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Síndrome de final de ano: como lidar com os sentimentos?

Síndrome do fim de ano: saiba como lidar com o turbilhão de sentimentos nessa época do ano

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Chiara Ferragni | Instagram @chiaraferragni

O final do ano chega como um ponto de inflexão em nossas vidas, marcado por reflexões, celebrações e, muitas vezes, um misto de emoções que parecem fugir do controle. Entre a euforia das festas, as expectativas para o próximo ciclo e o peso das metas não cumpridas, o período se torna um terreno fértil para sentimentos como ansiedade, nostalgia e exaustão emocional.

Neste momento de balanço interno e externo, entender o que é a chamada "síndrome do fim de ano" pode ser um passo essencial para navegar por esse turbilhão com mais leveza e clareza. Por isso, a L’Officiel Brasil convidou a Dra. Nina Ferreira,  médica psiquiatra e psicoterapeuta, para desvendar os impactos psicológicos desta época e oferecer dicas práticas para transformar o caos emocional em autocuidado e renovação! Confira abaixo:

 

O fim de ano traz à tona um turbilhão de sentimentos. Como podemos identificar se estamos lidando com uma sobrecarga emocional típica ou algo mais sério, como ansiedade ou depressão?

O fator mais importante para avaliar a diferença entre uma patologia e emoções naturais do contexto, do momento, do ser humano é a intensidade e frequência. Então, essa dupla intensidade frequência é o que vai diferenciar o que é natural do que é patológico. Então, se a intensidade da ansiedade ou da tristeza, do desânimo são tão fortes, é tão forte ao ponto da pessoa não conseguir reagir a ela, não conseguir conduzir a vida por conta dessa intensidade, da ansiedade ou da depressão, é um sinal de alerta para buscar ajuda. E se essa ansiedade está frequente na maior parte do tempo, dos dias, das semanas. E se essa tristeza ou desânimo estão presentes na maior parte do tempo, dos dias, das semanas, a maior parte do tempo também é sinal de que é importante buscar ajuda médica porque já houve uma descompensação do que é esperado como típico para essa fase. 

 

Então intensidade da ansiedade, da tristeza, do desânimo, da falta de vontade e frequência. Se incapacita a pessoa para tocar a vida dela, para cumprir o básico da vida dela, precisa buscar ajuda médica. Agora, se é uma ansiedade pontual, passageira, suportável, que não congela, que não paralisa, que não limita as partes mais importantes da vida, ou uma tristeza que é passageira, que não impede a pessoa de agir, de fazer o que precisa ser feito, de buscar caminhos, de sentir prazer. Aí são de fato emoções, que são essas emoções primárias e secundárias que todo ser humano sente e que são saudáveis de serem sentidas.

 

As redes sociais potencializam a comparação e as pressões sociais, especialmente no fim do ano. Que estratégias podem ajudar a lidar com essa influência negativa?

A principal estratégia é viver a própria vida aqui no mundo real. Então, enquanto você ocupa o seu cérebro, das suas atividades de trabalho, de convívio familiar, de cuidado com a própria saúde, de lazer, de organizar o futuro, de momentos de descanso, relaxamento, enquanto você ocupa o seu cérebro com a sua vida real, ele tem menos espaço e menos atenção para se dedicar a comparações, seja na vida real ou nas redes sociais. 

 

Então, viver a vida prática, colocar a mão na massa, executar atividades, se envolver com as coisas da sua vida do cotidiano, dia após dia, é a melhor forma de se distanciar dessa pressão da comparação e da expectativa, e conforme você vai vivendo a sua vida, realizando. Passando pelas experiências, você vai ganhando reforços de que é o melhor caminho, porque você vê a sua vida evoluir, você adquire mais autoconhecimento, mais autodomínio, você sonha coisas novas, conquista coisas novas, aprende com as dificuldades, então dessa forma você vai ocupando o seu cérebro com você e a sua vida e abre menos espaço para comparação e pressão.

  

A busca por metas não atingidas pode trazer frustração. Como transformar esse momento em algo positivo e não paralisante?

Bom, se você percebe que tinha metas que não foram atingidas, a melhor forma de lidar com isso é avaliar o que você pode fazer de diferente, o que faltou e no geral é importante a gente se concentrar numa habilidade nossa, numa qualidade humana e não em coisas que não dependam da gente. Então, por exemplo, me faltou um pouco de disciplina, me faltou persistência, me faltou coragem, me faltou atenção, foco, então perceber o que te faltou e começar a trabalhar em cima disso, e, ao mesmo tempo, também olhar para as conquistas que você teve ao longo desse período para não focar, para não enviesar só para o que aconteceu de negativo, e entender que a gente tem metas como parâmetros, metas são guias, são direcionadores. 

 

Para que a gente conquiste as coisas na vida, nunca depende exclusivamente só da gente. Existe o acaso, existe a necessidade de colaboração de outras pessoas, então a gente precisa se dedicar a fazer o melhor possível da nossa parte e desenvolver habilidades ou corrigir falhas a partir das atitudes do dia a dia e não coisas fantasiosas, se obrigar a atingir metas que não dependam exclusivamente da gente.

