Cristina Villela compartilha rotina de equilibrio, razão e sensibilidade
Sócia da Cypress Associates, sucesso no mercado financeiro, maternidade e entusiasta de Beach Tenis - Cristina Villela equilibra razão e sensibilidade
Cristina Villela vem de uma família carioca, e seu gosto pela área financeira nasceu por influência do pai, que já trabalhava neste setor predominantemente masculino. “Tenho 50 anos de idade e hoje vejo a mulher muito mais inserida, com salários mais equiparados aos dos homens, na época em que comecei, era muito diferente”, lembra.
Formada em administração de empresas, num determinado momento, teve a oportunidade de fazer uma grande mudança e sair do Rio de Janeiro, onde o mercado estava se esvaziando. “Os bancos começaram a transferir as suas sedes para São Paulo e eu precisava me mudar também. Essa foi a primeira grande virada da minha vida. E foi a melhor coisa: minha carreira deslanchou a partir desta decisão.”
O primeiro ano foi difícil, até Cristina conseguir criar as primeiras conexões e amizades, muito em função do esporte, que lhe acompanha desde pequena. “É uma das coisas que eu gosto de fazer no meu tempo livre. Já fui federada de voleibol, depois fui para corrida (que me ajudou a me inserir em São Paulo, inclusive fiz meia maratona). E nunca imaginei que com essa idade eu ia voltar a competir. Comecei no beach tennis como uma brincadeira, e hoje participo de torneios! Não diria que eu sou uma pessoa competitiva, porque essa palavra traz uma conotação de ‘a qualquer custo’. Mas gosto de desafios, preciso ter metas, e ao mesmo tempo sou uma pessoa muito persistente, obstinada. Quando quero alguma coisa, vou fazer aquilo até conseguir. Então o esporte, de uma certa maneira, me obriga a ter essa disciplina de ‘treino, aperfeiçoamento e conquista’.”
Maternidade e negócios
Cristina conta que outra característica sua é gostar de fazer as coisas com qualidade. Quando veio para São Paulo, estava acontecendo um boom de privatizações, no governo Fernando Henrique Cardoso, no setor de infraestrutura, no qual estava inserida. “Vivi muitas coisas bacanas nessa época. Consegui participar de transações bastante relevantes no mercado brasileiro. No Unibanco, virei a primeira diretora mulher e mais jovem da área de investment banking. Foi uma grande conquista, uma meta atingida, dessas que você pode dar um check”, lembra.
Essa era uma área que exigia muitas horas de trabalho, diferentemente de outras em que você consegue ter uma carga horária bastante definida. “Cansei de virar a madrugada e fim de semana trabalhando, ainda faço isso de vez em quando. É uma rotina muito puxada. Talvez por isso você tem um número de mulheres jovens razoável, mas à medida que amadurecem, vão se deslocando para outras áreas, porque vão tendo filhos e querem desacelerar e ter um controle maior da carga horária. Então, acho que eu sou uma sobrevivente, porque tenho dois filhos, um de 13 e uma de 18 anos.”
Cris conseguiu transpor essa barreira, estruturar a rotina e ter um equilíbrio emocional para ser mãe e manter o ritmo de trabalho. “Tenho um intervalo de cinco anos entre um e outro e isso foi pensado até para eu poder me equilibrar, para poder criar os dois, me considero uma mãe bastante presente”, pondera ela, ressaltando que mais do que quantidade de horas, o importante é a intensidade que você dedica.
“Tive a oportunidade de curtir muito a infância dos meus filhos, de me fantasiar de princesa com a minha filha, de sentar no chão e brincar de carrinho, de desenhar com eles, estudar com eles. Tento fazer isso ainda hoje, manter a conexão mesmo que agora eles queiram mais os amigos do que a mãe.” Ela conta ainda que o marido companheiro foi fundamental: “Até me emociono quando falo porque ele é o meu maior incentivador e o cara que está ali para mim, para o que der e vier, está sempre me dando força e me apoiando nas minhas decisões. Nunca me pediu para deixar de fazer o que eu faço para cuidar dos meus filhos. Ele assume as responsabilidades junto comigo. E essa é uma sorte também”.
Quociente emocional
Na área de fusões e aquisições, embora o cliente contrate uma instituição financeira, ele confiou a transação da vida dele ou da empresa dele nas suas mãos. “É um trabalho em que, além de demonstrar muita capacidade técnica de números, de conhecimento, de mercado e de como funcionam determinadas indústrias, tem muito da sua habilidade negocial, tem muito do quociente emocional para você conseguir conduzir bem negociações, se comunicar, de contar boas histórias de uma forma organizada, concisa e ser convincente. Então, quando o cliente contrata, quer uma pessoa que vai fazer isso por ele, essa assessoria num processo de compra e venda de empresas em nome dele.”
