Juliana Alves fala sobre seu novo trabalho na televisão
Atriz revela os bastidores e as inspirações para viver Cida, uma motorista de ônibus carioca que promete conquistar o público em Volta Por Cima, nova novela das 19h da TV Globo
Juliana Alves é um dos nomes mais promissores da teledramaturgia brasileira. Em pouco mais de duas décadas de carreira, a atriz carioca de 42 anos já fez alguns trabalhos importantes na televisão. No momento, ela se prepara para viver na pele de Cida em Volta Por Cima, nova novela das 19h na TV Globo, escrita por Cláudia Souto, que estreia em 30 de setembro. No novo folhetim, a atriz vai interpretar uma motorista de ônibus do subúrbio carioca, viúva, e que, para criar seu filho, precisou buscar emprego e sustento atrás do volante.
Em entrevista exclusiva à L’Officiel Brasil, Juliana Alves revela um pouco de sua trajetória artística, seus processos criativos, os prêmios que recebeu durante a carreira e o reconhecimento do público.
L’Officiel Brasil: Como surgiu o interesse pela atuação? Ser atriz sempre foi o seu desejo profissional?
Juliana Alves: Digamos que aconteceu de uma maneira bem orgânica, natural e ao longo da vida com o que minha mãe me apresentava: de passeios a peças de teatro, apresentações de dança e exposições. O contato com a minha família por parte do meu pai - que tem uma forma de se encontrar sempre com expressões artísticas - também me influenciou. Eu nunca havia pensado que isso poderia ser uma profissão até o final da minha adolescência. Nesse período, comecei a entender que poderia ser uma alternativa, mas confesso que não acreditava muito que conseguiria viver disso até hoje. Era algo que eu nem tinha sonhado e nem dessa maneira.
Em pouco mais de duas décadas de trabalho, você já interpretou personagens de estilos diferentes na televisão, cinema e streaming. Na construção de um personagem, o que é mais desafiador?
O que é mais desafiador sempre - em todos os trabalhos - é você encontrar a verdade nessa pesquisa sem querer ser uma mera reprodução do que achamos de um tipo, de uma caracterização ou de uma ideia estereotipada. É sempre trabalhar e se aprofundar no que é específico do personagem, mantendo uma verdade e deixando que o público se envolva verdadeiramente com o que esse personagem sente e fala.
Na sua trajetória, você já trabalhou com grandes artistas. Existe algum ator/atriz com quem você gostaria de contracenar?
Eu já trabalhei com muita gente boa e tenho desejo de trabalhar com muitas outras. Tive uma experiência recente com a [atriz] Zezé Motta quando apresentei um reality show [não posso dar spoilers], mas a Zezé teve uma participação pontual e fiquei com muito mais vontade do que eu já tinha de contracenar com ela. Ainda não tive essa oportunidade. Ela é uma pessoa que me inspira muito pela vida, trajetória e por tudo o que ela representa.
Na nova novela das 19h da Rede Globo, Volta por Cima, você vai interpretar Cida, uma motorista de ônibus do subúrbio carioca. Como foi a experiência de vivenciar o cotidiano da personagem na preparação para o folhetim?
A Cida é uma figura muito especial, uma mulher maravilhosa que me inspira muito. Eu gostaria de ter uma amiga como ela, sabe? Além das informações que a autora traz no texto e toda a direção, eu fiz uma preparação em que busquei, através de uma pesquisa, conhecer outros motoristas de ônibus. Uma, em especial, foi bem inspiradora para mim, pois é muito parecida com o que eu tinha imaginado para a personagem. É uma mulher antenada com o que está acontecendo no mundo, com questões sociais, generosa e, ao mesmo tempo, sabe impor seu respeito. Ela tem uma leveza e uma alegria de viver e que supera muitas adversidades sempre seguindo em frente.
Eu tive muita vivência em andar de ônibus, pois vivi isso a minha vida inteira. No final da infância, eu já andava sozinha por um trecho curto, pois minha mãe me criou para ter essa autonomia em uma época em que isso era mais possível. Eu me lembro muito das viagens que já fiz ao longo da vida até porque, quando trabalhei em uma ONG, circulei muito pela cidade de ônibus, no subúrbio carioca, zona norte, zona oeste, toda a região metropolitana e baixada fluminense. Tenho muitas histórias, referências e é muito bom poder falar de algo que é tão precioso na vida das pessoas que é o que viabiliza a possibilidade de irem e virem. Um cotidiano precioso que, muitas vezes, passa despercebido. Sabemos que ainda existem muitas melhorias para fazer no transporte público e espero que essas pessoas sejam cada vez mais valorizadas.
