Tendências: a beleza eclética toma conta da temporada
Na pista! House, disco, ballroom, indie, glam rock e britpop: a cultura tem lugar reservado no nécessaire de quem acompanha tendências.
A moda que fez sucesso nos anos 2000 ainda segue ganhando o coração de uma parcela de jovens da Geração Z (dos nascidos entre 1995 até 2010). Já na beleza, o impacto dessa tendência não foi lá muito duradouro. As pálpebras azul bebê, o afinamento das sobrancelhas e a boca com delineado mais escuro até que seguem firmes e fortes nos feeds das redes sociais, porém outras vertentes de beleza ofuscam essas características na vida analógica, já que o movimento Y2K parece muito caricato para inúmeras amantes da maquiagem. “Esse é o tipo de beleza que ficava muito interessante nos vídeos da TV, de 20 anos atrás, que ainda não tinham a resolução que conseguimos hoje. Precisávamos pesar mais na maquiagem para ela aparecer na tela”, explica Matheus Colen, produtor executivo e roteirista.
Indie sleaze
Em 2010, o indie rock vivia o seu auge. E o retorno desse momento de ouro para quem adorava afundar as galochas na lama dos festivais chegou. Coloque então uma faixa do Babyshambles para tocar e invista no visual das musas daquele período – e que ainda seguem ótimas em suas produções –, como a modelo Alexa Chung, a top Kate Moss, a cantora-compositora Sky Ferreira e a atriz Sienna Miller. No nécessaire delas, para quem não recorda desse momen- to áureo dos blogs de look do dia e dos posts bem menos produzidos nas redes sociais, podemos observar muita máscara de cílios usada de forma displicente e com bastan- te volume. Outro item indispensável? O lápis de olho meio derretidinho na linha d’água e pálpebra inferior, visto aos montes nos últimos desfiles de prêt-à-porter e alta-costura. Cabelos texturizados, com pó para dar volume ou xampu seco, e uma pele natural mais pálida, com, no máximo, um blush que dá aquele coradinho de um dia quente de verão, também retornam. É a volta da estética do imperfeito, de quem está cansado de tantos posts com filtros e produções. Piercing, chapéu, lenço e óculos escuros também integram o look de beleza indie sleaze. Além disso, o pink também pode ser muito rock. É o Barbiecore, tendência que arremata o rosa-choque da boneca da Mattel para dar vibração aos lábios e pálpebras, sem parecer romântico.
Em movimento
Dois anos dentro de casa, esperando o pior da pandemia passar, não foi um momento de reclusão fácil para quem gosta de uma festa. Agora, com índices muito mais aceitáveis de vacinação e a retomada intensa das festas, não dava para esperar uma tendência de beleza muito comportada ou minimalista, não é mesmo?
Com o aumento do interesse pelas pistas de dança e performances ali estreladas, além do estrondoso début do primeiro ato de Renaissance, novo projeto de Beyoncé, quem ama uma make se abriu para um mundo de possibilidades com glitter, gel, sombras de tons nada discretos e muito batom (que saudade que estávamos de usá-lo plenamente, sem a máscara cobrir). Mas nem só de Beyoncé se faz a trend que resgata elementos de beleza da disco music, do ballroom e do house. Podemos contar com a presença da cantora Lizzo, dos vídeos de Reels que sobem no Instagram de uma das maiores maquiadoras do mundo, Pat McGrath, e também de ícones, como Grace Jones e Prince, para citar algumas personas de respeito que recheiam as referências de quem está amando voltar a dar close sem medo de esbanjar produtos dos mais variados tons e texturas. Nos cabelos, coques trançados, extensões, muitos adornos e brilho. Nada de monotonia na beleza do agora, ainda bem!
O que os experts pensam?
“Renaissance, com certeza, é o álbum mais dançante de Beyoncé. Você não consegue ouvir sem se mexer pelo menos um pouquinho. Parece que a artista previa que, após um período de isolamento, as pessoas iam vibrar com suas músicas nas festas e eventos. A estética nas fotos é inspirada nos grandes ícones da era House. A cultura ballroom, movimento que celebra a diversidade de gênero, sexualidade e raça, também vem como referência fortíssima no disco. A beleza ali é tomada por liberdade: lábios laqueados com muito gloss, cores vibrantes e contorno evidente. E não só isso: batons com textura metalizada, muitas cores de sombra numa única maquiagem, olhos com acabamento gráfico ou esfumado bem marcado.”
Angélica Silva, beauty expert.
“Esse movimento da beleza maximizada vem do momento em que as pessoas querem sair e se divertir. É uma ação de liberdade, para se expressar. Com isso, a maquiagem se volta para os movimentos musicais para afirmar, de certa forma, essa volta à vida fora de casa. Cores sem ter medo de ousar, o uso de batom, de blush e de sombra com mais pigmentos: tudo traz à tona tanto a estética indie quanto o universo das pistas, disco.” Helder Rodrigues, maquiador.
“As pessoas estão vivendo até hoje as consequências de tirar as sobrancelhas finas. Então essa trend de fazê-las assim agora, em 2022, na minha opinião, flopou. O melhor a se fazer é aceitá-la como ela é e deixá-la o mais natural possível. Sobre as outras tendências Y2K (dos anos 2000), é algo muito mais lúdico, que ficou nas redes sociais, sem vir de fato para o mundo real.”
Brigitte Calegari, beauty artist.
“O melhor produto pra conseguir esse efeito indie rock de olhos pretos ‘derretidinhos’ é um lápis mais cremoso. Ele pode até ser à prova d’ água, desde que permita esfumar antes de secar. Depois de aplicar e esfumar você pode usar um pouquinho de sombra marrom para dar uma selada e evitar que o borradinho saia de controle, no caso de usar um lápis bem cremoso ou kajal. Na hora de esfumar, você pode usar o próprio dedo ou até uma haste flexível, já que o objetivo é que o look não seja muito preciso. Para retirar a produção, após a festa, você pode usar um demaquilante na versão balm, que derrete a maquiagem com facilidade. Dá pra aplicar na pia do banheiro mesmo.”
Carol Zaia, maquiadora de Sephora.
