Andes tem sua magia revelada com a rica herança cultural do Peru
A magia dos Andes é revelada de maneira exclusiva a bordo do icônico trem Belmond Andean Explorer, celebrando a rica herança cultural do Peru
Localizado na parte oeste da América do Sul, o Peru, com sua incrível cultura milenar e tapeçarias de histórias icônicas, é um destino fascinante, que encanta viajantes do mundo todo. Um país colorido, cheio de tradições, com uma vasta gastronomia e reservas naturais.
A bandeira peruana, composta de três faixas verticais vermelhas e brancas, simboliza a batalha e o sacrifício dos heróis que lutaram pela independência do país. As listras vermelhas representam o sangue derramado, enquanto a tira branca central enfatiza a paz e a pureza. Em algumas versões, o emblema no centro destaca as belezas e a cultura do lugar, refletindo a diversidade e a identidade do seu povo. Assim, a flâmula é um poderoso marco de orgulho e unidade nacional.
A cultura é uma miscelânea de influências indígenas, europeias, africanas e asiáticas, que resulta em uma identidade plural. Os peruanos têm uma forte valorização de sua ancestralidade, o que se manifesta em festivais como o Inti Raymi e o Carnaval de Cajamarca. O país é reconhecido por suas tradições, que incluem vestimentas vibrantes, variando conforme as regiões. As roupas típicas, como saias bordadas e ponchos, geralmente confeccionadas com lã de alpaca e vicunha, são um reflexo dessa herança nativa. Entre os acessórios, destaca-se o chullo, um chapéu de lã que cobre as orelhas. Em eventos como o Inti Raymi, que homenageia o Deus Sol, os anfitriões usam trajes elaborados e fazem danças típicas, evidenciando a fusão de influências locais e hispânicas. Essas expressões artísticas desempenham um papel essencial na construção da sua identidade.
Minha viagem começou por Cusco, cidade situada nos Andes, rodeada por belezas naturais. Ao lado da Plaza de Armas encontra-se o Belmond Hotel Monastério, endereço de charme, que ocupa lindos claustros de um monastério do século 16. O pátio central conta com exuberantes jardins floridos e perfumados, uma fonte e um cedro de 300 anos. Pinturas a óleo adornam suas paredes, pontuando uma das melhores coleções de arte sacra colonial do século 18.
A capela de San Antonio Abad, cravada no meio do empreendimento, é uma impressionante obra barroca erguida há quase 500 anos. Com decoração imponente, repleta de altares minuciosamente entalhados e revestidos de ouro, a pequena igreja destaca-se como espaço frequentemente escolhido para casamentos e batizados. Sua atmosfera serena proporciona o ambiente ideal para momentos de reflexão e de celebração, enquanto os cânticos ecoam durante todo o dia nas áreas comuns da hospedaria, intensificando a experiência dos visitantes.
Por lá, transitar pelas vielas estreitas, com paredes de pedra e telhados vermelhos que contrastam com o azul do céu, é uma experiência fantástica, repleta de sabores, arte, lojinhas e, claro, hospedagem memorável. Aliás, quando o assunto é estadia, Cusco é sinônimo de conforto e sofisticação. Escolher bons hotéis é fundamental para tornar a vivência não apenas única, mas inesquecível. A rede Belmond, uma das maiores – e melhores – do mundo, possui duas das propriedades estratégicas da cidade: o hotel Monastério e o Palacio Nazarenas, ambos no coração de Cusco.
O Palacio Nazarenas está a apenas 200 metros do museu Inka e a 500 metros da área histórica de Sacsayhuaman, enquanto a famosa Plaza de Armas fica a 400 metros de distância. Seu edifício do século 18, que originalmente serviu como convento, exibe arquitetura colonial espanhola com influências indígenas. O palácio apresenta arcos de sillar, uma pedra vulcânica clara e leve, além de encantadores pátios internos. Após um período de desamparo, o palácio foi restaurado e transformado em hotel, mantendo a sua relevância histórica.
É um destino fascinante, que oferece uma combinação de história e de modernidade. Cada suíte-butique é um verdadeiro santuário. Não podemos nos esquecer de falar das belas flores que adornam a área da piscina, complementando sua cor azul-safira. Os interiores reúnem relíquias, como pinturas e objetos de arte históricos, e seus 55 quartos e suítes são cuidadosamente decorados com mobiliários autênticos de época e um serviço personalizado, que inclui comodidades modernas, como oxigênio extra para auxiliar na aclimatação.