 

Como equilibrar as expectativas familiares e sociais, muitas vezes intensificadas durante as festas? É possível manter os próprios limites sem culpa?

O mais importante é fazer uma revisão de quais são esses seus limites, do que você está disposto a abrir mão, porque a gente sempre precisa ceder algo e do que é inegociável para você. Essa revisão você precisa fazer no silêncio sozinho para perceber o que, naquele momento, naquele fim de ano, você consegue ceder e o que você não consegue. Primeiro você precisa clarear isso dentro de você para depois poder colocar isso para os familiares, para os amigos de uma forma tranquila, como um diálogo, uma conversa. 

 

Olha, esse ano eu pensei eu não vou poder passar o Natal aqui, eu não vou poder fazer tal coisa, mas isso aqui eu consigo, posso ajudar dessa forma. Esse ano eu estou precisando mais de ficar sozinho, esse ano eu quero viajar para relaxar, esse ano eu estou disposto a receber o pessoal em casa. Mas, primeiro, você precisa ter isso claro e entender que você está colocando esses limites como uma questão de respeito por si próprio e não como uma forma de agressão aos outros. Porque quando você entende que você está se respeitando, esse sentimento de culpa diminui bastante. Apesar que sempre tenha um pouco, porque a gente tem essa tendência a querer agradar as pessoas, sejam as que a gente gosta muito ou seja a sociedade. 

 

Então, zerar culpa, responsabilidade é muito difícil, mas dessa forma você consegue balancear e entender que é amor próprio. Lembrando que é importante também que você esteja disposto a entender esses limites e essas solicitações do outro e entender também que quando você coloca os seus limites o outro tem o direito de não gostar, de não ficar feliz e a gente não tem como obrigar o outro a ficar feliz com os limites que a gente coloca. Então esse respeito precisa ser dos dois lados.

 

Você poderia compartilhar dicas práticas para quem quer começar o novo ano com mais serenidade e clareza emocional?

Você poderia compartilhar dicas práticas para quem quer começar o novo ano com mais serenidade e clareza emocional. Uma dica bem prática que é necessária para ter essa serenidade, essa clareza emocional são esses momentos de revisão mental e emocional. Então a orientação é todos os dias pela manhã, você pense uma qualidade ou uma atividade que você quer priorizar naquele dia e ao final do dia você revisa como você se comportou, o que você sentiu a respeito disso, se você teve dificuldades ou não, o que você conseguiu, o que não conseguiu. 

 

Então é como se você fizesse uma programação de comportamento, de emoção no começo do dia e uma revisão no final do dia, porque dessa forma você vai monitorando dia a dia o que é difícil para você, o que é fácil, o que você está evoluindo, o que não está. E quando você perceber dificuldades você poder elaborar planos. De buscar ajuda para isso então, terapia, leituras, um esporte… é conselho de pessoas mais experientes então a única forma de você poder se sentir com mais clareza mental e emocional e mais serenidade é se conhecendo melhor, entendendo seus pontos fortes e fracos e reforçando os pontos fortes fazendo bastante uso deles no dia a dia, nas atividades práticas da vida e buscando auxílio para os pontos fracos para melhorar o máximo possível, entendendo que o objetivo não pode ser perfeição porque é inatingível. O objetivo é o aperfeiçoamento, é pouco a pouco ir buscando esse melhoramento como ser humano porque as outras conquistas materiais de vínculos afetivos vão vir como consequência, então a dica prática é essa, fazer um planejamento mental e emocional no início do dia, uma coisa bem prática e depois no final do dia fazer essa revisão e buscar evoluir dentro disso.

 

O simbolismo de ‘fechar ciclos’ no fim do ano pode gerar pressão. Qual a importância de entender que nem tudo precisa ser concluído ou resolvido até o Réveillon?

Na verdade, é essencial entender isso, acho que fica claro para todos nós, o grande desafio é as pessoas aceitarem isso e se convencerem disso. Então, a principal orientação é olhar para o passado, lembrar de quantos fins de ano e réveillons você já passou, do quanto essa sensação já veio, de que faltava tempo, de que não ia ter mais jeito, não ia ter mais solução. E no outro ano a vida continuou, novos acontecimentos vieram, novos sonhos, novas experiências, sentimentos, emoções. 

  

Então, o passado é um professor muito importante, olhar para esse passado, para esses episódios de fim de ano e réveillon, lembrar da angústia que gerava e que depois ficou tudo bem, as coisas foram se encaixando, é a melhor forma de tolerar e aceitar que vai ser mais um fim de ano e que coisas boas acontecem, outras nem tanto, e a vida vai seguir da mesma forma no ano seguinte. Então, esse realismo, esse colocar os pés no chão, se basear nos fatos da vida e não nesses monstros e preocupações que a nossa mente muitas vezes cria.

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