Menopausa: como se preparar para o inevitável
O processo natural de amadurecimento do organismo feminino não pode ser evitado, porém o convivio pode ser saudável e brando com dicas de profissional e Lu Bacchi
A menopausa é o caminho natural de toda mulher, mas ainda hoje é um assunto pouco abordado, e é isso o que as influenciadoras querem mudar. Considerado um assunto tabu, elas acham super relevante abordar o tema, e nos contaram os motivos de quererem promover essa mudança:
Lu Bacchi, 50 anos, está há algum tempo passando por essa fase e conta que foi muito difícil identificar os sintomas: “as mulheres no geral não têm acesso à informação de qualidade, não conhecem o seu corpo, então quando começam os sintomas, não sabem reconhecer como parte da menopausa, o que dificulta muito o tratamento precoce, muitas vezes só começam quando já estão no fim da menopausa, com a perda da menstruação”.
Juntamente com a experiência de Lu Bacchi, entrevistamos o ginecologista Dr Igor, para nos explicar quais os principais sintomas e como identificá-los.
L'Officiel: O que é Menopausa?
Dr Igor: A menopausa é um evento biológico, que marca o fim do período reprodutivo, o fim da capacidade da mulher engravidar. Acontece por uma queda expressiva, um declínio, que vai caindo até essa fase zerar, dos hormônios femininos; os hormônios sexuais femininos são principalmente o estrogênio e a testosterona. Acontece, em média, em torno dos 50 anos e é considerado normal acontecer dos 45 aos 55 anos.
É um processo, não é uma coisa abrupta que de uma hora para a outra a mulher entra na menopausa. O processo de transição menopausal leva em média de três a cinco anos para a mulher, quando ela começa apresentar os primeiros sintomas, decorrentes dessa queda progressiva da produção de hormônios, até a menopausa propriamente dita que é a parada total das menstruações. Então essa é uma primeira coisa importante destacar, que a dificuldade da mulher perceber que está nessa fase, porque os sintomas são vagos e inespecíficos, e elas muitas vezes apresentam sintomas e não percebem que pode estar relacionado a isso.
L'Off: Como identificar os primeiros sintomas?
Dr Igor: A chamada síndrome do climatério engloba vários sintomas diferentes, os mais comuns são os calores, que são ondas de calor ou fogachos, que é um desbalanço, um desequilíbrio do centro controle da temperatura, então não necessariamente está quente. A mulher começa, de repente, a sentir um calorão repentino geralmente no tórax, pescoço, fica vermelha, suando (mais comum à noite).
Outro ponto é a mudança do padrão menstrual, geralmente mais precoce. A menstruação começa a falhar, fica irregular. Algumas mulheres já têm o ciclo desregulado ao longo da vida toda, nunca tiveram ciclo muito certo, mas mesmo as que "ciclavam" certinho começam mudar o padrão, os ciclos podem começar ficar mais curtos, com intervalos menores, geralmente quem menstruava todo mês, começa a menstruar mais de uma vez no mês, com intervalo menor de 28 dias. Para algumas, a menstruação vai se passando e algumas começam a ter sangramentos irregulares, então há a mudança do padrão das menstruações. Esses são os sintomas mais comuns, mais característicos.
A mulher nessa fase, pela queda progressiva dos hormônios, começa sentir várias outras coisas, que são sintomas mais vagos, que confundem com outras coisas, mas é muito importante falar, que são: sensação física de cansaço, de falta de energia, de disposição, piora da libido, piora do sono, insônia, mudanças rápidas do aspecto da pele, de flacidez, ressecamento da pele, piora da concentração, da memória. Além disso, alterações do humor, irritabilidade para algumas, tipo ficar mais pavio curto como fosse uma tpm mais constante.
Para outras um padrão mais depressivo, junto com uma sensação de falta de energia física, também uma falta de vontade de fazer as coisas que gostavam, perda pelo interesse das coisas legais da vida.
Nessa fase de transição menopausal, os hormônios oscilam bastante. Então se a gente dosar, tem hora que está alto, tem hora que está abaixo, dá uma variada durante um tempo. E aí está uma dificuldade, você faz uma dosagem única, às vezes, parece que está baixo, pega num momento que está mais alto, parece que não é isso, então o diagnóstico é o conjunto.
