Cultura

Jane Birkin: a memória de um icône de estilo

Je ne sais quoi! Jane Birkin, musa do estilo cool girl sem esforço, ícone de estilo francês e britânico desde os anos 1960, atriz, cantora, e inspiração para tendências de moda e beleza

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Foto: Getty Images

Jane Birkin foi certamente a inglesa mais famosa da França e sem dúvida a mais francesa de todas. A cantora, compositora, atriz e modelo nasceu em Londres, em 1946, e faleceu em Paris, aos 76 anos, em julho. Ícone de estilo desde os anos 1960, em plena Swinging London, lançou moda das franjas às bolsas de palha que costumava carregar, e ainda inspirou a Hermès a criar uma bolsa com seu nome.

Viveu um grande amor com Serge Gainsbourg, com quem teve uma filha, Charlotte Gainsbourg. Em 1969, os dois atuaram em Slogan, filme de amor dirigido por Pierre Grimblat, e ficaram juntos por 13 anos. Essa história continua a fascinar, assim como as canções que ele escreveu para ela, Ex-fan des sixties e Baby alone in Babylone. Jane também é mãe de Kate Barry, falecida em 2013, e de Lou Doillon.

Seu estilo boêmio é, até hoje, inspiração no mundo inteiro. Jane sempre foi capaz de transformar qualquer produção. Sabia como ninguém dar vida e glamour a peças clássicas, com sua atitude. Muito antes de as estrelas dependerem de diretores criativos para moldar sua imagem, usou seu senso único de vestir para criar um novo tipo de feminilidade, um mix de indiferença e liberação sexual. Uma vertente mais inocente e sensual ao glamour cinematográfico de Catherine Deneuve ou ao estilo bombshell da contemporânea, Brigitte Bardot. Vestida com tênis branco, camiseta branca e jeans, era a personificação do “je ne sais quoi” chique sem esforço pelo qual as francesas são conhecidas. “Ela, Mary Quant e Twiggy, todas inglesas, eram referência de beleza nos anos 1960. Vale ressaltar a influência do corte de cabelo, um fio mais longo, reto, e, especialmente, a franjinha”, destaca João Braga, professor de História da Moda. Verdade, sua franja na altura dos olhos e seus looks de make são referência para maquiadores e hairstylists mundo afora. “Quando conheci Jane, em 2016, a primeira coisa que ela me disse foi: ‘Minha filha diz que você é o mestre da pele... não gosto de maquiagem...’. Seu senso de humor, bondade e graça é algo que sempre vou lembrar sobre ela”, contou o maquiador das celebridades americano Daniel Martin.

Jane estreou no cinema no clássico Blow-Up – Depois Daquele Beijo, de 1966, ambientado nos bastidores da moda, antes de explodir com a canção Je T'aime... Moi Non Plus, dueto com Serge. Nas telas, atuou em mais de 70 produções e recebeu três indicações ao César, tradicional prêmio francês. Nos últimos anos, dedicou-se à carreira musical. “Nome icônico que marcou época, Jane Birkin foi forçada a cancelar alguns shows em maio devido a problemas de saúde”, comentou Carla Bruni, que se juntaria a ela em uma apresentação especial no mesmo mês. Em 2002, foi condecorada como Oficial da Ordem Britânica pelos serviços à cultura e, na França, foi reconhecida como Oficial da Ordem do Mérito em 2015. “Uma lenda que estará para sempre em meu coração. Obrigada, Jane”, disse a atriz Diane Kruger, no Instagram.

Foto: Getty Images

Além de deixar um legado no cinema e na música, Jane também era um ícone fashion e seu nome foi dado a uma das bolsas mais famosas – e cobiçadas – do mundo, da Hèrmes, nos anos 1980. “Ela viajava de Paris para Londres quando derrubou o conteúdo da bolsa na frente de Jean-Louis Duma, executivo da maison na época. Ela reclamou que não havia bolsa espaçosa o suficiente no mercado. Os dois trocaram ideias sobre o modelo ideal para carregar as coisas do dia a dia e voilà. Hoje é uma das bolsas mais cobiçadas inclusive entre jovens”, relembra João. “Aliás, nos anos 1960, ela já tinha difundido uma bolsa que não era bem uma bolsa. Era uma espécie de cesto típico de piquenique. No Brasil, chamaríamos de samburá, uma bolsa tipo cestaria de vime.”

Ela foi capa de L’OFFICIEL com seu estilo francês descontraído e fotografada por Bob Wolfenson em uma breve passagem pelo Rio de Janeiro, na década de 2000. O segredo de tamanho magnetismo? A escritora e jornalista francesa Sophie Fontanel arriscou em um post no dia de sua morte: “O que poderia ser mais bonito do que a espontaneidade? E como mantê-la por toda a vida, resistindo às traições, aos grandes dramas e à fama? Como conseguir evocar o sex appeal sem um pingo de vulgaridade? Jane não queria que nada a constrangesse, queria que tudo fosse confortável. As roupas tinham que ser realmente amadas”. Sua carreira de cantora e seus filmes inspiraram liberdade em todo o mundo. Certa vez, ela disse: “Tive uma carreira artística de sorte. Qualquer pessoa no meu trabalho tem sorte de poder tocar as pessoas, de transmitir emoções. É um trabalho em que você se sente menos sozinho porque está em contato com outras pessoas.” Certeza, Jane Birkin será para sempre.

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