Cultura

Cláudia Raia e Jarbas em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil

Casal revela curiosidades e bastidores de Conserto para Dois, O Musical, espetáculo que impressiona com caracterização e troca de figurinos

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Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello como Luna de Palma e Ângelo Rinaldo | Foto: Renam Christofoletti

Dividindo o palco e a vida, Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello marcam, mais uma vez, a historia do teatro musical brasileiro. De volta a São Paulo com a peça Conserto para Dois, O Musical, o casal impressiona o público pela caracterização e troca de figurinos.

O espetáculo conta a história de amor, encontros e desencontros entre o famoso escritor Ângelo Rinaldo (Jarbas) e a atriz internacional Luna de Palma (Claudia). Separados e dispostos a esquecer a desilusão amorosa, os dois acabam embarcando, inesperadamente, no mesmo navio - Sinfonia dos Mares - rumo à Antártida.

Com roteiro e músicas de Anna Toledo, Tonny Lucchesi e Thiago Gimenes, a peça também conta o cenário de Natália Lana para dar vida à divertida história. Para viverem na pele de 12 personagens, o figurinista Bruno Oliveira teve o desafio de criar roupas para Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello incorporarem partituras, timbres e trejeitos diferentes entre 5 e 10 segundos entre uma cena e outra. Conserto para Dois, O Musical volta em turnê nacional e fica em cartaz no Teatro Sabesp Frei Caneca, em São Paulo, até 15 de dezembro com texto assinado por Anna Toledo e direção de Jarbas Homem de Mello.

Em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello contam sobre os bastidores de Conserto para Dois, O Musical, a experiência de dividir os palcos e ainda revelam os planos para os próximos passos da carreira. Confira!

 

⁠Depois de Tarsila, a brasileira, vocês estão contracenando novamente. Como é transportar a parceria da vida para os palcos? Qual é o lado bom e o lado ruim?

Jarbas: Somos parceiros de vida e transportar isso para os palcos é maravilhoso porque nos transformamos em cúmplices em cena também. Esses personagens são velhos conhecidos e é muito bom reencontrá-los! Estamos retomando a peça em uma nova temporada que seguirá de São Paulo para o Rio e, depois, para Vitória.

Cláudia: Gosto muito das nossas trocas. É bacana saber que podemos nos apoiar e criar juntos no palco porque sempre quero que saia tudo perfeito, mas nem sempre é possível. Então, o improviso – somado a estas frustrações que precisam ser vivenciadas – é que faz o teatro ser tão terapêutico. O lado mais difícil é sempre conciliar esta balança, né gente? Trabalhar e ficar longe dos meus filhos, mesmo com rede de apoio, é um desafio, claro, dá saudades, culpa, tudo o que todas as mães vivem!

Qual conselho vocês dariam sobre relacionamento?

Cláudia: Se tem uma coisa que a maturidade me ensinou é: não perca tempo com coisas pequenas... Afinal, há tanta coisa mais urgente com que todos nós precisamos nos preocupar. Somos muito felizes, temos uma admiração mútua, respeitamos o espaço do outro, trocamos ideias. Essa é a tônica. Nós nos divertimos muito juntos.

Jarbas: O fato de nos encontrarmos mais maduros e com experiência de relacionamentos anteriores nos permite priorizar o que é importante, inclusive o espaço do outro. É por isso que lidamos bem com as discordâncias, conciliando os momentos nos quais é preciso se impor com aqueles em que a gente deve ceder. Acredito que encontramos um bom equilíbrio; a Claudia me completa com essa energia contagiante dela.

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Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello | Foto: Renam Christofoletti

⁠Nos últimos anos, o Brasil tem importado espetáculos que seguem a cartilha da Broadway para grandes sucessos. O que este musical traz de novidade para o teatro brasileiro?

Cláudia: De fato, a Broadway segue sendo uma grande referência para quem produz, como é o nosso caso. Eu mesma sou apaixonada e já protagonizei várias adaptações – Cabaret, Cantando na Chuva e O Beijo da Mulher Aranha são algumas delas. Porém, agora estou alçando novos voos: quero fazer espetáculos 100% brasileiros, com histórias que retratam a nossa identidade e músicas compostas especialmente para a peça. Isso é um marco muito grande. Conserto Para Dois consolida esse objetivo: recebemos o Prêmio Bibi Ferreira de melhor musical brasileiro. O texto da Anna Toledo tem o nosso DNA e o sucesso é inegável, tanto que já estamos na terceira temporada.

Jarbas: Além dessa identificação natural com os personagens – o espectador se vê retratado ali –, cada detalhe foi minuciosamente pensado para enriquecer a experiência do público: dos figurinos, passando pela trilha sonora, cenografia até chegar ao trabalho de composição. Todo o esforço dessa equipe é recompensado quando ouvimos as gargalhadas da plateia. O retorno do teatro é imediato, a troca é algo que, até para quem está na plateia, é uma experiência muito reconfortante porque saímos um pouco deste mundo tão digital.

