Pop culture

Jessica Chastain e sua moda interpretada

Jessica Chastain passou a última década construindo uma carreira que a maioria leva uma vida inteira para conseguir. A seguir, ela conta como veste seus personagens. Confira!

face person human female skin

Apesar de toda a atenção que atraem no tapete vermelho, as celebridades muitas vezes podem não dar tanta importância às roupas que vestem na vida real. Para a camaleônica atriz Jessica Chastain, a moda é um verdadeiro deleite que representa um veículo para a expressão pessoal e também uma oportunidade de expansão interna. É como a música, disse ela em uma manhã de verão. É uma arte que pode ser usada de várias maneiras. “A moda me faz sentir coisas diferentes constantemente”, fala. “Ela abre outras partes do meu eu.” É essa perspectiva que fez ser evi- dente a escolha de miss Chatain para ser clicada usando modelos de várias décadas nesta publicação centenária da L’Officiel.

Quando voltou de Cannes, tinha completado dez anos do lançamento de seu aclamado filme de início da carreira, The Tree of Life (A Árvore da Vida), dirigido por Terrence Malick, momento em que conversou com a L’Officiel: “Minha carreira no cinema completa uma década agora, o que é chocante”, fala ela, o que soa como verdadeiro no sentido de que em pouco tempo Jessica fez muito, construindo uma trajetória brilhante. Para ter uma ideia de sua versatilidade como atriz, é preciso considerar dois projetos que estão estreando neste mês: a biografia de Michael Showalter, The Eyes of Tammy Faye, no qual Chastain se transforma em uma emotiva e escandalosa evangélica, e a adaptação de Hagai Levi do filme de Ingmar Bergman de 1973, Scenes From a Marriage (Cenas de um Casamento), para a HBO, no qual mostra uma relação em crise.

Chastain fala com a L’Officiel sobre como vencer seus medos e seu profundo sentimento pela moda e o que a mantém lutando pelos direitos iguais das mulheres dentro e fora de Hollywood.

clothing apparel person human flooring female dress floor woman

L’OFFICIEL: Eu vi os dois primeiros episódios do Scenes from a Marriage disponível para os críticos, e The Eyes of Tammy Faye, e parabéns por ambos, são maravilhosos – e inacreditavelmente diferentes – projetos e performances. O que atrai você em um papel?

JESSICA CHASTAIN: Bem, isso depende. Às vezes, o que me atrai em um papel é quem está trabalhando nele. Mas frequentemente me interessa se a personagem é algo que nunca fiz antes e me desafia. Também me motiva sentir que posso contribuir com alguma coisa positiva para o mundo. Posso não interpretar uma pessoa boa, mas ser positiva no sentido de quebrar estereótipos de gênero ou ampliar uma conversa. Sempre me perguntei: “Estou contribuindo com a sociedade?”.

L’O: Você sempre achou isso? Ou foi algo que começou a pen- sar quando entrou para a indústria do cinema?
JC: Nunca pensei muito a respeito. No início da carreira, você está apenas feliz de ter sido escolhida. E então ela começa a se desenvolver e crescer, e, nesse momento, sim, no lugar de ficar contente por ter sido escolhida você pode se dar o prazer de escolher. E começa a entender que seu poder vem das escolhas que faz. Quando fiz Zero Dark Thirty (A Hora Mais Escura), com Katryn Bigelow, vi as perguntas que estavam sendo feitas e a diferença entre como a indústria lida com ela e com um diretor masculino. Também vi como as pessoas se prendem ao estereótipo da minha personagem, o que é realmente desapontador para mim. Mas agora compreendo que um filme pode ser um ato político. Isso me despertou um desejo de escolher projetos que criam algum tipo de debate na conversa, representando seres humanos reais.

L’O: Foi isso que a levou a fazer um filme sobre Tammy Faye Bakker?
JC: Acho que foi no circuito de premiação para o Zero Dark Thirty (A Horta mais Escura), quando as pessoas começaram a me perguntar o que queria fazer depois. O documentário de Tammy Faye estava passando na TV, eu assisti e pensei: “Uau, parece um papel inacreditável”. O canto, a pregação, tudo sobre ela. Era tudo tão completo – e sobre corrigir um erro. Foi tão desagradável como ela foi tratada pela mídia. O fato de ter sido desprezada por causa de sua maquiagem e de suas roupas, sua aparência, em vez de escutar o que ela dizia sobre amor, religião, sobre os cristãos e como o cristianismo deveria ser; como ela conseguiu alcançar e realmente levou amor a todos aqueles que se sentiam abandonados; como ela foi transformada em piada. Isso partiu meu coração. Mesmo agora, quando você menciona o nome dela, tem pessoas que dizem: “Ah, sim, ela está cantando e tem o rímel escorrendo pelo seu rosto”. Gastei mil horas estudando quem era ela. Assisti a todas as filmagens que pude encontrar e não vi em lugar nenhum, nem uma só vez, seu rímel escorrendo. Acho que isso ficou na cabeça das pessoas por causa da mídia – as apresentações satirizando e todos zombando dela. Quero que as pessoas conheçam a verdade.

