Pathy Dejesus e a força de sua história
Atriz, modelo, DJ e mãe, Pathy De Jesus abre um pouco de sua intimidade para compartilhar suas vivências únicas
Pathy Dejesus é a potência em pessoa. A atriz de 44 anos se consagrou nacionalmente através de seus trabalhos em projetos como Coisa Mais Linda (Netflix), Rua Augusta (TNT), Rotas do Ódio (TNT), Desnude (Sony) e tantas outras produções na teledramaturgia brasileira. Atualmente, Pathy está na Rede Globo na novela “Um Lugar Ao Sol”, das 21h . A personagem Ruth está balançado bastante a trama, que contém Cauã Reymond, Alinne Moraes e grande elenco.
Com a sua carreira em constante ascensão, a atriz e DJ é mãe de Rakim, de dois anos. A experiência com a maternidade transformou a vida de Pathy, que confessa que apesar de ser uma experiência intensa e reveladora, esse é um processo de altos e baixos. Em entrevista exclusiva ela nos conta um puco de sua rotina, conciliando todos os pequenos e grandes detalhes que a tornam uma mulher única.
L’Officiel: Quais são os maiores desafios em ser uma vilã de novela?
Pathy Dejesus: O exercício que faço com minhas personagens é o de nunca julgar pelo meu olhar, ou o que é moralmente aceitável. Para a construção de personagem acho essencial. No caso de uma vilã esse trabalho é ainda mais árduo. Vc pega uma cena e pensa “meu deus, por quê essa mulher está fazendo isso?” e pode travar todo um processo. Além disso, pra mim ainda foi difícil no começo receber críticas à conduta da personagem e não ficar mal rsrs. Me chamavam de Ruth e eu, poxa gente, sou a Paty rsrs.
L’Off: Como foi o processo de seleção para essa vilã em "Um Lugar ao Sol"? Teve algum receio com relação a personagem?
Pathy: Antes da Ruth eu fiz a Alceste em "I Love Paraisópolis". Agora para o "Um Lugar ao Sol", a Ruth está em um lugar diferente na vilania comparando com a outra personagem que fiz...tanto na sua personalidade, quanto na história que ela escolheu trilhar... e isso foi interessante construir. A Ruth é uma mulher focada, forte, é bem-sucedida na carreira, extremamente inteligente e determinada. Vejo o relacionamento dela com Túlio como mais um degrau para que ela alcance o que realmente deseja. Não tive nenhum receio quanto à personagem. Eu amo fazer o que faço, que é contar histórias através da minha arte.
L’Off: Existe algum tipo de personagem que não aceitaria fazer? Se sim, qual seria e por quê?
Pathy: Sou uma atriz que gosta de ser surpreendida. Eu quero sempre desempenhar bem meu trabalho, independente do perfil, da carga dramática ou cômica que tenha cada personagem. Mas, sobre um personagem que eu não faria, acredito que hoje em dia eu não toparia desempenhar um papel que pudesse acabar fortalecendo um discurso de racismo estrutural. Eu não teria problema, por exemplo, de realizar um papel de uma pessoa escravizada, desde que o projeto colaborasse com a verdade, com uma história escrita por uma pessoa negra, com profissionais pretos por trás do processo. Já passou da hora da gente ser porta-voz da nossa própria história, merecemos visibilidade e oportunidades relevantes na arte.
L’Off: Como foi se conectar com a história de sua personagem Adélia de "Coisa mais Linda"? Teve algum momento, dentro das lutas de sua personagem, que se viu passando pela mesma situação?
Pathy: Sim. Poderia passar horas falando da potência desse trabalho. Percebi que Adélia representa a batalha de muitas mulheres, em especial muitas das minhas ancestrais. Dar vida à Adélia mexeu muito comigo, antes, durante e depois do projeto pronto. Doeu muito. Também tinha um compromisso interno de honrar mulheres da minha família, minhas avós por exemplo, e tantas mulheres negras que vieram antes de mim, pra que eu tivesse a oportunidade de estar ali, inclusive. Sou grata e honrada por isso.
L’Off: Ser atriz demanda muita dedicação e foco, como concilia a vida como mulher, mãe e profissional?
Pathy: De fato, é necessário muito foco e dedicação. O trabalho é minha paixão e necessidade, não dá pra parar! Não me imagino fazendo outra coisa, se não a arte. Sou mãe solo, assumo todas as responsabilidades do dia a dia. E tem a Pathy mulher, que se curte, se cuida, namora, se diverte… para conciliar tudo isso, aceito ser a melhor dentro do que é possível. Mãe, profissional, mulher. Desenvolver um olhar mais generoso comigo é um exercício diário.
L’Off: Você consegue ter um tempo para si? O que faz quando consegue esse tempo?
Pathy: Sempre fui uma mulher que faz muitas coisas ao mesmo tempo. Arrumar um espaço para cuidar de mim, pra sair e desestressar é essencial para seguir fazendo tudo que faço sem deixar a peteca cair. Então, quando eu consigo, gosto muito de sair, beber, discotecar, ir pra praia, dar uma corrida, caminhar para a arejar a mente.
