Arte em fios: Alex Rocca eleva a tapeçaria a outro nível
Sensoriais e tridimensionais, as obras de arte de Alex Rocca levam a tapeçaria a um universo rico em poética e ancestralidade.
Em um momento no qual a arte contemporânea busca constantemente novas formas de expressão, o artista curitibano Alex Rocca encontrou no artesanato tradicional uma maneira única de criar. Seu trabalho com tapetes vai além do utilitário, ao transformar fibras naturais e sintéticas em obras de arte que encantam pela originalidade, pela elegância e pela profundidade.
Formado em cinema, Alex trabalhou por 15 anos com direção de arte e cenografia. Durante esse período, sempre esteve à procura de referências de artes plásticas no Brasil, onde passou a pesquisar obras de arte em seus diversos formatos, em especial o têxtil. Artistas negros como Manuel Araújo, Rubem Valentim e Sônia Gomes serviram de inspiração para suas concepções artísticas.
Em 2019, decidiu que iria se dedicar integralmente às artes plásticas, por entender que estava cansado e insatisfeito com a rotina nos bastidores do cinema. Foi após um encontro com um guia espiritual que Alex percebeu a necessidade de migrar de área e mergulhar nesse universo. A partir de então, decidiu dar início ao seu novo caminho profissional, aberto para experimentações, possibilidades e aprendizados. “Pesquisando na internet, descobri a pistola de tufting, que hoje no Brasil é superpopular, mas naquele momento não tinha ninguém fazendo por aqui. Comprei a pistola e comecei a produzir peças de forma despretensiosa e a postar esse processo nas redes sociais. Pela novidade da técnica, acredito que chamou a atenção das pessoas, até que recebi o convite da Cris Rosenbaum para participar de uma feira no fim de 2019. Nesse momento, sem dúvida, houve uma virada de chave na minha vida”, relembra Rocca.
Tapetes como expressão artística
Em 2021, Alex passou a se entender como artista plástico e a dar outro significado a seu trabalho. Os conhecimentos adquiridos no decorrer de sua trajetória no cinema, na publicidade e no design foram somados aos seus estudos sobre a tradição africana e aplicados em suas produções de forma estratégica e organizada.
Nas suas obras, Rocca utiliza a lã como principal matéria-prima, mas faz uso também de outros materiais e suportes, como latão, pedra e madeira. Como artista plástico, Alex Rocca prioriza a versatilidade para que seus tapetes, suas esculturas e outras peças possam traduzir suas ideias. “Apesar de já ter produzido peças seriadas, eu prefiro fazer exclusivas. Meu trabalho leva tempo, e eu entendi a importância de viver cada momento para que as pessoas possam se conectar com meu trabalho”, explica o artista.
Para Rocca, o processo de criação de um tapete começa muito antes de ele tocar os fios. Cada peça é o resultado de uma longa reflexão sobre a escolha dos materiais, a combinação de cores e a definição de um tema. “Quando penso uma série, como as que elaborei para expor na SP-Arte nos últimos três anos, penso em primeiro lugar a temática, o lugar de estudo que estou olhando, e em seguida vou para a criação, pensando se dá para fazer de forma bordada, manipulada ou costurada”, conta.
O modo com que Rocca trabalha tem chamado a atenção de críticos e colecionadores, especialmente pela maneira como ele ressignifica o conceito de tapeçaria. O artista investe em peças que exploram a materialidade, a forma e a textura de maneiras inesperadas. Suas criações frequentemente apresentam padrões geométricos interrompidos por elementos orgânicos e paletas de cores que mexem com os sentidos.
Novos desafios
Rocca solidificou seu lugar no cenário artístico brasileiro como um mestre na arte de tecer. Suas obras, que combinam tradição e modernidade, ultrapassaram as fronteiras e chegaram a exposições em outros países, como Rússia, Itália e Estados Unidos, como a Chormatica, que ocorreu em 2022 na The House of Arts, em Miami. Para o ano que vem, o artista prepara uma nova exposição na SP-Arte. Hoje, aos 42 anos e cinco de dedicação à arte têxtil, entende a importância do tempo para o amadurecimento do seu trabalho e comenta as dificuldades desse processo. “Minha maior dificuldade é ser um vendedor e empresariar meu trabalho. Parei de trabalhar com o cinema em 2019, há cinco anos vivo só disso. Fazer acontecer de forma produtiva e pensar em todas as logísticas é muito difícil. Então a gente entende que a vida é sobre isso, é sobre os processos”, finaliza.