada para desfilar na última temporada da Moscow Fashion Week, em outubro.

“Foi impressionante a receptividade, muito mais do que calculava. Percebemos que há um interesse muito grande sobre o Brasil e, especialmente, sobre as matérias-primas com que trabalhamos”, conta. A coleção, criada especialmente para a semana de moda russa vocacionada a impulsionar criadores dos Brics, aludia à vida da cosmonauta soviética Valentina Tereshkova – a primeira mulher a viajar ao espaço, em 1963.

Estilista paraense radicado em São Paulo, Rogério tem inclinação aos bastidores. Antes de criar a marca, que completou dez anos em 2024, ele se formou pelo Instituto Francês da Moda antes de passar cinco anos como assistente de Karl Lagerfeld e, na sequência, trabalhar com Nicolas Ghesquière nas suas últimas temporadas à frente da Balenciaga. Em ambas as casas, era o responsável pelo desenvolvimento das peças de couro – paixão antiga que, malas feitas de volta ao Brasil em 2013, ainda é o cerne da sua Maison.

“Revolta tinha sentido de retorno, mas, também, de não fazer nada em relação ao normal. Buscar produzir uma moda com qualidade, de acordo com o que acredito, e com ideais”, define. “Não sou o tipo de estilista que está nos lugares, não sou da mídia. Prefiro o ateliê, a construção, lidar com a matéria-prima, o contato com as clientes pelo país. Esse boca a boca é o que fez a Maison Revolta ser reconhecida.” O desfile russo, em plena Praça Vermelha, ajudou a coroar o que classifica como uma nova fase da marca.

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Esse ponto de reset animado, porém, não deixa para trás o que traduz como seus pontos fortes – a obsessão pela roupa bem-feita (“sou psicopata por um bom caimento”) e o couro xodó, de maneira que é só sua. “Ainda na Balenciaga, entre os mil testes que fazíamos, comecei a raspar o couro para tentar chegar a um stretch manual, diferente do couro com stretch que existe por aqui, que é mais pesado”, diz. “A minha técnica permite que ele ganhe essa elasticidade natural e ainda seja mais respirável no clima brasileiro.”

Consciente, não foge à discussão sobre o que classifica de “sustentabilidade possível”. “O assunto é essencial, mas não podemos escapar do contexto. O Brasil é o segundo maior produtor de couro do mundo, a indústria é muito forte”, conta, dando salves à realidade do país. “Essa questão é muito séria no Brasil, as pessoas não têm ideia. As leis são rigorosas, as empresas entenderam que é necessário. E o mundo está olhando de perto para como lidamos com isso, ainda mais antes da COP. Estamos muito à frente da Europa, por exemplo.” Na sua possibilidade de ateliê, frisa a importância do couro, que tem 100% da cadeia rastreável, assim como do algodão que utiliza, que vem da agricultura regenerativa. “É um trabalho em evolução, estamos no processo de diminuir os impactos que causamos. Mas sinto que trabalhar com pessoas que estão no caminho certo já é um avanço considerável para uma marca como a nossa.”

Na sua discrição, vai na contramão dos colegas que investem na comunicação com imagens estridentes e pouca conversa. “O público é carente de informação, a moda esqueceu que precisa falar. Acham que as clientes não se interessam pelos detalhes, mas não é verdade. Por isso considero esse tête-à-tête tão importante”, e decreta: “É preciso colocar no mercado a importância de entender o que se está vestindo”.

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