Beleza

Ativismo na cabeça: o mundo da beleza em respeito ao planeta

Tratamentos com ingredientes naturais, produtos em embalagens verdes e processos mais sustentáveis chegam aos salões de beleza, mostrando que não há caminho senão o de respeito ao planeta
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Segundo um levantamento da agência de tendências WGSN, o impacto regenerativo dos produtos que usamos é uma preocupação para um terço dos consumidores brasileiros (e esse número deve atingir 50% com muita rapidez). Fato é que o movimento por mais sustentabilidade chegou com tudo no mercado de beleza, incluindo produtos e salões. “Não enxergo isso como uma tendência, mas como um reflexo de um novo olhar, um novo comportamento de consumo, nesse caso. E que não é movido a modismos, mas a uma visão sensível ao impacto que nossa vaidade pode ter, tanto em nossa saúde quanto no meio ambiente”, fala Marcela Rodrigues, especializada em beleza limpa, designer em sustentabilidade e consultora para consumo consciente. Sim, embalagens descartáveis são coisa do passado, assim como ingredientes nocivos ao meio ambiente. “Nossa vaidade não pode ser mais um gatilho de poluição ambiental. E isso não é modismo. É urgência”, afirma ela. A questão é tão premente que deixou as marcas de nicho para ganhar o mercado de massa, incluindo as gigantes Unilever, com Love Beauty and Planet, e P&G, com Herbal Essences. Enquanto a primeira traz ingredientes naturais, fórmulas livres de silicones, tecnologia fast rinse (que permite um enxágue mais rápido, economizando dez segundos a cada banho) e frascos feitos de plástico PET 100% reciclado (e também recicláveis), a segunda é a única marca de cuidados capilares do mundo com botânicos reais certificados pelo Royal Botanic Gardens, Kew, da Inglaterra. “Produtos com menos ingredientes tóxicos significam menos venenos escorrendo pelo ralo e indo parar em nossas águas. Vale lembrar que nosso sistema de esgoto não filtra boa parte dessas substâncias. Até elementos plastificantes existem em algumas fórmulas”, observa Marcela. Outra novidade são os produtos em barra. Seu sistema de fabricação agride menos os recursos naturais, uma vez que utilizam menos água em sua formulação e ainda permitem economia de armazenagem e redução da quantidade de material utilizado na produção de embalagem. “Um shampoo em barra, por exemplo, contribui com o meio ambiente não só pelo fato de não ter água em sua composição, mas também porque usa uma embalagem menor do que a versão líquida, que geralmente vem em vidro ou plástico. O produto em barra pode recorrer a um papel biodegradável, gerando menos lixo”, explica a mestre em ciências farmacêuticas e cosmetóloga Karina Soeiro.

Ingredientes naturais

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1. Óleo finalizador, UP2YOU
Com óleo de coco, argan e jojoba, vitamina E e livre de paba, óleos minerais, ftalatos, tolueno e outros ingredientes prejudiciais à saúde. A embalagem é reciclável e tem tempo de decomposição reduzido.

2. Shampoo Phytnovathrix, PHYTO
As células-tronco da Globularia são uma alternativa de ingrediente para tratamentos de perda de cabelo: ajudam a prolongar a fase anágena e atrasam a fase telógena, além de participar da produção de energia necessária para o folículo se renovar e limitar o estresse oxidativo, que altera a qualidade da fibra capilar.

3. Condicionador Smooth and Serene, LOVE BEAUTY AND PLANET 
Traz óleo dourado de argan, do Marrocos, e fragrância relaxante de lavanda francesa. A marca vegana do grupo Unilever tem frascos de plástico 100% reciclados, é feita de extratos naturais e possui certificação da Vegan Act e Peta.

4. Shampoo Cabeleira Cacheada Maracujá, L’OCCITANE AU BRÉSIL
Tem 87% de ingredientes de origem natural, é livre de sulfato e vem em frascos 100% reciclados.