A gastronomia é um dos seus principais atrativos. O restaurante Senzo desponta com cozinha peruana contemporânea, utilizando ingredientes frescos e ervas cultivadas no próprio jardim do hotel. Recentemente, nasceu o Mauka, sob a direção da renomada chef Pía León, que explora a versatilidade da culinária cusquenha e incorpora produtos trazidos das montanhas andinas e da Floresta Amazônica, respeitando a biodiversidade e as práticas agrícolas ancestrais. Além disso, o Palácio Nazarenas oferece aulas de culinária e degustações de pisco.
Após passar um tempo em Cusco, aclimatando-me à altitude, parti em uma aventura a bordo do Belmond Andean Explorer. Esse é o único trem de luxo com pernoites na América do Sul, oferece quatro rotas e percorre o trecho ferroviário mais alto do mundo, a pelo menos 4.500 metros acima do nível do mar, ligando Cusco a Arequipa em um trajeto que dura três dias até chegar à famosa cidade branca. O trem, construído na Austrália na década de 1990, ficou abandonado por mais de 13 anos antes de ser enviado ao Peru, onde foi reformado e relançado em 2017 com o selo da grife hoteleira.
Projetados pelo renomado Estudio Maza Lab, de Londres, os 20 vagões têm nomes inspirados na flora e na fauna locais. Com capacidade para apenas 48 hóspedes, o Andean Explorer cria uma atmosfera nostálgica, que evoca o glamour das antigas trips ferroviárias. O décor tem tecidos de lã de alpaca, em tons realçados, sofás e poltronas de couro, painéis de madeira de lei, marchetaria elaborada e tetos em estilo art nouveau, tudo emoldurado por janelas panorâmicas que permitem vistas deslumbrantes. As cabines estão disponíveis em três categorias, incluindo suítes majestosas e cabines duplas e beliches, todas equipadas com banheiros privativos e planejadas em tons suaves.
A excursão é uma experiência única, na qual a imponência dos Andes se revela aos poucos, integrando paisagens deslumbrantes à sofisticação a bordo. A cada curva, surgem surpresas encantadoras, e, durante a jornada, cruzamos cidades e povoados, admirando a rotina das comunidades locais. É uma verdadeira imersão no conceito de “slow living” – uma oportunidade de desacelerar e de desfrutar cada momento sem pressa. Os vagões do Andean Explorer oferecem o equilíbrio perfeito entre requinte e tradição.
Os dois vagões-restaurantes, Llama e Munã, oferecem refeições gourmet elaboradas pelo chef Diego Munoz, com cardápios feitos de ingredientes regionais. O vagão do piano bar anima as noites com música ao vivo, enquanto o vagão de observação tem grandes janelas e uma área ao ar livre que proporciona contato profundo com o entorno. Esse último foi o meu favorito, onde a brisa gelada acariciava o meu rosto e o vento bagunçava o meu cabelo, enquanto me imaginava parte integral do cenário, testemunhando o trem serpentear pelas colinas.
Por lá, sentia o aroma da vegetação, ouvia o som do rio que seguia ligeiro e passava o tempo procurando por alpacas, que pastavam camufladas na vegetação, a uma boa distância. Era também o momento perfeito para acenar para as crianças de bochechas rosadas e roupas supercoloridas que, ao lado de suas casas, aguardavam a passagem do trem pelos pequenos vilarejos. O lounge bar, com seus sofás confortáveis, era outra ótima pedida para socializar, jogar cartas, ler um livro, desfrutar um delicioso pisco sour de maracujá – meu drinque predileto – ou tomar um chá de coca, que ajuda a aliviar os sintomas do desconforto causado pela diferença de altitude. E, para relaxar, agendar uma massagem após um dia de atividades no vagão-SPA é uma ótima pedida.
