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Jessica Córes, atriz de ‘Fuzuê’, exalta o Dia da Consciência Negra

Jessica Córes, atriz de ‘Fuzuê’, reflete em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil sobre sua trajetória e a importância do Dia da Consciência Negra

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Foto: Gabbriel Cerqueira

Jessica Córes é uma mulher preta que tem se destacado em várias frentes da arte e da moda, um exemplo de resistência, superação e conquista. Aos 34 anos, a atriz e modelo, que começou sua carreira no universo da moda e logo fez sua transição para a televisão e o cinema, fala com orgulho sobre sua trajetória. Em um dia tão significativo como o Dia da Consciência Negra, Jessica compartilha com a L’Officiel Brasil suas reflexões sobre o papel da mulher negra no cenário atual, os desafios que enfrenta e como a arte se torna uma poderosa ferramenta de transformação social.

Com uma carreira consolidada e uma série de conquistas, como abrir desfiles importantes em Paris e São Paulo, além de protagonizar a série "Biônicos", Jessica, que também se prepara para estrear nos cinemas, revela sua visão sobre o impacto da representatividade na moda e no entretenimento. Em uma conversa que transita entre moda, beleza, bem-estar e consciência negra, ela reflete sobre a importância de representar novos modelos de beleza, o valor do autocuidado e o legado que deseja deixar para as futuras gerações.

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Foto: Gabbriel Cerqueira

L’Officiel Brasil- Você já trabalhou em diversos projetos na TV e no cinema, além de ter conquistado um protagonismo importante em "Biônicos". O que te motiva a buscar papéis tão variados e desafiadores?  

JC- Acredito que a carreira na arte já é desafiadora, ainda mais sendo um “corpo político” na arte e na sociedade.  Penso que buscar desafios dentro desse mercado de trabalho, gera uma recompensa muito maior do que só a visibilidade. Poder influenciar pessoas através da arte é enriquecedor e eu sei o tamanho da importância que é representar para os meus pares esse lugar.  O próprio filme nos ensina a importância do esporte, a importância do trabalho em família, as relações humanas. São momentos catárticos que a indústria proporciona ao público que dá sentido a tudo.  E claro, além disso, posso dizer que o desafio de ter participado de uma superprodução tecnológica também foi muito animador e uma grande realização no ofício, porque emanava desde sempre um dia fazer parte de uma produção como esta. E aconteceu!

L’Officiel Brasil- Sendo uma mulher negra que cresceu em um ambiente pautado no racismo e no patriarcado, como a sua vivência e história influenciam os tipos de papéis que você escolhe interpretar?  

JC- Bom, toda menina negra que cresce no nosso país se depara com diversas realidades que nos fazem querer desistir, e eu só tenho a agradecer a minha educação altruísta e feminista que me fazem enxergar a minha realidade e querer ser melhor a cada papel. Poder dar voz a novas narrativas é surpreendente e necessário. Principalmente em um cenário como o Brasil.

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Foto: Gabbriel Cerqueira

L’Officiel Brasil- Jessica, hoje, Dia da Consciência Negra, qual legado você gostaria de compartilhar para fortalecer as próximas gerações?

JC- Vai ser muito clichê, mas…acreditem nos seus sonhos, acreditem no seu potencial e acreditem no seu jeitão porque é isso que muitas vezes fará diferença.  Hoje eu sou o resultado do nosso passado. Quero que meu nome e sobrenome façam parte da mudança historicamente no audiovisual e espero manter as portas cada vez mais abertas e ser referência para as novas meninas que vierem.

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Foto: Gabbriel Cerqueira

L’Officiel Brasil- Como você enxerga a evolução da representatividade negra na moda e no entretenimento nos últimos anos, e o que na sua visão ainda precisa mudar?  

JC- Com certeza o mundo ainda precisa mudar muita coisa, mas é inegável o quanto esses espaços estão cada dia mais abertos para reconhecerem o trabalho, credibilizarem e remunerarem o legado africano na América. Na música isso já está consolidado, no rock, no jazz, no hiphop. Quase todos os estilos musicais de maior influência mundial vêm do povo negro. E isso vem sendo estendido para a moda, o Pharrel como diretor criativo de moda masculina em uma marca como a Luís Vuitton é o veredito final de avanço permanente na integração do povo preto nesses espaços. E se tem uma coisa que eu tenho certeza de que precisa mudar é a extensão da boa remuneração para toda essa galera que, mesmo com todos os empecilhos, não param de contribuir de maneira absurdamente criativa, moldando e ressignificando todo o mundo do entretenimento que até o momento só é passado pelo olhar do branco.