De executiva à empreendedora
Eis que com a fusão Itaú Unibanco, Cristina foi trabalhar num fundo de private equity chamado Pátria e, pela primeira vez, teve que se provar fora de um grande ambiente institucional. “Foi um grande desafio, repleto de dúvidas e questionamentos. Hoje o Pátria abriu capital, quintuplicou de tamanho. Tenho orgulho de dizer que fiz parte de um pedacinho dessa história.” Quatro anos depois, foi trabalhar mais focada em fusões e aquisições e desde então está na Cypress Advisors, uma empresa de assessoria financeira para fusões e aquisições. “Tenho sócios maravilhosos, em uma casa que é vencedora, existe há 18 anos e tem mais de 150 transações fechadas. Hoje, eu tenho mais autonomia do que eu tinha quando eu trabalhava numa instituição financeira, mas ao mesmo tempo muito mais responsabilidade, porque eu deixei o chapeuzinho de executiva e botei o chapeuzinho de empreendedora.” A empresa tem quase 60 funcionários.
“Brinco que agora não tenho só dois filhos em casa, mas 60 pessoas que dependem da gente no fim do mês para receber o seu salário. E isso me dá ânimo para trabalhar mais ainda. Eu diria que hoje estou sendo desafiada ao meu máximo. Mas estou muito feliz, muito feliz, porque eu amo o que eu faço.”
Energia renovável em pauta
No mercado de fusões e aquisições nos últimos dez anos, o setor de energia está sempre entre os top five com maior volume financeiro transacionado. "A gente precisa diversificar a nossa matriz energética que, embora já seja majoritariamente renovável, depende muito da energia hidráulica, que representa 75% do total. Temos que nos preocupar em gerar outros tipos de energia renovável (solar, eólica, hidrogênio verde) e tornar nossa matriz energética não só suficiente para acompanhar o crescimento do país, mas também com menos volatilidade", fala. Cris encontrou no projeto 3 Marias, que a Cypress está assessorando, a oportunidade de consolidar tudo aquilo em que acredita.
"Ele envolve energia renovável, que engloba práticas de ESG, e que vai além da questão ambiental. Busca elevar a renda de parte das mais de 4 milhões de pessoas envolvidas na agricultura familiar, que vivem com pouco mais de um salário mínimo mensal. Famílias que são, em grande parte, dirigidas por mulheres. Esse pode se tornar o maior projeto privado de distribuição de renda no campo, aumentando a renda dessas pessoas em mais de 30%, e isso sem a necessidade de investimentos públicos, trazendo conceitos de mitigação de CO2 e empoderamento feminino. Por tudo isso, o 3 Marias não é apenas um projeto como tantos outros tornou-se meu projeto de vida."
Tempo livre de qualidade
Cristina mora em São Paulo há 22 anos e conta que já viajou muito mais. “Um dos poucos benefícios da pandemia foi essa prerrogativa da gente conseguir se conectar com qualidade virtualmente. Hoje a gente consegue fazer muita coisa dessa forma reuniões com potenciais clientes, clientes, investidores. Amo viajar, mas a lazer.” Ela conta que são três coisas que curte fazer no seu tempo livre: viajar com a família, fazer esporte e ler. “Atualmente eu estou lendo livros sobre equilíbrio mental no esporte.”
Cozy home
“Gosto de ter uma casa aconchegante, então esse estilo minimalista não é o meu, porque acaba sendo um pouco frio. Eu gosto de casa viva, sabe, que você tem vontade de ficar. Minhas duas casas, a de São Paulo e a da Quinta da Baronesa, no interior, são aconchegantes, com cores quentes. Eu gosto de azul, de vermelho, de laranja. E de obra de arte também tudo lá em casa é abstrato, até escultura. Sônia Ebling, sabe, que não tem um formato perfeito. Gosto de fotografia também e eu não compro arte que eu não vá pendurar na minha parede. Eu tenho uma Beatriz Milhazes tenho porque eu amo e eu não tenho intenção de vender. Não sou herdeira e trabalhei duro para ter tudo o que eu tenho. Valorizo meu dinheiro. Tem uma coisa que eu e meu marido gostamos: carros. A gente curte dirigir, então é nisso que a gente gasta também. Quando viajo, quero ficar num bom hotel. Então nisso eu vou gastar. Obra de arte. Se eu gostar, eu vou pagar.”
Moda e estilo
Se, no trabalho, ela tem um estilo superclássico, fora dele é mais moderna. “Gosto às vezes de usar um tênis de solado alto com uma calça xadrez e um paletó para quebrar, uma saia jeans des- fiada... Vou do clássico no trabalho ao bem despojado no lazer.” Meio camaleoa, transita bem desde o vestido de festa longo, no salto, até uma rasteirinha, um shortinho e uma camiseta branca. “E também adoro joias. Gosto de moda. Acho que a forma como a pessoa se veste fala muito sobre como ela é. Não acho que seja necessário ostentar. Dá para se vestir bem, com bom gosto, sem necessariamente gastar muito”, finaliza.
“HOJE, EU TENHO MAIS autonomia DO QUE EU TINHA QUANDO EU TRABALHAVA NUMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, MAS AO MESMO TEMPO MUITO MAIS responsabilidade, PORQUE EU DEIXEI O CHAPEUZINHO DE EXECUTIVA E BOTEI O CHAPEUZINHO DE empreendedora.”