Como você espera que o público irá reagir à personagem?
Eu tenho um desejo, mas não sei vai acontecer. Espero que as pessoas gostem da Cida como eu. Ela é uma personagem inspiradora que me encantou, pois me traz uma alegria gostosa de ver, sabe?. Desejo que o público também veja isso nessa personagem e olhem essa mulher com a admiração e o carinho que eu tenho por ela.
A Cida, de Volta por Cima, também é envolvida com o universo do samba e do carnaval como você. O que mais há de comum entre você e ela?
A Cida não é envolvida como eu. Fui muito mais envolvida, e com o Carnaval. Com o samba, ela é muito mais. Frequenta roda de samba, entende tudo do ritmo. Ela é uma mulher que valoriza muito a nossa cultura, essa cultura suburbana que é passada de família, sabe? Nisso, eu me identifico muito com ela. Brinquei porque a Cida não se envolveu com escola de samba, um compromisso muito maior que a roda de samba em que temos a vontade de estar ali para festejar e celebrar. O que eu tenho em comum é que ela é muito amiga, generosa com os amigos, parceira e quer ver todo mundo bem ao lado dela. Ela tem essa preocupação enorme com as pessoas. Cida tem uma vida que não é fácil, tem grandes desafios, mas está lutando pelo filho com muito afeto. Ela é muito amorosa e consegue mesmo equilibrar os pratinhos, além de cuidar de si. Cida tem a sua vaidade, o seu autocuidado, mas também cuida daqueles que estão ao seu redor.
Você recebeu o Prêmio Contigo de Atriz Revelação por sua atuação na novela Duas Caras, e, no ano seguinte, o Troféu Raça Negra. O que as premiações representam na sua trajetória?
Uma premiação é sempre algo muito emblemático no que diz respeito ao reconhecimento que podemos pode ter de diversas formas. Com comentários do público, com o público querendo ver mais a personagem, torcendo pelo personagem, falando com a gente nas ruas e escrevendo para nós nas redes sociais. Mas, quando eu atingi esse prêmio, foi muito importante naquele momento da minha carreira que ainda estava no início. Através desse reconhecimento e de outros dessa época, eu passei a acreditar mais na minha carreira e no meu talento, pois, por mais que eu fosse lá e fizesse, tinha muitas inseguranças.
Foi importante para eu virar essa chave, por tudo o que aconteceu nesse período. Em 2009, eu ganhei o troféu Raça Negra que foi virar uma chave de força mesmo para eu me dedicar ainda mais a minha carreira de atriz e conseguir construir passos mais sólidos e seguros nessa profissão em que sigo aprendendo e me dedicando para ficar cada vez melhor. Hoje, eu sinto que tenho ainda mais reconhecimento e o que eu mais conquistei foi um respeito maior em uma trajetória de atriz que pretendo que tenha constância e continuidade.
Você também é ligada a movimentos sociais antirracistas. Como você vê a representatividade negra no meio artístico hoje?
A representatividade negra no meio artístico, principalmente no audiovisual de uns anos para cá, tem tido consideráveis melhoras. Nós viemos de muitos anos de silenciamento, de invisibilidade, de falta de protagonismo e de narrativas que não representavam a realidade brasileira. Hoje, nós temos uma formação de equipe de produção, criação com muita consciência, identidade e entendimento cultural para trazer essa nossa necessidade de representar a realidade brasileira no audiovisual.
Eu faço parte de uma geração de atrizes que enfrentou muitas barreiras - até menores que as da geração anterior -, que ainda nos colocava presente, mas sempre como a única ou uma das únicas ou com narrativas que não nos deixavam confortáveis com uma caracterização de personagem que anulava a nossa beleza e identidade. Hoje, temos avanços consideráveis em relação a isso, porém ainda temos muito a caminhar. As formações de equipe com diversidade real ainda são muito recentes e temos muito a melhorar com autores, roteiristas, produtores antenados nessas questões e principalmente em pessoas negras, indígenas e LGBTQIAPN+. Quando a gente puxa a diversidade, tem que abranger todas as pessoas que têm sido silenciadas. Não adianta ter diversidade no ponto de vista racial e não pensar em todos os outros aspectos.
Qual é a palavra que poderia resumir a sua carreira?
A palavra é perseverança.
O que podemos esperar de Juliana Alves para o futuro?
Podemos esperar uma Juliana mais disponível para a versatilidade e mais empreendedora, produtora e mais fortalecida para ir em busca dos seus sonhos.