Laurita Mourão, da Tiffany & Co., em entrevista exclusiva
She has diamonds on the inside! À frente do marketing da tradicionalíssima Tiffany & Co., Laurita Mourão fala um pouco do seu dia a dia, da sua paixão por joias e do que espera para o futuro
Os olhos de Laurita Mourão brilham quando ela conta o que faz. Diretora de Marketing da Tiffany & Co., ao mesmo tempo que confessa que não se imaginava uma das mulheres mais poderosas do mercado de luxo, diz que sabia desde cedo que seria independente. Formada em moda pela Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, com MBA em Administração e ênfase em Marketing na University of California, em Berkeley, diz que sua mãe, workaholic assumida, a incentivou a começar a trabalhar ainda na adolescência. “Comecei como vendedora da Daslu, mas meu primeiro desafio profissional foi como estagiária na C&A. Dali, apliquei para o programa de trainee”, conta ela que teve o início da carreira no varejo tradicional, de massa, trabalhando em loja, realizando processos, análise de resultado, entre outras funções. “Foram cinco anos nessa empresa que foi minha base e me fez ter certeza da minha vocação”, conta. A ida para o varejo de luxo foi um golpe do acaso. “Após o MBA, apliquei para algumas posições nos Estados Unidos e consegui uma vaga na marca Oscar de La Renta. Lá, eu cuidava do merchandising (área pouco conhecida no Brasil, responsável por atender e vender as coleções para as lojas de departamento e depois analisar as vendas e repassar as informações ao time de estilista para criação de coleções. A área faz análise de performance – giro, estoque, preço, se vai para sale ou não –, de cada item da coleção) e atendia contas de grandes players do mercado, como Bergdorf Goodman, Saks, Nordstrom. Tive a sorte de conhecer Mr. de la Renta e participar da organização de seus aguardados desfiles, de vestir personalidades, como Sarah Jessica Parker, Laura Bush e Blake Lively”, relembra. Foi então que começou sua atuação como RP. “Sempre fui bem comunicativa e bem ligada a tudo ao meu redor. Essas características foram fundamentais na minha trajetória profissional e me levaram a empresas como Alexandre Birman, Ralph Lauren e Emilio Pucci, até chegar à Tiffany & Co.”
Sempre imaginou que trabalharia no mercado de luxo?
Eu não comecei minha carreira pensando no segmento de luxo, mas hoje vejo que toda essa experiência foi um diferencial pois o mercado opera de forma bem particular e essa exposição prévia me permite hoje desenhar estratégias bem fundamentadas e conhecer bem os clientes e players desse segmento.
Como acha que o mercado de trabalho mudou em relação às mulheres desde que começou sua carreira?
É engraçado pois sempre tive mais co-workers mulheres — mas meus chefes sempre foram homens. Pode ter sido coincidência ou realmente a forma que o mercado se desenhou, mas hoje na Tiffany eu fico feliz em saber que todos meus reports globais são mulheres; mulheres que me inspiram, me apoiam, entendem meu lado da maternidade. Minha mãe foi uma das primeiras a trabalhar no mercado financeiro (45 anos atrás) e me lembro de ter apenas homens. Hoje, acho que o cenário mudou, existem mais oportunidades para nós, mas ainda existe um grande caminho a seguir e alguns paradigmas a quebrar.
Como é um dia normal de trabalho na Tiffany?
Bem dinâmico e agitado. Todo dia temos diversas reuniões estratégicas com fornecedores, assessorias e parceiros, além de calls com o time global. A rotina também inclui visita às lojas e aos shoppings.
Joias são uma paixão? Você as usa no dia a dia?
