Chanel revela seus métodos por trás das coleções de maquiagens 24/25
As autoras das coleções de maquiagem Chanel 2024/25 falam sobre seu método de trabalho e como o legado da maison as inspirou
Em outubro de 1922, o anúncio da tão esperada sucessão de Lucia Pica pegou de surpresa profissionais e fãs da marca. Porque não foi nomeado um novo diretor criativo de maquiagem, mas sim três, complementares entre si em termos de cultura, origens e relações privilegiadas com meios de comunicação e talentos significativos em diversos países: Ammy Drammeh, Valentina Li e Cécile Paravina, unidas no Comètes Collective. Valentina Li e seu corte bob azul elétrico e estética ousada, dominada pela obsessão pelo mar e pelo fascínio pelas águas-vivas, com referências que vão de Eiko Ishioka, a cultuada figurinista japonesa de Te Cell, vencedora do Oscar por Drácula de Coppola, junto com Pat McGrath e Serge Lutens, foi a primeira a assinar uma coleção de maquiagem neste ano, a de primavera. A de verão, Jardin Imaginaire, foi o resultado da visão de Ammy Drammeh, que tem raízes entre Espanha e Gâmbia, radicada em Londres, e exibe um currículo repleto de shootings em revistas de moda, um imaginário alimentado por referências a Kevyn Aucoin e os videomusicais dos anos 1990 e Pat McGrath. A coleção 2024/25, Clairvoyance, é obra de Cécile Paravina, formada na Academia de Arte de Antuérpia e parisiense por opção, habituada a trabalhar (muitas vezes com Elizaveta Porodina) com a audácia imaginativa daquele que considera o seu mentor, Serge Lutens.
Uma coleção inspirada na obsessão de Gabrielle Chanel pela numerologia, astrologia, adivinhação, que para beauty artist não se traduz em uma procura de esoterismo, mas sim na ideia “de que a própria mademoiselle Chanel foi capaz de prever o futuro, no estilo, na moda, formas e cores”. Se cada uma das três assina a própria coleção, a troca de ideias (também com o estúdio de makeup interno) é a base do seu método de trabalho.
L’OFFICIEL O que vocês associavam instintivamente à Chanel antes de trabalhar para a maison?
CÉCILE PARAVINA Os desfiles de alta-costura outono 1999 e outono 2007 são as coleções que me levaram a estudar moda depois do ensino médio.
VALENTINA LI O espírito revolucionário da fundadora, os clássicos ternos de tweed e o fascínio sofisticado do Chanel N° 5. Um estilo que é o próprio epítome da graça, da autoconfiança e da elegância sem esforço.
AMMY DRAMMEH Luxo e versatilidade.
L’O Qual imagem, embaixadora ou cosmético você acha mais emblemático?
CP Devon Aoki nos anos 1990 e início dos anos 2000. Um produto que me marcou na minha abordagem à beleza foi uma tonalidade particular do Rouge Coco Gloss, o Caviar, um gloss preto transparente que usei muito nos meus primeiros trabalhos.
VL O Regard Lacquer. A ousada sombra vermelha e a textura brilhante na pálpebra me pareceram uma forma de expressão artística que transmitia autoconfiança e audácia, uma imagem que encapsulava a capacidade da Chanel de combinar inovação absoluta com elegância atemporal.
L’O Que método de trabalho vocês seguem?
CP Nós nos reunimos no escritório de Paris várias vezes por mês. Alternamos projetos coletivos e individuais, no primeiro caso expressando a nossa visão pessoal da maison, no outro atingindo vários públicos em conjunto, diversas audiências.
VL Nossa colaboração é extremamente natural, muito orgânica. Quando começamos a falar sobre beleza, ninguém nos faz parar. Mais do que trabalhar juntas, eu diria que aprendemos juntas.
L’O Como vocês trabalham na paleta de cores?
CP Pessoalmente, utilizo moodboards, preciso de um suporte visual no qual possa agrupar temas e conceitos que emergem da minha pesquisa on-line e também de livros antigos.
VL Como uma storyteller, preciso criar uma narrativa antes de completar o quadro com todos os seus elementos. A inspiração pode vir de qualquer coisa, de uma folha caindo, de uma pedra achada na praia, de um objeto encontrado em um mercado de pulgas.
L’O Em quais inovações vocês estão trabalhando com os laboratórios Chanel?
CP Estamos todas as três interessadas em produtos multiúso.
L’O Em que basearam suas respectivas coleções? Existe algum vestido, acessório, símbolo ou imagem com que identifica a marca e que foi o ponto de partida do trabalho de vocês?
CP Minha coleção foi inspirada no interesse de mademoiselle Chanel pelas artes adivinhatórias. Pessoalmente não sou supersticiosa, mas fiquei profundamente comovida pela forma como ela transformou os seus talismãs e suas obsessões pessoais em elementos visuais, quase no próprio alfabeto: o leão, o número 5, os CCs, a espiga de milho, os cometas…
VL A alfaiataria impecável do terno de tweed, a interação entre texturas e cores da moda me inspiraram a criar coleções que refletem o mesmo nível de sofisticação e atenção aos detalhes.
AD Algumas imagens de Jean Paul Goude.
L’O Qual o produto dos seus sonhos?
VL Se falamos de futuro, um produto multifuncional. Se falamos do existente, Baume Essentiel.
AD Um produto verdadeiramente transformador que faz o trabalho de muitas pessoas diferentes, algo que qualquer pessoa possa usar e reinterpretar.