 

clothing apparel evening dress fashion gown robe person human female furniture

L’O: Falando sobre a maquiagem, a incrível transformação, as unhas imensas – a forma como você abre as latas de Coca Diet com a lixa de unha, no filme, responde a muitas perguntas para mim.
JC: Sei fazer isso porque minha mãe tinha aquelas unhas. Logo que cheguei no set, pensei: “Preciso abrir uma dessas. Alguém tem uma lixa de unha?”. Minha mãe sempre tinha uma lixa de unha na bolsa, e ela a usava para abrir suas latas de refrigerante.

L’O: Você passou muitas horas na cadeira para a maquiagem?
JC: Sim. E não pretendo repetir a dose. Foi fonte de muita ansiedade para mim. Tive embolia pulmonar há alguns anos e, quando entro em um avião, sempre penso em como preciso ser cuidadosa para não ter coágulos de sangue. Sentada lá, na primeira semana de trabalho, pensei: “Oh, meu Deus, é como se eu cruzasse o país de avião todo dia”. Era preciso ficar muito estática. Tive de usar meias de compressão nas pernas. No primeiro dia de filmagem, eles foram me buscar às 3h30 da manhã. Mas logo comecei a pensar em como transformar tudo isso em algo positivo. E assisti a Tammy Faye por pelo menos quatro horas toda manhã. Andrew (Garfield, que interpretou Jim Bakker) estava lá e trocávamos ideias sobre o que iríamos fazer naquele dia. Eu a assisti, eu a escutei, tinha comigo uma seleção de áudio somente com sua voz, e, quando fechava os olhos para colocar as próteses e a maquiagem, eu a escutava e repetia depois dela. Tinha uma longa estrada pela frente todos os dias. Ora estava me preparando, ora estava atuando. Quando fui fazer o primeiro teste com toda a prótese, tive uma espécie de ataque de pânico. Você começa a transpirar e seu coração bate mais forte, e tudo faz com que você se sinta pior, porque sua pele não pode respirar, e você não pode tirar tudo, porque pode arrancar sua pele...

L’O: Você sozinha fez toda a sua parte musical no filme?
JC: Sim! Isso foi outra coisa. Estava realmente com medo. Digo, cantava no colégio, mas nada perto disso. E Tammy Faye é uma cantora sem medo. Ela não teme sua visão de moda nem do seu amor – ela é um estrondo. Tem um vozeirão, canta para Jesus! Quando fui fazer uma pré-gravação com Dave Cobb (que produziu a música para A Star Is Born), com quem, aliás, estava bem contente de trabalhar, fiquei apavorada. Apareci com uma garrafa de uísque e bebi durante os dois dias enquanto cantava. Dave é um tipo de produtor muito esperto: ele subiu as notas em um nível mais agudo no segundo dia. Disse: “Vamos refazer tudo, desde o início”. O quê?!? “Você está cantando como se fosse fácil. Faye, quando canta, vai além. Preciso que você dê toda a sua energia nessas músicas.” E foi o que tivemos no filme. Você me ouve no máximo a cada canção.

 

clothing apparel person human gown fashion robe

L’O: Você é a capa da publicação do aniversário de 100 anos da L’Officiel. Tem algum look favorito?
JC: Realmente gostei do casaco de pele branco com chapéu branco. Pele falsa, é claro. O look saiu de uma foto dela que dei para Mitchell Travers, nosso figurinista. Eu disse: “Mitch, temos de recriar esse look”. Também gostei dela nos anos 1990. Adorei sua jaqueta vermelha com forro de leopardo. Foi uma forma de honrá-la.

L’O: É bom quando um personagem gosta de moda, não?
JC: Exatamente! O que pode estar errado nisso? Tenho um problema com as pessoas que culpam as mulheres por terem várias cores de um sapato ou muitas roupas. Deixe a pessoa ser fabulosa, que se expresse da maneira que quiser. Se quiser colocar meio quilo de maquiagem, deixe que faça. Se quiser usar asas, deixe. Adoro moda e glamour como forma de autoexpressão.

L’O: Você esteve no superglamouroso tapete vermelho de Cannes. Isso foi algo de que sempre gostou ou é apenas parte do trabalho?
JC: Sempre. Cresci com avó e mãe glamourosas – falei para você sobre minha mãe e suas unhas e sua lixa. Gosto de moda porque – e isso é uma coisa esquisita de falar – sou muito sensível e posso ficar superestimulada. Meu marido me provoca sempre a esse respeito, porque escolhi uma carreira que me coloca cercada de pessoas. Mas, se há muito barulho, se tem muita energia, às vezes preciso me sentar em um lugar calmo por um tempo. Sou bem aberta e fechada ao mesmo tempo. Sinto a energia do que estou vestindo. Se estou vestida de branco e meus cabelos têm tranças, se estou usando minissaia ou o que quer que seja, eu percebo e isso me ajuda de alguma forma. Realmente gosto de me vestir e ir ao tapete vermelho, em Cannes. Não sei como descrever, mas cada roupa que tenho a oportunidade de vestir me faz me sentir uma mulher diferente.

