Gilberto Gil: última turnê celebra o tempo e seu legado
Aquele abraço! A última turnê de Gilberto Gil, Tempo Rei, celebra o tempo por meio do legado do artista na música e na cultura global.
Gilberto Gil, um dos maiores ícones da música brasileira, chega aos 82 anos com uma trajetória que atravessa gerações e culturas. Com sabedoria adquirida ao longo de uma vida inteira dedicada à arte, o cantor fará sua última turnê, intitulada Tempo Rei, a partir de março de 2025, com estreia – emblemática – em Salvador, e passará por nove cidades do Brasil e também contará com datas nos Estados Unidos e na Europa, em praticamente um ano inteiro de festa, terminan- do em 22 de novembro, em Recife.
A carreira de Gil é uma obra-prima escrita com notas, palavras e ações. Cantor, compositor, multiinstrumentista com uma vasta produção fonográfica, ele acumula nove Grammys e uma coleção de prêmios que refletem sua grandeza. Não apenas brilhou nos palcos, mas também na esfera política, reconhecido internacionalmente ao ser nomeado Artista da Paz pela Unesco, em 1999, e como ministro da Cultura entre os anos de 2003 e 2008. Em 2021, foi consagrado com outros dois títulos de peso: doutor honoris causa pela Universidade de Berklee, em Boston (EUA), e imortal pela Academia Brasileira de Letras.
Em seu constante diálogo com a passagem dos anos, reflete sobre a decisão de encerrar sua carreira. “Há muito tempo venho pensando em me desocupar, no sentido mais convencional da palavra. Cantar, tocar, fazer música, gravar, viajar... tudo isso ocupa um período danado. No meu caso, são 70 anos. Foram vários os elementos que ponderei para chegar à decisão da realização de uma última turnê. Até que decidimos que esse ciclo todo chegaria ao fim, uma opção natural do próprio passar dos anos”, diz. Falando em tempo, a Rolex, parceria de Gil desde 2012, quando ele participou do programa de mentoria da marca, é o relógio oficial da sua última turnê, como parte do seu compromisso em perpetuar as artes para as próximas gerações.
A memória, essa companheira fiel, traz consigo histórias que ele guarda com carinho, principalmente quando recorda uma viagem com sua equipe em que precisou ajudar a carregar os equipamentos da banda de um trem que partiria rapidamente. “O trem só parava na estação por dois minutos. Eu lembro de carregar um case de piano pesado, mas fiz aquilo orgulhoso de estar ajudando. São lembranças assim, às vezes pouco relacionadas com o lado charmoso do cultural, do musical”, diz o cantor, que, apesar de ainda manter um lado infantojuvenil, já não tem mais o mesmo corpo, e essas aventuras não são mais possíveis. “Houve reflexão sobre esse mercado e também sobre a exigência física necessária para esses grandes shows”, completa.
E é nesse cenário, em que tantas memórias foram criadas, que Gil se despede. Uma de suas canções mais icônicas, Palco, reflete essa relação visceral que ele sempre teve com a música e o público. “O palco sempre traz um pouco de nervosismo, especialmente na hora de entrar, principalmente em estreias, em momentos no quais a exigência de atenção está submetida a certa interrogação. O público está interrogando, porque ali você também está colocando a interrogação diante deles. Será histórico nesses vários sentidos, e também porque sempre começou bem e terminou relativamente bem.”
E assim, o menino baiano, que com um sonho conquistou o Brasil e o mundo, se despede. Mas, como ele mesmo diz, a saudade será grande. “Eu vou sentir falta de um microfone, porque é um elemento que caracteriza propriamente estar nos palcos. Dos gritos das meninas ‘Gil, eu te amo’. Mas também não será mais uma ocupação, haverá outras. Quero continuar fazendo música em outro ritmo”, conclui o cantor. Como ele mesmo já disse, existem muitas maneiras de fazer música. E Gil prefere todas.