Viagem

As ilhas Cíclades da Grécia e suas maravilhas

Ao passar pelas vilas de Santorini e de Mykonos tem-se à vista alguns dos maiores espetáculos da criatividade humana, onde a natureza reina forte e absoluta

Maravilhas cíclades
Vista para os vulcões do Andronis Concept Wellness Resort - Foto: Divulgação

Com 131,9 mil km2 de território, distribuídos em relevos acidentados e 170 ilhas habitadas e centenas de outras intocadas, a Grécia é uma região de paisagens singulares. É quase instintivo lembrar da explosão de azuis marítimos que se revelam ao som das canções do grupo sueco ABBA nos musicais da franquia Mamma Mia! (2008 e 2018), estrelada nas telonas por Amanda Seyfried e Meryl Streep. Mas é com o filme Zorba, o Grego, rodado em preto e branco por Michael Cacoyannis, em 1964, que residem algumas das referências mais interessantes desse trecho do sul da Europa – fãs do cinema não se esquecem da sequência em que os personagens de Anthony Queen e Alan Bates dançam à beira-mar, cadenciados pela trilha assinada por Mikis Theodorakis. Conta a história, aliás, que o hábito de caiar as casas, como as que aparecem na cena, se iniciou em 1938, durante um surto de cólera, quando o primeiro-ministro ordenou o uso desse tipo de material em razão de suas propriedades desinfetantes.

Boa parte da população estimada atualmente em 10,6 milhões de habitantes, vive em torno da capital, Atenas, um lugar repleto de simbolismos, onde foram criados os contornos iniciais da democracia e da cidadania. Além de sua relevância para a formação da civilização moderna, na política, na filosofia e nas artes, a contar os poemas de Safo e de Homero e nas comédias de Aristófanes, há as heranças milenares que despertam a atenção dos visitantes. Todos os anos, milhares de turistas desembarcavam no país interessados também em ver os Mosteiros de Meteora, erguidos em pilares de rocha de arenito a quase 600 metros de altura; os sítios arqueológicos de Delfos, centro da Terra para Zeus e onde o deus Apolo fundou o seu santuário após matar a cobra píton; e a área de Olímpia, localizada no vale do Rio Alfeu, no Peloponeso, berço dos Jogos Olímpicos. Essas edificações fazem parte de uma lista reconhecida pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), como Patrimônios Mundiais, em um total de 18 locais espalhados por toda a Grécia. 

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Tons terrosos que se fundem com a natureza da ilha no Andronis Concept Wellness. Foto: Pimpa Brauen

Mesmo que a logística peça um pouco mais de planejamento, entre uma ilha e outra e muitas paradas, aqueles que querem dedicar-se às belezas naturais do entorno não se arrependem. Observar o Mar Egeu através de sua “varanda”, como são chamadas as falésias que compõem a vila de Imerovigli, na Ilha de Santorini, é uma experiência que atrai os casais que buscam roteiros mais tranquilos. É sentar-se, aproveitar os sabores mediterrâneos e curtir o passar das horas. Comecei minha experiência no Andronis Concept Wellness Resort com um floating breakfast, que poderíamos definir como um café da manhã flutuante, servido na piscina aquecida de borda infinita. O hotel esbanja estilo em cada um de seus terraços voltados para a caldeira de um dos poucos vulcões ativos da Europa, cujas erupções formaram essa e outras ilhas, caso de Thirassia e de Aspronisi. As construções em tons terrosos, de suas vilas e das 28 suítes que se camuflam na paisagem natural, me convidaram a relaxar e sentir o tempo passar, e se alinham perfeitamente aos tratamentos de beleza e de bem-estar oferecidos pelo Kallos Spa, promovendo a consonância entre mente, corpo e espírito por meio de relaxamentos terapêuticos, sessões de ioga e cardápio desintoxicante. A cada passo dentro do hotel você é surpreendido por paredes curvas e escadas espirais que dão um toque de requinte e sofisticação

Com 131,9 mil km2 de território, 
distribuídos em relevos
acidentados e
170 ilhas habitadas
e centenas de outras 
intocadas, 
a Grécia é uma 
região de paisagens 
singulares

O dia se estende com um passeio de barco privado que zarpa do charmoso porto de Amoubi Bay, aninhado aos pés de um penhasco abaixo do vilarejo de Oia. Mergulhei no mar de águas cristalinas entre formações rochosas e visitei a igreja Saint Nicholas, protetora dos navegantes, com seu interior construído dentro de uma caverna e que pode ser acessada por pequenas embarcações. Voltei depois pelo Parque Nacional Geológico Nea Kameni, sediado na ilha vulcânica de Nea Kameni, um lugar de cenários lunares que atrai grupos de excursão dispostos a conhecer as superfícies formadas pelo magma resfriado, os cristais de enxofre depositados na cratera de Georgios após sucessivas fumarolas e as águas termais. Por sinal, nessa região mais ampla do Mediterrâneo Oriental e do Mar Egeu, notória pelo efeito geodinâmico que vem ocorrendo há tempos, que é o deslizamento da placa tectônica da África sob a placa tectônica da Europa – em cerca de 35 milímetros por ano –, e cujo encontro desses blocos poderá causar novas erupções, dando origem a outros vulcões.  