L’O: Você se sente atraída por algum estilo em particular? Sinto que todas as matérias que leio sobre você remetem a Botticelli.
JC: Eu gosto disso. Gosto da história da moda. Gosto de usar um espartilho, gosto desses looks clássicos. Não sou uma figura estática, não experimento o tempo todo coisas novas. Experimento, sim, mas não sou louca por isso, e estou tranquila. Gosto de mostrar que tenho curvas no meu corpo, isso me dá prazer, mas o estilo andrógino me atrai, às vezes, também. Um estilo que não gosto é o de vovó chique.




clothing apparel evening dress robe gown fashion person human dress

L’O: Qual foi sua abordagem para fazer Scenes from a Mar- riage, em 2021? Você revisitou o filme original de Bergman ou quis ficar longe dele?
JC: Oscar (Isaac) e eu definitivamente revisitamos o filme. Foi importante assisti-lo e ao mesmo tempo foi libertador, porque muita gente pode se perguntar qual foi o motivo de refazer um filme de Bergman. Também porque Liv Ullman é uma das melhores atrizes que já existiram. Isso sei não só porque assisti a todos os seus filmes, mas porque trabalhei com ela, quando me dirigiu. Sei quem ela é e como é interessante. Não há nada que eu possa fazer melhor do que ela já tenha feito. O que me deu liberdade para refazê-lo, porque os gêneros foram trocados. Scenes from a Marriage, de 1970, é incrível porque é realmente um retrato dos casamentos da época: isso é a feminilidade, isso é a masculinidade. E agora pegamos isso e, ok, o que vamos falar sobre o casamento hoje em dia? O que significam hoje esses conceitos? O que é ser mãe e o que é ser pai e quais são as expectativas dos papéis que temos de interpretar? Adoro o original, Oscar e eu estudamos o filme em termos dos temas maiores, mais complexos, mas, quanto à interpretação, não houve muita coisa. Faço um papel completamente diferente daquele que Liv Ullman interpretou, mas porque faço o papel do marido. Então, estudamos o original, mas deixamos fluir também.

L’O: Dessa vez, foi a mulher que estava no controle, dei- xando o marido por um homem mais jovem, em vez de ser deixada para trás.
JC: Isso acontece! Sempre aconteceu! Há muitos anos, na verdade. É o tema principal de Doll’s House (Casa de Bonecas). Não é sobre infidelidade, mas Nora deixa sua família. Esse papel existe há muito tempo. Então, é hora de deixar isso claro. Ok, as mulheres são de carne e osso e elas têm desejos e são complicadas exatamente como são os homens. Eles têm feito coisas não tão bacanas e muitas vezes egoístas. Precisamos entender que as mulheres são humanas também.

L’O: E em um de seus filmes de 2022, The 355 (As Agentes 355), vocês foram estrelas atuantes, o que é excitante. Existem outros projetos na mira?
JC: The 355 é com Penelope Cruz, Lupita Nyong’o, Fan Bingbing e Diane Kruger. Todas essas atrizes são proprietárias do filme, nós levantamos o dinheiro, nós mesmas, em Cannes. Vendemos os direitos de distribuição e todas nós ganhamos uma porcentagem do lucro. É o novo jeito de fazer as coisas. Fiz também The Good Nurse com Eddie Redmayne, que é divino, e estou prestes a filmar Tammy Wynette, com Michael Shannon interpretando George Jones. E quero apenas dizer, em resposta a sua primeira pergunta, sobre o que me atrai – uma das coisas é olhar para todas essas coestrelas. Ir para o trabalho todos os dias e trabalhar com gente assim. Quem sabe o que vai acontecer? Isso é muito importante para mim.

clothing apparel person human face female
clothing apparel scarf person human female
clothing apparel sleeve female person human long sleeve woman

Créditos
FOTOS Alexi Lubomirski
PRODUÇÃO DE MODA Laura Ferrara
CABELO: Renato 
MAQUIAGEM: Tyron Machhausen 
MANICURE: Julie
CENÁRIO: Jack Flanagan
PRODUÇÃO: Dana Brockman, Nathalie Akiya e Emily Ullrich
DIGITAL: Casanova Cabrera
ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA: Alexei Topounov, Diego Bendezu e Conor Monaghan
ASSISTENTE DE ESTILO: Amer Macarambon
ASSISTENTES DE CENÁRIO: Todd Knopke e Beau Bourgeois
ASSISTENTES DE PRODUÇÃO: Brandon Abreau e Patrick McCarthy

Tags

Posts recomendados