L’Off: Durante a pandemia houve muita introspecção que ocasionaram na mudança de hábitos, como foi pra você? Como avaliaria a Pathy antes e depois do isolamento?
Pathy: Os últimos dois anos foram mega intensos não só pelo isolamento, mas também pela chegada do Rakim, minha vida mudou muito! No começo da pandemia até tentei manter uma rotina, mas não deu muito certo. Graças a Deus tenho uma rede de apoio muito forte, que é a minha família e sem eles eu não teria dado conta. Foram eles que me deram coragem para enfrentar esse momento. Eles me ajudaram muito com o Rakim e nas gravações de “Um Lugar Ao Sol”. Minha mãe, inclusive, esteve ao meu lado nos primeiros meses. Pude voltar ao meu ofício, que era o que mais queria e precisava, e com meu filho junto. Acredito que sou uma pessoa completamente transformada após essa experiência.
L’Off: Sua carreira sempre envolveu a imagem, houve algum momento em que a insegurança te bloqueou de fazer algo?
Pathy: O começo da minha carreira foi voltado para inseguranças, afinal, eu estava furando uma bolha dentro do mundo da moda. Fui considerada a primeira modelo negra no São Paulo Fashion Week, também a primeira negra a fazer comerciais de produtos até então não direcionados ao público negro. De alguma forma sempre tive muita consciência sobre a questão da representatividade (ou falta dela) mas não entendia ainda que boa parte da minha insegurança vinha exatamente daí. Como atriz também me deparo com as mesmas questões de falta de representatividade. Tenho consciência de que em alguns momentos não era um bloqueio meu e sim que havia sido “bloqueada”.
L’Off: Como é sua rotina para conseguir manter o corpo saudável? Qual sua rotina de beleza? Pathy: Acho que desenvolvi cedo essa consciência de auto cuidado. Sempre segui rituais com o corpo, pele e meu cabelo, mas não chego a ser uma pessoa neurótica quanto a isso. Gosto de usar produtos para primeiros sinais de envelhecimento, um bom protetor solar, não dormir maquiada, manter a pele e o cabelo hidratado... Não dispenso as visitas ao dermatologista. Com o Rakim, eu tive que otimizar esses cuidados, dificilmente consigo fazer uma super rotina skincare, mas continuo fazendo. Sobre exercícios, é uma coisa que eu quero muito voltar a ter uma rotina de academia! Não me sinto uma sedentária sendo mãe de uma criança de dois anos de forma alguma, mesmo porque sou uma pessoa que estimula muito ele, ensino a jogar bola, corro com ele, danço, sabe? Logo voltaremos a nadar. Vamos combinar, a maternidade já é um corre, né? Em todos os sentidos rsrs mas uma rotina de exercícios eu sinto falta.
L’Off: Para muitas atrizes o envelhecimento não é visto com "bons olhos", como você lida com esse processo?
Pathy: Encaro o envelhecer de maneira leve, porém real. Acredito que nossa experiência nesse plano está muito além de nos manter sempre jovens fisicamente falando. Afinal, viver é isso, né? Claro que não é simples, tem toda uma carga sobre, a começar pela cobrança da sociedade que venera homens mais velhos mas não perdoa uma ruga feminina. Profissionalmente falando não muda muito, nosso prazo de validade enquanto mulheres é cruelmente encurtado. Mas, sigo minha busca constante do equilíbrio entre corpo e alma. Mudanças acontecem e não podemos fugir delas. É preciso se adaptar. Em contrapartida tenho um bebê de dois anos e rejuvenesci muito com a chegada dele. Voltei praticar meu lado juvenil para acompanhá-lo. Juventude também é estado de espírito.
L’Off: Durante a pandemia houve muita introspecção que ocasionaram na mudança de hábitos, como foi pra você? Como avaliaria a Pathy antes e depois do isolamento?
Pathy: Os últimos dois anos foram mega intensos não só pelo isolamento, mas também pela chegada do Rakim, minha vida mudou muito! No começo da pandemia até tentei manter uma rotina, mas não deu muito certo. Graças a Deus tenho uma rede de apoio muito forte, que é a minha família e sem eles eu não teria dado conta. Foram eles que me deram coragem para enfrentar esse momento. Eles me ajudaram muito com o Rakim e nas gravações de “Um Lugar Ao Sol”. Minha mãe, inclusive, esteve ao meu lado nos primeiros meses. Pude voltar ao meu ofício, que era o que mais queria e precisava, e com meu filho junto. Acredito que sou uma pessoa completamente transformada após essa experiência.
L’Off: Algumas mulheres possuem um certo bloqueio após se tornarem mães, perdem a libido ou não conseguem reformular a sensualidade, como foi para você? Qual seria seu conselho para essas mulheres que buscam se reencontrar após tantas mudanças?
Pathy: No puerpério, o nosso corpo passa por diversas alterações físicas e, principalmente hormonais, o que interfere muito na nossa sexualidade, e comigo não foi diferente. Eu sofri bastante. Cansaço e culpa eram os sentimentos mais presentes. No meu caso, tempo e acolhimento foram essenciais.