Preta Gil fala do ‘Bloco da Preta’ na sua volta ao Carnaval
Preta Gil celebra a sua cura no ‘Bloco da Preta’ durante o Carnaval 2024 e comenta detalhes exclusivos para a L’Officiel Brasil
Preta Gil ressurgiu como uma fênix para celebrar a vida em 2024! Após a cura de um câncer no intestino e fortes decepções em sua vida pessoal, a cantora brinca que agora está ‘Mais Preta Que Nunca’ – nome da peça escrita e interpretada por ela no teatro.
Emanando toda a energia e ‘solaridade’ como ela mesma descreve, Preta – que nasceu no berço da MPB tropicalista dos anos 70 – apresenta com louvor o seu retorno para o mundo da música e para o Carnaval com o EP ‘De Volta Ao Sol’ e a comemoração de 15 anos do ‘Bloco da Preta’. Em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil, Preta Gil entregou detalhes de seu processo de cura e falou com exclusividade sobre seu Bloco no Carnaval! Confira:
Preta, o Bloco tem ganhado cada vez mais força no Carnaval brasileiro né? E agora, com o seu retorno trazendo junto o EP “De Volta ao Sol”, como foi esse novo formato? Porque antes você ia muito para a rua e tinha mais contato com o público, em um ambiente a céu aberto. Agora que o formato mudou, como está sendo a experiência?
Está sendo ótima! Está sendo incrível porque eu aprendi muito sobre isso com a minha doença. A gente tem que se dar e a gente tem que entender o momento que está vivendo. Não adianta se angustiar com o que a gente não pode ter… Eu não posso ter bloco na rua por questão médica, os médicos não deixam. Eu sei que ainda estou muito fragilizada, que ainda tenho muitas coisas para reabilitar, então por que eu vou me angustiar de querer estar em um lugar que eu não posso estar?
Eu acho lindo poder ter tido uma solução para comemorar os 15 anos do Bloco e fazer um show fechado. A energia vai ser igual, vai ser a mesma, porque o que importa é que as pessoas que estão lá, elas foram para me ver, elas foram para me celebrar, elas foram para agradecer, elas foram para me encher de energia para que o meu sol brilhe ainda mais. Então isso é que é importante. Eu vivo muito aqui e agora. Então agora, o que eu posso dar é isso e isso já é muito para mim, sabe? Para quem estava 2 meses atrás. Numa cama de hospital, fazendo sei lá, a segunda cirurgia grande do ano, depois de 1000 procedimentos, um tratamento muito pesado que eu não imaginei que eu pudesse estar aqui hoje, mesmo assim eu achei que em muitos momentos não ia aguentar. Eu passei por momentos muito delicados, então é muito lindo. É muito incrível eu poder fazer esse show em celebração aos 15 anos do Bloco, em celebração à minha cura, à minha volta.
E também voltar do jeito que eu posso. Não, não sou a mesma Preta que eu era antes e nunca mais vou ser porque a gente que passa por isso, pelo tratamento, a gente muda, e mais, eu sou a Preta que eu posso ser hoje e isso é o que eu quero ser sempre assim, a que eu puder, não é nessa expectativa de querer ser melhor, maior, não… eu quero ser o que eu sou hoje, com todas as minhas vulnerabilidades, as minhas fragilidades, os meus problemas, minhas, minhas limitações. Mas é assim que eu sou, e essa Preta quer celebrar a vida, sabe?
E nesse novo formato, quais foram as novidades? A gente já viu que teve alguns convidados, né? A Carolina Dieckmann, Fernanda Paes Leme… Essas pessoas todas que estão dentro do seu Bloco e dentro da sua vida, como o Gominho?
Sim eles são a minha corte, né? Há 15 anos, e elas são minha rede de apoio. Foram as pessoas que estiveram do meu lado esse ano de 2023. Assim, inteiro, se provaram mais do que amigos se provaram Anjos pra mim. Então eles vão estar no palco comigo. A corte vai estar, a gente vai fazer tudo como se o bloco fosse sair na rua, sabe? A gente vai estar junto, a gente vai dar entrevista juntos, a gente vai antes aparecer todo mundo junto, aí a gente vai subir no palco, eles vão subir também e vão ficar ali, vão subir, vão descer, vão mandar tchau, beijo. Vai ser como se a gente tivesse num bloco na rua, mas a gente vai estar num lugar fechado e com ar-condicionado mais confortável para mim, mais seguro para mim, a diferença só vai ser essa, mas a energia do bloco vai estar toda lá com todos os membros da corte.
Alguma coisa muito especial da preparação, do jeito que você fazia o bloco antigamente pra agora?
A gente teve que reensaiar, né? Foram 3 semanas de ensaio árduo porque a gente não tocava há muito tempo, e o bloco, ele é, sonoramente falando, um advento que a gente criou. A gente consegue fincar bateria com a banda e a gente teve que reensaiar e aí eu quis relembrar sucessos lá de trás, coisas que eu não cantava há muito tempo. Eu tenho uma composição com Carlinhos Brown que era o nome do bloco do primeiro ano, o Bloco se chamava “A Coisa Está Preta” e a gente fez uma música para o primeiro ano. Eu e o Brown. A gente compôs por telefone e eu gravei, mas é uma música que eu amo, amo, amo e a gente não tocava há anos.