Sempre foram uma paixão. Acho que joias contam histórias, marcam trajetórias, conquistas, momentos felizes... Eu uso todos os dias! Carrego comigo desde santinhos e medalhas de proteção, como um anel que foi da minha avó e nunca tiro, e um brinco da Tiffany & Co. que pertencia a uma grande amiga que não está mais comigo e me foi dado com muito carinho pela sua mãe. Tenho certeza de que ele me abençoou e deu sorte no processo seletivo da marca. Hoje que tenho uma filha, penso nas joias como um investimento. Irei passar a ela cada uma dessas peças, carregadas de histórias.
Como você concilia vida pessoal e profissional? Elas se misturam?
Sempre! Admiro quem consegue separar, mas para mim é tudo misturado... Acho que quando se trabalha com algo que se ama e especialmente com varejo não tem como “separar”, pois além de profissionais do ramo, também somos clientes e cheias de expectativas, não é? Estou sempre indo em lojas e reparando nas vitrines, na limpeza, no atendimento, na disposição do produto, no pós-venda, nas newsletters... Estou constantemente buscando referências, lendo sobre os assuntos relacionados ao trabalho. Por mais que eu tente separar, quando vejo o tema acaba sendo pauta dos meus jantares com meu marido. A parte mais difícil é achar o tão falado “equilíbrio”, se é que ele existe. Talvez seja mesmo uma utopia.
Quais são seus hobbies? Costuma reservar tempo para si mesma na sua rotina?
Um hobby é a leitura. Acho que ler me permite viajar, arejar a cabeça, me manter informada. Adoro ler histórias e me imaginar naquela época, na vida daquele personagem. Aguça a imaginação de forma tão rica. Outro hobby é viajar! Sou apaixonada por descobrir novos lugares, culturas, formas de se viver! Sou sagitariana, né? Viajar tanto nas ideias quanto fisicamente faz parte da minha personalidade inquieta. Também adoro sair com minhas amigas; esse tempo para um bate-papo regado a vinho é reservado na minha rotina.
Quais suas estratégias para manter corpo e mente sãos?
Respirar e rezar, sempre! Sou a favor da simplicidade... Acho que nosso corpo nos proporciona as melhores ferramentas e às vezes esquecemos de usá-las. Aquele respiro profundo pode mudar nossa energia e nos acalmar, assim como uma oração. Gosto muito também de banho quente com aromaterapia. Para o corpo nada melhor que pilates e corrida, mas acho que se estamos em dia com nossa mente, ele acompanha.
O que tem no guarda-roupa? Como definiria seu estilo? Como se relaciona com a moda?
Tenho de tudo, ou melhor, quase tudo. Não tenho preconceitos com relação à moda, já disse muito “nunca usaria” e depois paguei a língua. Tenho fases: já fui muito de consumir peças tendência da moda e hoje meu estilo é mais básico, invisto em acessórios e joias. Acho que a pandemia nos ensinou a viver com menos... No momento atual, acabo preferindo looks mais confortáveis e básicos, mas as joias dão o toque final.
Você é mãe de uma menininha... Como a prepara para o futuro?
Tenho pensado muito nisso ultimamente, ainda mais com as notícias tristes das últimas semanas. Em um mundo ainda tão machista e desrespeitoso com as mulheres, acho uma tremenda responsabilidade criar uma menina. Inclusão é um tema que defendo bastante pois acredito ser fundamental as pessoas terem os mesmos acessos e participação na sociedade. Acho que a inclusão proporciona empatia, entendimento de oportunidades, igualdade e amor ao próximo. Valores muito importantes para o desenvolvimento de uma criança. O conceito de inclusão já puxa com ele diversos outros como a própria diversidade, e acredito que ser sustentável hoje não é mais uma escolha, né? Além de ser nossa obrigação, é a única opção se quisermos ter uma existência longeva e criar filhos neste planeta.
Créditos:
Fotos: Mariana Valente
Direção de moda: Alexandra von Bismarck
Texto: Karina Hollo
Styling: Cinthia Arnoni
Produção executiva: Ana Luiza Neves
Assistente de fotografia: Erick Diniz
Beauty: Vini Vieira
Assistente de beauty: Jessica dos Santos