L’Officiel Brasil- No mundo da moda e do entretenimento, onde os padrões de beleza são tão rígidos, como você construiu sua autoconfiança e qual é a sua relação com a beleza hoje?   

JC- Eu por ser uma mulher alta e magra, desde sempre como qualquer modelo passei por momentos de não aceitação por ser alta demais ou magra demais. No meu caso ainda preta retinta foi mais difícil, falar que não mexeu comigo seria mentira. Só que, mais uma vez graças à minha criação, eu sempre soube me enxergar e me colocar no mundo, além de ter começado a trabalhar muito cedo modelando, o que também foi me norteando para encontrar a minha “beleza”. Foi na moda que descobri que até então a preterida do grupo, no caso eu, era uma linda menina e que de fato eu estava em lugares onde esse julgamento, apontamento não era de algo real. Me lembro bem daquela época em que não era escolhida.  Ufa, como o tempo foi generoso comigo e como é bom poder amadurecer. Hoje depois de todo o caminho percorrido, me acho a última bolacha do pacote ahahahahah e falo isso com convicção e segurança.

Descobri que o padrão é algo relativo, é libertador! E sem dúvidas a cada papel que tenho representado me sinto mais linda ainda e isso tem me fortalecido como mulher e como artista.

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Foto: Gabbriel Cerqueira

L’Officiel Brasil- Quais são os cuidados essenciais que você não abre mão na sua rotina?

JC- Eu prezo pela minha dieta, mas sem deixar de ser feliz, onde como de tudo, cuido da minha saúde mental, prático yoga e durmo bem, mas vou compartilhar o segredo para começar bem meu dia e sorridente. Comer brócolis, ovo cozido com sal, pimenta e azeite. Já com meu cabelo, gosto de mudar de penteado, amo a versatilidade que ele me dá.

L’Officiel Brasil- Qual peça ou acessório no seu guarda-roupa tem mais significado para você e por quê?

Para dizer a verdade eu não tenho apego emocional com nada em meu guarda-roupa. E nos últimos anos fui me desapegando de quantidade a ponto de caber tudo em uma mala de mão depois das inúmeras mudanças que fui fazendo entre São Paulo e Rio.

 

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Foto: Gabbriel Cerqueira

L’Officiel Brasil- O que significou para você abrir o desfile de uma marca brasileira em Paris e, logo depois, participar do São Paulo Fashion Week? Essas conquistas impactaram a forma como você se relaciona com a moda?  

JC- Assim que pisei no aeroporto de Paris eu rezei de verdade para desfilar para alguma marca já que estava na semana de moda tão desejada e não é que por conta de umas fotos que fiz para marca, a dona gostou e me fez o convite para abrir o desfile. Volto a dizer…é sobre acreditar em si e logo que voltei para o Brasil recebi uma mensagem de um dos estilistas da marca Ateliê Mão de Mãe para abrir o desfile.

A passarela foi a minha primeira escola, sempre sinto um frio na barriga a cada desfile mas, hoje sendo uma multiartista, me sinto reconhecida e valorizada. Afinal já estou no mundo do entretenimento há mais de 10 anos.

L’Officiel Brasil- A rotina de gravações, desfiles e eventos pode ser exaustiva. O que você faz para manter o equilíbrio e o foco?

JC- Quando falamos em autocuidado eu acredito que não existe uma separação entre beleza e bem-estar, então como eu disse, minha alimentação e saúde mental são muito importantes para eu conseguir lidar com tudo. Acreditem, eu não como pouco, mas sempre sigo uma alimentação que irá favorecer o trabalho que eu desemprenho. Além do exercício físico que também ajuda muito em momentos de tensões. É natural que você vá se acostumando e se adaptando dependendo do tipo de trabalho.

L’Officiel Brasil- Com tantos projetos e sonhos realizados, o que você ainda almeja para o futuro?  

JC- Minha lista de realizações é extensa, não tenho mais pressa para que as coisas aconteçam e não cobro o “tempo para que aconteça”. Agora no momento o que eu quero mesmo é rodar esse mundão mostrando minha arte, gravando em outros idiomas, em outros países…quero também deixar meu legado para quando eu não estiver mais aqui.

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Foto: Gabbriel Cerqueira

Fotografia- Gabbriel Cerqueira

Direção- Thiers Ferreira

Looks- Ateliê Roger Coutinho

Styling- Roger Coutinho

Assistência- Malak Machado

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