A gente teve que reensaiar, mas a gente reensaiou com o bloco inteiro, a gente colocou 2 backing vocals que não tinha o ballet com 10 pessoas. Então foi um trabalho tão árduo e tão grande que a gente resolveu gravar o show de domingo e transformar num audiovisual, porque é uma produção de um de uma mega produção, então não fazia sentido. A gente fazia aquele show e para casa e ninguém mais vê aquilo. Então a gente vai registrar e aí vai lançar depois pra todo mundo ver.
E tem alguma coisa da antiga configuração do Bloco da Preta que você não quis deixar, não quis abandonar e quis trazer para essa nova configuração?
Cara, eu acho que a energia do bloco, né? A energia que não perde a diversidade, a inclusão. Ele ser um bloco que sempre foi um bloco da diversidade, do amor livre, das pessoas poderem ser elas mesmas, as pessoas poderem se amar, se beijar, isso é uma coisa que está em mim e está no bloco, é O DNA do bloco. E acho que isso é uma coisa que vai acontecer naturalmente pelo público que eu tenho e as pessoas que nunca foram.
Elas têm essa compreensão de que eu sou essa pessoa. Então, no bloco da preta não tem espaço para preconceitos, não tem espaço para briga, não tem espaço para nada disso. É um bloco do amor, sempre foi e vai ser num lugar fechado, num lugar aberto, onde quer que a gente vá. O que a gente prega é a liberdade, o amor e o respeito. Então isso vai acontecer também nesse show fechado.
Você tem se recuperado muito bem! Nós te acompanhamos e torcemos muito para a sua recuperação, só que você tem mais de 11 milhões pessoas que te seguem no Instagram e que se espelham em você. Que tipo de mensagem, através do que você passou – porque foi um aprendizado – que você leva para a vida, e que tipo de mensagem você tem para passar para as pessoas que estão vivendo essa dificuldade, que é um câncer?
Eu acho que cada um é cada um, não adianta eu ter uma bomba de otimismo mesmo porque eu sei que não é assim. Respeite o seu tempo, respeite as suas dores, mas não se entregue. Olhe para o lado, vai ter sempre alguma coisa que vai te motivar. Seja um filho, uma neta, um sobrinho, a vida, a natureza, mesmo nos momentos piores.
Assim, quando você estiver desistindo, quando você não vê a luz no fim do túnel, olhe para o lado assim, sabe? Você vai encontrar dentro de você mesmo uma força e paciência – por isso que a gente é paciente né? A gente precisa esperar. É um dia de cada vez.
O que eu posso falar é que tenha fé em Deus e em suas crenças. Eu tenho muita fé, eu tenho os meus orixás e eles não me deixaram desistir. E quando você tem amigo, rede apoio, isso é muito forte. Mas para você que não tem sua maior rede de apoio é você mesma, é dentro de você. Você ainda ter vontade de viver e isso vai te motivar a continuar e a lutar. Foi isso que aconteceu comigo. Eu tive o privilégio de ter muito apoio, e eu sei que não são todas as pessoas que tem, mas graças a Deus eu tive. E foram essas pessoas, esses amigos, a família, os fãs e até as pessoas que eu não conheço… a quantidade de oração que eu recebia, a quantidade de amor e de carinho me salvaram. Eu tenho a plena consciência disso!
Foram eles que ali, naquele momento mais difícil, que me estenderam a mão ou um comentário que eu li na internet, uma carta que eu recebi, uma flor, uma visita… Isso realmente foi fundamental para que eu estivesse aqui hoje, e acho que a gente tem que abrir o nosso coração, não ter vergonha de estar doente. Muita gente quando tem câncer, tem vergonha e eu acho que a gente tem que desmistificar isso. Não tenha vergonha, porque muita gente está sujeita a isso. Não é culpa, a gente não tem que ter culpa de estar doente, a gente tem que se mostrar para que a gente possa receber esse amor, esse carinho, cuidado, para poder vencer.
É uma coisa interessante que a gente percebe é que o seu EP se chama ‘De Volta ao Sol’. E afinal, o que você quer trazer de volta ao sol?
Eu acho que essa minha energia vital mesmo. Foi um ano de muita escuridão, de muita dificuldade, muita tristeza, de muito sofrimento. Agora, 2024 é um ano solar, é um ano de me conectar com a energia solar, de voltar a ter força, voltar a receber e dar energia. Energia solar, vitalidade, de luz para o outro, então eu quero receber todo esse amor que virou essa energia solar que eu recebi e eu quero agora trocar e continuar trocando como sempre foi.
No seu Carnaval tem muita música boa né? Músicas que as pessoas pedem… para você, o que não pôde faltar esse ano?
Não puderam faltar as minhas músicas novas, e nem ‘Macetando’ da Ivete. Não puderam faltar os clássicos de outros carnavais. Não pôde faltar a mistura que eu gosto de fazer, de trazer um pouco do frevo, um pouco do axé, um pouco do samba, é o ecletismo, né, que é uma característica muito forte do Bloco da Preta. Isso não pode faltar nunca.
A Preta de antes era uma pessoa. A Preta, agora é uma outra pessoa. Para você, quem é a Preta de hoje em 3 palavras?
A Preta de agora dá mais valor à vida, é mais grata e quer viver mais intensamente a oportunidade que me foi dada, de continuar a minha trajetória. Então eu acho que, como diz a minha peça, né? Que eu escrevi. Eu acho que eu estou mais Preta do que nunca, então eu quero continuar minha vida e minha trajetória!