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Entrada do Andronis Concept Wellness Resort. Foto: Divulgação

Um dos maiores episódios visto por ali aconteceu há quase 3600 anos e destruiu a antiga civilização minoica. Durante dias a erupção descarregou dezenas de quilômetros de magma e de cinzas que cobriram a cidade pré-histórica de Akrotiri, seguida de um tsunami que alcançou o norte de Creta. Tanto o arqueólogo Spyridon Nikolaou Marinatos quanto o escritor e comandante reformado da Marinha Real Britânica, Gavin Menzies, presumiram que com o tempo a tragédia serviu de base para a criação da lenda sobre a cidade de Atlântida, nutrindo a imaginação de muita gente. Já era o final da tarde quando voltei para celebrar o pôr do sol, um dos mais bonitos do mundo. No terraço do moderno Throubi Restaurant, candidato à atração imperdível de Imerovigli, fui saudada com um cardápio de seis tempos, a se destacar o lagostim com sopa de melão em conserva, maçã verde, pepino e abacate; o ceviche de robalo com yuzu (uma fruta cítrica que lembra a tangerina), cenoura e sopa de gengibre; o amberjack com purê de nabo, trufa e chá de cogumelo; e a pera com parfait de caramelo e creme de limão como sobremesa. Todos eles harmonizados com vinhos da região. Por ali, a proposta é apreciar sem pressa.

Nem só de branco e azul vive Santorini: mergulhe no tinto e rosé. Falando nisso, o Wine Tour está entre as experiências mais estimadas de Santorini. Por causa de suas atividades vulcânicas e das combinações climáticas, o solo com muitos minerais produz uvas de sabores marcantes, como pude conferir nas três casas que conheci em rotas organizadas por sommeliers. Aberta há 26 anos, a Vinícola Hatzidakis foi desenvolvida em um antigo vinhedo da família de Konstantina, situado na aldeia de Pyrgos Kallistis. Em minha passagem pelo local fui recebida para a degustação dos 11 rótulos da grife, incluindo o mais vendido deles, o Santorini Familia. Ainda com o paladar assinalado pela acidez suave da bebida, cheguei à Artemis Karamolegos, terceira maior representante do setor no país e também com forte tradição familiar. Por lá, a experiência foi com o “vertical tasting”, em que diferentes safras de um mesmo vinho foram trazidas para minha apreciação, permitindo que fizesse a leitura de suas características. E para finalizar o passeio, conectada com processos antigos de vinificação, na Anhydrous Wine, combinei os excelentes vinhos da casa com pratos típicos do país, em um cardápio assinado pelo chef Giannis Baxevanis. Os vinhedos de Santorini são plantados diretamente no solo e os troncos das videiras são podados de forma a proteger as uvas do vento e do sol, crescendo com pouca água.

Bem de leve, as vilas de Oia e Fira

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Andronis Luxury Suítes. Fotos: Divulgação

Cruzar as ruelas estreitas de Oia e guardar as imagens de suas construções brancas de cúpulas azuis é necessário e de tirar o fôlego. O Andronis Luxury Suites situa-se em um dos lugares mais privilegiados da vila, debruçado no mar e no coração do burburinho. Seu restaurante Lycabettus, eleito um dos melhores restaurantes com vista do mundo, é a cereja do bolo. Conhecido por seus menus que combinam tradição, autenticidade e inovação, utiliza os melhores ingredientes que a ilha produz.Outra dica imperdível é jantar no restaurante Lauda, no Andronis Boutique Hotel, uma experiência que honra a história e a tradição de Oia, que muito antes de se tornar conhecida era uma pequena e pacata vila com 306 habitantes. Lauda foi o primeiro restaurante da vila, construído em 1971, e onde os moradores se reuniam para conversar e beber, e era onde existia o único telefone da aldeia. Hoje, à frente da cozinha está o lendário chef três estrelas Michelin Emmanuel Renaut juntamente com o talentoso chef George Dospras, que, juntos, produzem mágica em um cardápio baseado essencialmente nos produtos originários da ilha, mantendo sua devoção pelo solo vulcânico, presenteando com uma autêntica experiência gastronômica.

