Um bate papo com Patti Harrison, a comediante trans para ficar de olho em 2021

Patti Harrison pode ainda não ser um nome reconhecido internacionalmente, mas fiquem atentos pois é uma das grandes promessas da comédia americana. Em apenas três anos desde a sua estreia na televisão, já teve destaques em canais como MTV, Comedy Central, VICE e claro participações icônicas no The Tonight Show with Jimmy Fallon. 

Patti é transexual, de origem vietnamita, e segundo ela mesma se define, “uma cadela completa”, deixando claro que não poupa na irreverência e fortes opiniões em suas apresentações. Não é a toa que a atriz foi uma das convidadas para estrelar no especial de final de ano da Amazon Video, Yearly Departed, que juntou grandes mulheres da comédia como Rachel Brosnahan, Tiffany Hadish e Sarah Silverman para finalizar com chave de ouro este ano tão atípico.

O especial Yearly Departed estreia no dia 30 de Dezembro, é o perfeito funeral de 2020, onde cada comediante se despede de algo que já não fará parte do nosso novo normal. E o mais interessante, foi uma das primeiras produções da Amazon Video filmadas com as restrições para combater a pandemia do COVID19. Isolamento social, testes no elenco e equipe diários fizeram parte da rotina do set. 

Para conhecer um pouco mais sobre a produção e também da comediante que está dando o que falar nos Estados Unidos, conversei com Patti Harrison sobre sua participação. Em poucos segundos descobri que a personalidade difícil é reservada apenas para a sua personagem. Patti é extremamente adorável.

Confira agora nosso bate papo ...

Como você se envolveu no projeto do Yearly Departed?

Eu participei em um show de comédia ao vivo e presencial, com praticamente o mesmo grupo de mulheres e um formato similar, não muito antes de tudo fechar. E foi um projeto muito legal de trabalhar, o elenco era maluco. Quando eles me chamaram de volta eu nem pensei, tinha certeza que seria algo diferente, e também gostoso de trabalhar.

Nos créditos de Yearly Departed são mostradas algumas cenas de bastidores, bem diferentes dos sets tradicionais. Como a sua experiência de trabalhar com as restrições todas?

Eu nem conseguia imaginar antes como eles iriam fazer para filmar. Era uma pessoa por vez, quando eu estava na câmera, era só eu lá e a equipe. Olha, foi uma coisa muito maluca, eles tinham que pegar nossa reação para quando estivemos assistindo a cena das outras. Então nos sentavam e pediam para fazer reações. E foi muito engraçado fazer na hora, porque você esta ali parada e alguém falando “agora faz isso, agora susto, alegria, chateada” e assim vai até que começaram a surgir umas reações muito bizarras como “fique surpresa, triste mas meio excitada”. E só me perguntada “o quê?”. Eles pegavam uma série de reações baseadas no roteiro, e acho que algumas extras, se fosse necessário para melhorar o tom de algo ou na hora de juntar as reações de todas as atrizes.

Você tinha algum receio para voltar a trabalhar?

Eu estava muito preocupada com o COVID19, mas me senti muito segura no processo todo. E foi de certa forma, um jeito bom de colocar os dedos na água antes de pular de volta ao trabalho. As gravações foram muito diferentes do que todas nós estávamos acostumadas, do que a gente considera normal, mas foi estranhamente fácil de se adaptar.

E o quais foram as surpresas com o resultado final? Já que só se pode ver a reação do elenco todo após as edições.

Vou jogar a minha bomba chocante e controversa… Eu não assisti.

Por quê?

Estou esperando para assistir quando estrear para o público, e eu sei que isso pode parecer estranho, mas isso é algo que eu geralmente gosto de fazer quando posso. Me estressa um pouco se eu vejo algo antes da estreia e aí tem todo um tempo até que o público assista. Fico nervosa pensando o que vão achar, como vão reagir. Mesmo com projetos que eu estou super animada pela estreia, que eu amo, ainda fico com esse nó na garganta. É um jeito especial que eu tenho de fazer essas coisas boas ficarem bem duras e azedas. Então eu percebi que me divirto mais quando todo mundo está assistindo pela primeira vez. E agora que estamos nessa situação de isolamento social, faz com que realmente tenha esse gostinho de pré-estreia, de um evento em conjunto. E eu de verdade estou muito curiosa para ver como ficou a versão final, que reações escolheram. Imagino que tenha várias magias digitais que eles fizeram para colar tudo.

Uma coisa que é fascinante e muito ousado é que Yearly Departed é apresentado por mulheres comediantes. Como você vê este destaque?

Obviamente, me sinto sortuda em estar neste grupo de mulheres incríveis. Mas de verdade, espero que no futuro tenham outros comediantes trans em evidência. Assim como comediantes negros, mulheres, entre outras tantas minorias. Que haja mais espaço, mas que não tenha que ser aquela coisa de “show de mulheres” ou qualquer que seja o grupo, e sim que as pessoas possam ter os seus méritos baseado em o quão engraçadas elas são. Historicamente falando, e hoje a realidade ainda é que não há muita abertura para as mulheres no mundo da comédia. Então é confortante e legal ver que este projeto foi criado pensando um pouco nisso, eu realmente espero que que a gente possa ver mais deste tipo de show, e quem sabe com um elenco ainda mais diverso.