Fabio Melo mistura referências regionais do nordeste em designers
Fabio Melo mistura referências regionais, com influência das estéticas do cangaço e do Movimento Armorial, a traços contemporâneos e minimalistas
Expert em ressignificar objetos típicos do cotidiano no sertão, Fabio Melo mistura referências regionais, com influência das estéticas do cangaço e do Movimento Armorial, a traços contemporâneos e minimalistas. Confira!
Suas peças lembram a tradição do design escandinavo, criando uma identidade única e, ao mesmo tempo, plural. Natural de Caruaru, em Pernambuco, o designer Fabio Melo ganhou uma mostra individual, sua primeira em São Paulo, e por meio dela conta sua trajetória. “Falo da minha vida através das peças que crio”, explica ele, que traz referências de sua infância nordestina. “Saí de Caruaru para morar sozinho em Recife quando tinha 11 anos. Meus pais montaram uma estrutura e fui. Já na capital, no meu primeiro dia de aula, quando abri a boca, sofri o que hoje chamam de bullying. Todo mundo me chamava de matuto e isso pegou fundo na minha alma e na minha vida, coisa que tentei negar por muito tempo”, lembra Fabio, que cursou desenho industrial pela Universidade Federal de Pernambuco. Depois de formado, zarpou para Paris onde passou três anos estudando no Atelier Blaise Rossetti.
De volta ao Recife, comandou por quase duas décadas um dos maiores escritórios de design gráfico do Nordeste. Mas foi em Goiânia, onde vive há 15 anos, que decidiu mudar de profissão. Passou a se dedicar full time a uma paixão: a criação de mobiliário e peças de decoração. “Quando resolvi me tornar designer de produto, tudo o que neguei a vida inteira voltou e floriu de forma latente. Por isso meu trabalho é muito de raiz, com referências diretas da Feira de Caruaru, do Alto do Moura...”, diz o artista, que tem como marca registrada a mistura de linhas retas, em um estilo contemporâneo, industrial, mas sempre com a presença da artesania: “Algum ponto, nem que seja uma costura no couro, tem que ser manual martelado por um celeiro ou um fragmento de madeira feito por algum artesão”.
Em 2016, Fabio lançou sua primeira coleção, batizada de Turbulência, com uma peça que viria a se tornar sua assinatura: o vaso Caatinga, em uma parceria com a Zanatta Casa, consagrada marca de faiança brasileira. Em matéria recente, Daniela Falcão, jornalista e fundadora do projeto Nordestesse, que inclusive vende algumas peças do designer, batizou seu estilo de “escandinavo sertanejo” e a denominação tocou fundo no coração do pernambucano. “É exatamente o que eu tento fazer, trazer essa influência da escola escandinava, mais limpa, junto com um pouco dessa mão do nosso povo, que é uma coisa que me emociona muito.”
Nesta mostra em São Paulo, o visitante mergulhará em um nordeste esteticamente rico e surpreendente, uma explosão de criatividade que nasce a partir da valorização da história e do artesanato da região, e que se consolida em objetos intrigantes, afetivos e que mostram que é possível unir poesia, design e ancestralidade. A exposição Sertão sobre sertão, que fica até 27 de janeiro de 2024, na Casa Gabriel, apresenta 46 obras distribuídas por quatro espaços da galeria: uma grande instalação na entrada, uma sala dedicada à série de oratórios feitos em parceria com alguns dos mais renomados artesãos nordestinos, outra com o resultado de sua imersão na Ilha do Ferro e em povoados do Baixo São Francisco, e a sala principal, com uma coletânea de seus 12 anos de carreira.