⁠Quais foram as principais referências para criar o espetáculo?

Jarbas: A peça é uma comédia farsesca, para rir mesmo. No teatro, bebemos muito da fonte do Irma Vap, protagonizado pelos [atores] queridíssimos Marco Nanini e Ney Latorraca, um espetáculo que permaneceu mais de dez anos em cartaz. No cinema, nós nos inspiramos em Irma La Doulce, filme da década de 1960, protagonizado por Shirley MacLaine e Jack Lemmon.

Cláudia: Conserto para Dois, de certa maneira, também reverencia trabalhos que eu já fiz. É uma herança do TV Pirata, além do especial Ed Mort – Nunca Houve uma Mulher como Gilda, que eu protagonizei na TV Globo em 1993, com o próprio Nanini e o Luíz Fernando Guimarães. Pegamos essas referências, acrescentamos pitadas das nossas próprias loucuras (risos), batemos no liquidificador e o resultado está no palco. Muitos destes personagens nasceram no nosso próprio quarto: eu e Jarbas criamos juntos, pensando ali em movimentos e gestos, formas de falar, tudo para que eles ganhassem vida.

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Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello | Foto: Renam Christofoletti

⁠O enredo de Conserto Para Dois trata de um episódio curioso sobre a ação do destino na vida do casal formado por um escritor e uma atriz. Vocês já passaram por alguma situação parecida?

Cláudia: Acredito muito no destino, nesta conexão. Conheci o Jarbas com 43 anos e me tornei mãe após os 50. Como não agradecer ao destino por ter feito tudo acontecer com esta perfeição?

Jarbas: Fora do mundinho perfeito do Instagram, existe a vida real. Muitas vezes, o que o universo nos prepara é muito melhor do que aquilo que planejamos. Às vezes, a gente só precisa viver, sabe? Sem querer ter tudo sob controle o tempo inteiro.

Claudia: É claro, a gente tenta prever e planejar tudo da melhor maneira, mas a vida com criança é imprevisível, e, assim como estar num palco, tudo pode acontecer. Mas vida sem acaso, sem imprevisto não é possível. Tento cada vez mais aceitar essa ação do destino, tento ouvir a minha intuição. Eu me sinto cada vez mais conectada neste sentido.

⁠Dessa vez, o espetáculo exige uma troca de figurino, partitura vocal e postura bastante rápida pelo fato de ambos interpretarem vários personagens. O que foi mais desafiador nesse processo para vocês?

Jarbas: Cenicamente falando, o maior desafio, sem dúvida alguma, foi justamente esse: o fato de interpretarmos vários personagens. São sete para a Claudia, eu faço cinco! Uma loucura sim, mas uma loucura deliciosa: eu e Cláudia nos divertimos tanto em cena. Nos ensaios, até rolava de estarmos caracterizados e falando com as vozes de outros personagens.

Cláudia: Por outro lado, apesar de parecer uma grande brincadeira, levamos o ofício muito a sério: os figurinos foram projetados para facilitar trocas rápidas, em questão de segundos. Também tivemos o apoio do nosso professor de canto, maestro Marconi Araújo, para criar vozes distintas para cada papel, sem que isso afetasse as nossas cordas vocais.

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Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello | Foto: Renam Christofoletti

⁠A peça conta com uma playlist com canções disponíveis para o público de forma inovadora. Sendo assim, no que vocês acreditam que impressiona mais o público do teatro musical no Brasil?

Cláudia: A ideia de disponibilizar uma playlist faz parte do projeto de ampliar a experiência do público; queremos que as pessoas saiam do teatro já com vontade de voltar. E, se as músicas são chiclete, por que não dar aquela forcinha para que elas grudem de vez na cabeça? (risos). A direção do álbum ficou a cargo do Marconi, finalizamos as gravações no estúdio em três dias.

Jarbas: É legal porque, além das canções em si, há os diálogos que costuram as cenas. Estamos sempre em busca de novidades, tanto para quem consome teatro habitualmente, quanto para cativar novas plateias. Queremos surpreender e encantar quem sai de casa para nos ver.

Vocês vão dividir o palco em projetos futuros? Podemos esperar mais um musical a caminho?

Cláudia: Além do chip da alegria, alguém lá em cima deve ter me configurado com o chip da inquietação, viu? Olha só: eu não consigo ficar parada (quem me acompanha já deve ter percebido, não é?). Terminei Tarsila, retomei a turnê de Conserto e já estou ensaiando o meu próximo espetáculo, o Cenas da Menopausa. Como o tema sugere, vamos tratar deste tabu para muitas mulheres. Porque tem um mito em volta da menopausa que categoriza e desqualifica as mulheres nesta fase, além do etarismo. Queremos desconstruir isso, refletir sobre as mudanças que todas as mulheres passam.

Jarbas: Surgiu a chance de estrearmos em Portugal. Então, vamos começar por lá – onde a discussão está ainda mais atrasada do que no Brasil – para, em seguida, desembarcarmos por aqui.

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Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello | Foto: Renam Christofoletti

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