Mykonos é um daqueles destinos 
europeus famoso pelo charme 
dos clubes de praia, pelas 
espreguiçadeiras luxuosas e pela 
vida noturna badalada.

Aproveitando todos os instantes de minha agenda fui até a vila de Fira, capital da ilha, com vida ativa praticamente 24 horas por dia, o badalado recanto tem restaurantes e bares agitados, mas também esconde vielas tranquilas aninhadas em um penhasco que chega a 260 metros de altura e garante uma das mais belas vistas da região, tal penhasco é acessível pela escadaria Karavolades, famosa por seus 600 degraus, ou por um teleférico. 

A ilha dos ventos

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Aloni Sunset Lounge do Kalesma; vista para o mar do quarto do Kalesma

Mykonos é um daqueles destinos europeus famoso pelo charme dos clubes de praia, pelas espreguiçadeiras luxuosas e pela vida noturna badalada. Isso explica a circulação de tantas estrelas desde os anos de 1950, de Pierre Cardin a Tom Hanks e Lady Gaga. Ao lado de Santorini, de Syros, de Paros e de Naxos, esse belíssimo território voltado para o Mar Egeu está na porção grega batizada de Ilhas Cíclades. Em um ponto do litoral em que a variedade da orla dá o tom, a praia de Psarou, distante 4 quilômetros de Chora, tem areia branca bem fininha, água azul-clara, bares, restaurantes e lojinhas supercharmosas. Paradise, por outro lado, lar dos hippies na década de 1970, hoje se movimenta ao som da música eletrônica após o entardecer, enquanto a margem de Kalo Livadi é apreciada pelas famílias que se distraem em seu centro de esportes aquáticos. Em Mykonos, um dos programas imperdíveis é visitar Chora (ou Hora), bem no centrinho da ilha, e admirar o pôr do sol, diretamente da simpática Little Venice reúne um conjunto de casas charmo-sas do século 18 construídas na beira do mar semelhantes às construções italianas – passear entre os moinhos de vento, que são um dos cartões-postais do destino, e se perder pelas ruas entrelaçadas em labirintos geometricamente inesperados.

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Ammoudi beach, Santorini; Oia, Santorini. Fotos: Pimpa Brauen

Deixando de lado o burburinho da costa, fui levada a fincar os pés no Rizes Folklore Farmstead, uma fazenda – ou um chorio, como diziam os antigos – com casas independentes, espaço para a criação de animais, lavoura, adega, forno e até uma pequena igreja, mantida pela família Zouganeli. Rizes, em grego significa raízes, e como o próprio nome diz, por lá é possível fazer uma verdadeira viagem no tempo, conduzindo os visitantes a reviverem o cotidiano de seus antepassados. Com as portas abertas, eles me receberam na cozinha para uma imersão naquele ambiente repleto de cores, aromas e sabores. Nessa viagem, coloquei a mão na massa em uma aula de culinária e fiz alguns pratos típicos usando os ingredientes plantados ali. O tzatziki, pasta que leva iogurte e pepino; o meatball grego, cozido com carne moída, ovos, pão amanhecido e temperos, caso no anis; e o ravióli de ricota e mel, não poderiam faltar em um cardápio ocupado por tantos tesouros. A experiência é finalizada com uma prova de meus pratos – e de outras especialidades gregas – em uma mesa posta na área externa.

Prestes a encerrar o itinerário pela Grécia, fiquei hospedada no hotel butique Kalesma Mykonos. No conforto de uma das 27 vilas do novíssimo hotel, fui surpreendida pela elegância das acomodações inspiradas em uma típica vila de Mykonos. Localizado na Baía de Ornos, é um verdadeiro oásis com vista para o mar. Por lá me senti exatamente como deveria: convidada a relaxar, já que a palavra “Kalesma” significa “convidativo” em grego. A hospitalidade é expressa pelos serviços, pela comida e pelas atividades, a exemplo dos cruzeiros pela enseada, das aulas de mergulho, das comemorações privadas e da visita guiada pela Ilha de Delos, ou “ilha dos Deuses”. Local de nascimento de Apolo e de Ártemis, filhos de Zeus segundo a mitologia, a terra é ocupada por ruínas, mosaicos, esculturas e anfiteatro. Eu me despedi com muita festa no Aloni Sunset Lounge e celebrei aos pés do último pôr do sol que vi nesse ponto do mundo feito de sonhos e de luz.

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Little Venice, Mykonos. Foto: Pimpa Brauen

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