A mulher começa a ter essas características clínicas junto com os exames laboratoriais, e o principal exame, que mostra a aproximação da menopausa é o FSH (Folículo Estimulante), a dosagem de hormônio, principal marcador da menopausa, ele vai subindo conforme a mulher perde a função do ovário, ou seja, entra na menopausa.
L'Officiel: Por que falar da menopausa? Acha que o tema ainda é um tabu?
Lu Bacchi: O tema ainda é um tabu, mas devemos falar muito sobre isso, porque o quanto antes tratarmos da menopausa, é mais fácil de resolver. Então, quando os sintomas começam a aparecer, é muito importante procurar um médico que realmente entenda desse assunto para auxiliar no melhor tratamento.
L'Off: Com que idade começou a sentir os sintomas da menopausa?
Lu Bacchi: Comecei a sentir os sintomas dos 48 para os 49 anos.
L'Off: Demorou para entender que eram sintomas da menopausa? Como foi?
Lu Bacchi: Sim, demorei para entender, até achei que era depressão por ter sido no início da pandemia, já que eu tinha muita oscilação de humor.
L'Off: Qual o pior sintoma da menopausa?
Lu Bacchi: Irritabilidade, mudança de humor e cansaço foram os piores sintomas que senti, foi muito difícil. A gente realmente se confunde com a depressão, eu chorava muito, mas não tinha o sintoma do calor, que muitas mulheres sentem. Esses foram meus piores sintomas, meu pior começo de ano foi o de 2020.
L'Off: Todas as mulheres terão os mesmos sintomas?
Dr Igor: Os sintomas podem variar bastante entre as mulheres, algumas podem ter tudo isso, outras podem ter quase nenhum, mas para a maioria vai ser uma fase sofrida e difícil. Algumas podem não ter esses calores, mas sem tratamento, a menopausa de médio a longo prazo, a mulher envelhece fisicamente. O aspecto da pele piora muito, tem uma tendência grande de ter osteoporose se ficar muitos anos na menopausa – o que é muito novo na história da humanidade, viver tantos anos depois da menopausa. A parte urogenital vai atrofiando, resseca a ponto de, praticamente, não conseguir mais ter relação; para boa parte das mulheres isso vai acontecer, se não receber o tratamento adequado.
L'Off: Qual a importância do acompanhamento médico para a menopausa?
Dr Igor: A importância do acompanhamento médico é para qualidade de vida, amenizar todos sintomas que, para muitas mulheres é uma fase de transição muito difícil pelos sintomas que costumam aparecer, a mulher sente muito mal. E não só por uma questão de saúde e longevidade, porque hoje já é mais do que comprovado que as mulheres que recebem tratamento adequado para menopausa, elas têm menos doenças, como o alzheimer e osteoporose, por exemplo, tem melhor qualidade de vida e também diminui o risco de doenças cardiovasculares, que é a principal causa de morte em mulheres, mais do que câncer de mama, é a doença cardiovascular, infarto e AVC.
Então, quando a mulher trata adequadamente da menopausa, nessa fase, o risco é reduzido, ou seja, a mulher vive mais se receber tratamento adequado.
L'Off: Como amenizar os sintomas?
Dr Igor: Com terapia hormonal, também conhecida como reposição hormonal, que é repor os hormônios que a mulher deixou de produzir naturalmente nessa fase. Hoje em dia, usam hormônios bio-idênticos, que são sintetizados em laboratórios, mas são exatamente iguais as moléculas naturais, diferente dos hormônios sintéticos – usados no passado.
É importante destacar que a terapia hormonal moderna é muito diferente da que se usava décadas atrás. Os estudos geraram muita controvérsia com relação ao aumento de câncer e doenças cardiovasculares.
L'Off: Consegue ver algum lado positivo no período?
Lu Bacchi: Não, nenhum lado positivo. Que fase difícil, que você não se entende, não se aguenta, nada em você te agrada, tudo e todos ao seu redor te irritam. É uma fase horrível.
L'Off: Como está sendo o processo do envelhecimento para você?
Lu Bacchi: Hoje, após minha reposição hormonal, estou ótima, estou indo muito bem, disposta, animada e fazendo minhas reposições a cada 6 meses. Às vezes até me admiro com minha disposição, energia e bom humor. Acho que é muito importante o tratamento, ainda que algumas pessoas não possam por conta dos hormônios, existem tantos outros métodos que podem ser feitos. Da maneira que for, é importante tratar, seja com remédios, implantes ou algum método mais natural – é necessário encontrar uma solução, porque esse período não é fácil para nenhuma mulher.