Fogo Lento! Confira uma entrevista exclusiva com Marina Ruy Barbosa
Marina Ruy Barbosa tem 24 anos, mas parece mais. Talvez por ter começado a trabalhar muito cedo – seu primeiro papel de destaque como atriz foi em 2004, aos 9 anos. Talvez por ter vivido muito intensamente nessas duas décadas – em 2016, foi apresentada à Paris Fashion Week e sua hashtag #gingertips viralizou. Em 2017, desfilou para a Dolce & Gabbana. No mesmo ano, lançou seu primeiro livro (Inspirações – Uma Seleção Afetiva de Reflexões e Poemas) e se casou com o empresário e piloto de corrida Alexandre Negrão, aos 22 anos. Hoje, sem dúvida nenhuma, é uma das influenciadoras mais poderosas de sua geração. Na entrevista a seguir, exclusiva para L’Officiel, ela fala sobre feminismo, casamento, padrões de beleza, paixão pela moda, competição entre mulheres, autoaceitação e o efeito das redes sociais.
L’OFFICIEL Você se casou bastante cedo. Como vê a onda de empoderamento feminino que estamos vivendo?
MARINA RUY BARBOSA Sim, casei jovem, uma decisão pensada e acertada. Uma escolha que faz de mim uma mulher completa, feliz e amada. Feminismo é poder escolher, não é uma onda. É um movimento crescente, um caminho sem volta, em busca pela igualdade de direitos, que salva mulheres e faz das sociedades lugares mais justos. Eu tento fazer a minha parte, das pequenas atitudes, no meu entorno de amigos, família e trabalho. E quando acho pertinente, dou voz à luta ao usar minhas redes e meu ofício.
L’OFFICIEL Considera o feminismo indispensável?
MARINA RUY BARBOSA A militância é importante, porque as conquistas de hoje foram conseguidas com luta, suor e inclusive sangue. É preciso respeitar essas mulheres precursoras. E ter consciência que tudo que temos até hoje foi porque alguma foi lá e nos deu direito. Temos que fazer valer essa luta, ecoar. Olhar para outras mulheres, acolher, abraçar. É uma construção. O mundo está mudando e é maravilhoso que estejamos fazendo parte disso. Exige atenção e vigilância. É aprender o novo e deixar para traz conceitos, pensamentos e comportamentos que reproduzimos por gerações e gerações. É fácil? Claro que não! Devemos desistir? Nunca!
L’OFFICIEL E a competição feminina?
MARINA RUY BARBOSA As redes sociais estão cheias de discursos perfeitos, feministas e de palavras positivas. Mas é uma pena que muito daquilo não venha para a vida prática. A competição é nociva, ninguém sai ganhando. Todas as mulheres perdem. Devemos combater, seja na conversa privada ou em grande escala. Cria animosidade entre amigas, colegas de trabalho. Atrapalha relações saudáveis.
L’OFFICIEL Há ainda muita luta para derrubar os padrões de beleza impostos às mulheres?
MARINA RUY BARBOSA Sim. A luta é necessária. E lenta. Mas isso não deve nos desanimar. O caminho é longo e árduo. Ainda há preconceito velado, ainda tem gente que faz da forma física de uma mulher um elogio ou uma depreciação. E tem gente que teme não se encaixar no politicamente correto e traz para baixo dos panos todo o pré-julgamento que segrega mulheres que estão “dentro” ou “fora” do padrão. Existe uma pressão muito forte para se manter muito magra. Eu mesma sinto isso, sendo que já sou magra. Há algum tempo, tirei os sisos e vindo de uma sinusite forte com muitos dias de antibiótico e óbvio que estava inchada. Tive um trabalho-evento e precisei ler muitos comentários maldosos (maioria femininos) sobre como eu não era “tão bonita” assim, como estava com o rosto deformado, blablablá.
L’OFFICIEL Sempre amou o próprio corpo?
MARINA RUY BARBOSA Acredito que sim. A autoestima é um exercício permanente. Precisamos achar o caminho do meio, de amor-próprio e autoaceitação. Claro, difícil achar uma mulher que não queira mudar um detalhe ou outro. Engordar, emagrecer, preencher, afinar, alisar, encaracolar. E tudo certo. Não tá feliz, muda! Mas não se maltrate, não se exija, não se mutile. Se ame.
L’OFFICIEL Qual sua relação com a moda?
MARINA RUY BARBOSA Eu amo moda. Sempre gostei. A moda está intimamente ligada ao meu trabalho como atriz. E, com o tempo, passei a fazer da moda mais um viés da minha vida profissional. E eu fui me encontrando. Claro, que jogue a primeira pedra quem nunca cometeu um erro, um exagero? Eu tenho uma lista. De um estilo mais clássico, que usei por muito tempo, comecei a me permitir ousar. E a me divertir com isso. Hoje em dia eu me jogo nos trabalhos, amo quando chegam propostas diferentes, quando posso criar imagens que surpreendem. Acho que a gente tem que usar a moda a nosso favor, para se expressar.
L’OFFICIEL Você se preocupa com a sustentabilidade?
MARINA RUY BARBOSA Sim! Não sou uma pessoa de excessos. Não sou muito consumista, roupa é para se repetir sim e pequenos gestos fazem a diferença. Desperdício está cada vez mais em desuso. E o bom que é que as gerações mais novas já chegam com esses conceitos mais presentes. Meu marido trabalha com energia eólica, tenho muito orgulho pois vejo o quanto é necessário para o futuro do planeta.
L’OFFICIEL Como você lida com as redes sociais?
MARINA RUY BARBOSA Estamos no meio de um processo. Muita coisa mudando, muito gente se reinventando. Gente que se expõe demais e gente que finge ser quem não é. Mas a regra do jogo é essa. É democrático, cada um sabe de si. Se é saudável, não é. Mas pode ser. Podemos encontrar essa medida. Eu tenho os meus momentos de detox, faço das redes um recorte do meu trabalho e de momentos da vida que me sinto à vontade de partilhar com as pessoas que gostam de mim e do meu trabalho. Como lido com os comentários? Não é fácil. Atrás de uma arroba e das fotos bonitas tem uma pessoa cheia de questões, que se chateia com ofensas, que se abate com racismo, que sofre com preconceito, que chora com injustiça... Lidar com mentiras, julgamentos, agressão... É ruim para qualquer um. Dói, machuca. Por isso, a vida real precisa estar preservada, ser de verdade mesmo. E estarmos com quem amamos, fazendo o que nos completa e nos faz feliz. Relações verdadeiras de amor, cumplicidade, amizade e doação.