Check-in realizado na capela San Antonio de Abad, embarquei na estação Wanchaq em direção à primeira parada: o parque arqueológico de Raqchi, localizado no distrito de San Pedro, na Província de Canchis, a 119 quilômetros do destino original. Um dos seus principais atrativos é o templo de Wiracocha, cuja estrutura principal se encontra a cerca de 3.460 metros acima do nível do mar e é dedicada a Wiracocha, o deus criador da cultura inca. Suas imponentes paredes feitas de adobe, com base de pedra, alcançam até 15 metros de altura e mais de 90 metros de comprimento. Todo o complexo teve um papel fundamental na cosmologia, servindo como importante centro cerimonial e religioso.
Na manhã seguinte, acordei com a vista ao Lago Titicaca. Considerado o lago navegável mais alto do mapa-múndi, ele está fincado a mais de 3.800 metros acima do nível do mar, com área de aproximadamente 8.300 quilômetros quadrados e profundidade de até 280 metros, dividindo-se entre o Peru e a Bolívia. Ainda sem a luz do dia, saí do trem para contemplar o amanhecer em frente ao Titicaca. Dirigi-me à margem, onde me juntei a outros hóspedes ao redor de uma fogueira. Café quente e chá foram servidos e, confortavelmente sentada e envolvida em uma manta, notei os primeiros raios de sol tingirem suas águas tranquilas com matizes de rosa, laranja e dourado. Cenário de tirar o fôlego.
Em um barco particular, naveguei por cerca de 40 minutos até uma das ilhas flutuantes de Uros, que, como o nome indica, se trata de um conjunto de 68 ilhas artificiais e flutuantes no Lago Titicaca, berço da civilização inca. Ao chegar, fui calorosamente recebida pelos moradores, que acenavam balançando as saias e ostentando sorrisos largos e acolhedores. Essas ilhotas, feitas pela planta aquática totora, abrigam comunidades que preservam tradições seculares. Ao caminhar sobre o solo macio, fui envolvida por um ambiente de simplicidade, em que os moradores compartilham o seu modo de vida despretensioso, suas narrativas envolventes e seu artesanato habilidoso.
Na sequência, navegamos até Taquile, onde fomos recebidos por um grupo dançando na Praia de Collata. Caminhamos até um restaurante, em que foi servido um pequeno almoço com pães fritos, especialidades da região, acompanhados de queijo fresco, favas e pimentões preparados como parte da guarnição, que puderam ser degustados enquanto se esperava pela sopa de quinoa e truta frita. No fim, foi oferecido um chá de muña e de coca.
Revitalizada e feliz com as novas descobertas, retornei ao trem, com direito a mais uma surpresa: um delicioso chá da tarde harmonizado com os acordes dos violinos e dos estalidos da lenha que queimava na lareira dentro da estação ferroviária.
PRATICAMENTE impossível NÃO SALTAR DO TREM E caminhar pelos trilhos POR ALGUNS MINUTOS, APROVEITANDO o silêncio DO MOMENTO, ENVOLTO EM UM mar de estrelas QUE CLAREAVAM O CÉU.
Segui a viagem em direção ao lago Saracocha, na Cordilheira Huayhuash. Ao parar, foi praticamente impossível não saltar do trem e caminhar pelos trilhos por alguns minutos, aproveitando o silêncio do momento, envolto em um mar de estrelas que clareavam o céu, de fazer inveja. Para finalizar, o meu último passeio foi um pequeno (e leve) trekking de 15 minutos até as Cavernas Sumbay, importante conjunto arqueológico descoberto em 1968, a cerca de 88 quilômetros de Arequipa. Esse abrigo do legado paleolítico foi reconhecido, desde 2000, como Patrimônio Cultural da Nação. A arte rupestre encontrada nas grutas teria idade aproximada de 8 mil anos. As cavernas representam a herança dos povos pré-colombianos e deixam evidentes os aspectos valiosos sobre crenças, expressões artísticas e modos de vida. Trata-se de um destino imperdível para os entusiastas da arqueologia. Após o belo panorama, a viagem finalizou em Arequipa, de onde voei de volta para Cusco.
Depois da aventura, nada mais apropriado que desvendar os segredos de Cusco e aproveitar o SPA ou a piscina aquecida para relaxar. A partir de Cusco, o Belmond oferece outra rota de trem até Machu Picchu – o coração do império inca. Vale a pena fazer um bate-volta a bordo do Hiram Bingham, saboreando um banquete peruano, com coquetéis, vistas paradisíacas e música ao vivo. Mas isso já merece outra viagem e uma nova leitura. Fica aqui o convite.