5. Máscara de hidratação, HERBAL ESSENCES BIO RENEW LEITE DE COCO 
Sua fórmula hidratante e nutritiva não contém parabenos, corantes nem sal e é feita em uma fábrica com 0% de resíduo ao aterro sanitário.

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6. Condicionador modelador em barra, B.O.B
Pode ser utilizado durante e após o banho, como condicionador e leave-in. Combina queratina vegetal com manteiga de manga e óleo de pracaxi. Para utilizar, basta umedecê-lo.

7. Hair Parfum Gloah, CELINA LOCKS BEAUTY
Une os perfumes de Grasse e o poderoso óleo de cacau da Amazônia, extraído de forma orgânica e sustentável. O cultivo é importante para o reflorestamento, pois adiciona nutrientes ao solo, protegendo a biodiversidade da floresta e favorecendo o crescimento de outras espécies.

Menos impacto nos salões de beleza

E a pegada verde vem ganhando espaço também nos salões de beleza. O salão L’Officiel, em São Paulo, tem na rotina a reciclagem de resíduos. Frascos de shampoos, bisnagas de tinta, luvas e até mesmo cabelos são separados e seguem semanalmente para um destino correto, por meio de parceria com a empresa Dinâmica Ambiental, criadora do programa Beleza Verde. “Sabemos que esses processos, no dia a dia, trazem a importância da reciclagem e acabam replicados na casa de cada um que trabalha no salão”, fala o hair stylist e sócio Marcello Pascotto. Em 2020, o salão destinou 0,482 ton ao programa para reciclagem. “Foram 66% a menos de CO2 em comparação à coleta comum”, diz ele.

No salão Casa Simpe, em Florianópolis, um sistema exclusivo de tratamento de água chamado Stap, da Ela Susten- tável, oferece água livre de resíduos de cloro nos lavatórios. “O resultado, além de tratamento e resultado potencializados, é a economia de produtos. A água livre de cloro exige menos finalizadores, por exemplo, para os fios terem maciez e brilho. Assim, também geramos menor descarte de resíduos e embalagens”, fala Hyanca Depieri, sócia do salão.

Pioneira em consciência ambiental, a cosmetóloga Cris Dios levou o conceito de tratamentos saudáveis para cabelos para todas as unidades do Laces – em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte. Em 2017, a empresa comprou a primeira fábrica certificada orgânica do Brasil para cultivar as próprias matérias-primas usadas nos salões. A unidade do Laces and Hair em Moema tem projeto 100% sustentável: mais de 80% dos materiais utilizados são reaproveitados, como tijolos, telhas e madeiras de demolição, evitando o descarte. O ponto alto é a lavagem dos cabelos, feita com água coletada da chuva: cisternas de 20 mil litros armazenam a água, que passa por um sistema de tratamento ativo por osmose reversa. Em 2016, a marca lançou a primeira coloração vegetal do Brasil. E os alicerces ambientais da empresa incluem uma série de cuidados, que vão desde a fabricação dos produtos e o aproveitamento de água até o uso de ingredientes orgânicos e low chemical, produtos rastreáveis (perdas pequenas), redução de resíduos e compensação de carbono com parceria firmada há seis anos com a Carbon Limited, equilibrando e compensando as emissões de gases de efeito estufa. Sob a chancela de Cris Dios está também a marca Aveda e o Bioma Salon Aveda, em São Paulo, com serviços de alto desempenho e performance, à base de ingredientes naturais, atrelados aos preceitos da ayurveda e do respeito ao meio ambiente. “Nossa sinergia com a marca percor- re também a maneira de se relacionar com a natureza e como trazer a melhor versão de cada um”, diz Cris. Para conceber o projeto, experts em sustentabilidade chegaram a uma matriz energética extremamente eficiente e pouco comum para o setor, na qual energia limpa impacta em 30% o consumo da unidade. A loja possui tecnologia fotovoltaica, aquecimento solar de água dos lavatórios e estação de tratamento físico e químico.

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LACES AND HAIR, MOEMA (Foto: FABIO ZANZERI/DIVULGAÇÃO)

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