Produção uruguaia marca 2023 com duas comemorações culturais
O fascínio que a arte latina desperta mundo afora, abrindo oportunidades de roteiros culturais nada eurocêntricos
Visitar um país para conhecer museus e galerias não é novidade. O que aguça a curiosidade recente de quem trabalha com turismo, todavia, é o fascínio que a arte latina desperta mundo afora, abrindo oportunidades de roteiros culturais nada eurocêntricos. A produção uruguaia, por exemplo, marca 2023 com duas comemorações importantes: um ano do MACA e o centenário de Carlos Páez Vilaró. Confira!
O Uruguai atrai muitos brasileiros com sua faixa costeira boa para o surfe, a vida noturna repleta de ritmo e a gastronomia de ótimos assados e generosas porções de doce de leite. O enoturismo também se expande, principalmente entre os visitantes que chegam do Brasil. Em cultura, um voo curto e direto, saindo de São Paulo ou do Rio Grande do Sul, é o que separa o turista que aprecia arte de uma imersão pela riqueza das esculturas e telas produzidas ou expostas no país.
MACA
Um interessante roteiro cultural pode começar a 40 minutos de carro do famoso polo turístico de Punta del Este. Para acessar o Museu de Arte Contemporânea Atchugarry (MACA), fruto do artista Pablo Atchugarry, o melhor é chegar dirigindo ou contratando um transfer, pois não há, até o momento, rota de transporte público até lá. Hotéis, como o Enjoy Punta del Este, conseguem organizar o traslado facilmente, já que conta com agências de aluguel de carro e turismo no complexo de hospitalidade.
O que tem de tão interessante nesse complexo que completou em janeiro de 2023 apenas um ano de funcionamento? A estrutura majestosa, para começar.
O museu é um projeto digno de compor um ponto de parada de qualquer bom guia internacional de arte. Ao adentrar a propriedade você será impactado logo de cara pela silhueta majestosa de um prédio construído usando metal, vidro e madeira. A edificação lembra um navio ancorado em um lindo gramado que abriga diversas esculturas. Ou seja, o melhor dia para visitar o MACA é em momentos ensolarados, pois neles você conseguirá aproveitar tanto as obras dispostas internamente quanto as da área externa.
Pablo Atchugarry, artista uruguaio de reconhecimento internacional por suas esculturas abstratas, começou a comprar propriedades na cidade de Maldonado com o desejo de deixar um legado de sua carreira para a população de seu país. O MACA é um museu gratuito e construído a partir do sonho de Pablo. Além de receber visitantes, é também um centro de desenvolvimento cultural latino, com calendário de cursos, workshops, sessões de cinema e eventos que estimulam locais e turistas a viver a arte, e não apenas observá-la. “Todos nós temos uma vida limitada e as obras não têm. É uma mensagem que permanecerá para a posteridade, para as próximas gerações”, diz Pablo.
Recomendo um dia inteiro por lá. As horas passam rápido, pois há muito o que fazer. Entre uma área de exposição e outra, descanse nos bancos e gramados ou aproveite para provar delícias uruguaias no restaurante aninhado no prédio principal, cuja vista é incrível. Se quiser almoçar fora, bem próximo está o restaurante Narbona. Cercado de vinhedos, é um local que apresenta de forma bem típica o estilo de vida das fazendas marítimas do balneário de La Barra.
Entre as obras que fazem parte da coleção permanente do MACA há peças de Juan de Andrés, Germán Cabrera, Águeda Dicancro, Hilda López e Marco Maggi, todos uruguaios. Há também trabalhos do argentino Antonio Asís, dos brasileiros Artur Lescher e Vik Muniz, dentre outros talentos da Venezuela, Cuba e Peru.
Centenário de Vilaró
Pablo não é o primeiro uruguaio a fazer da arte uma rota turística em seu país. Em 2023 é celebrado o centenário de Carlos Páez Vilaró, precursor desse movimento. Em uma Maldonado não muito conhecida no cenário internacional, o artista plástico autodidata resolveu criar uma das mais famosas esculturas habitáveis do mundo. A Casapueblo, edificação que inspirou Vinicius de Moraes a compor os versos “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…” (A casa, 1970) é, apesar de muitos turistas pensarem que possui um quê grego, uma estrutura inspirada nos ninhos do pássaro joão-de-barro. Localizada sobre as rochas do balneário de Punta Ballena, é um símbolo do país, mas para Vilaró sempre foi um trampolim para suas partidas, local onde sempre regressou e se sentiu em paz.
A atração é bem procurada, o que demanda uma organização extra para conseguir aproveitá-la da melhor forma. Então um bom conselho é reservar o “ticket” de entrada antecipadamente, direto com o administrativo da instituição ou com agências de turismo. Apesar de sempre lotada, é uma experiência que vale a pena pela arte e pelo belíssimo entardecer na sacada de sua cafeteria.
“Caminhar, tropeçar e seguir andando… sem olhar para trás transformaram os obstáculos no meu maior estímulo” é uma frase do artista que também era um apaixonado pelo Brasil, tanto que morou aqui por um tempo. Estar na Casapueblo é viver um pouco do Uruguai, mas também da Argentina, do Brasil, da cultura do candomblé, das musas de décadas passadas, e, sobretudo, do ser latino.
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