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Luiz de Freitas conta sua trajetória na moda e cultura em biografia

Luiz de Freitas conta sua trajetória agora em uma biografia que reflete a indústria de moda e a agitação cultural da época no Brasil

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Luiz de Freitas - Foto: Divulgação.

Luiz de Freitas foi um antídoto contra a caretice masculina dos anos 1980 com a marca Mr Wonderful. Sua trajetória é contada agora em uma biografia que reflete a indústria de moda e a agitação cultural da época no Brasil. Confira! 

“Preto, gay, pobre e interiorano, tem tudo pra dar certo!” Esses foram os adjetivos usados por Fernando Gabeira para descrever o estilista Luiz de Freitas quando conheceu, na ocasião de seu retorno do exílio político, em 1979, as criações vibrantes da marca de moda masculina Mr Wonderful. Para o jornalista, essas características seriam determinantes para seu estrelato na moda, pois a explosão de criatividade que ele apresentava era essencial para o Brasil nos últimos anos de ditadura militar. A recém-lançada biografia Eu, Luiz de Freitas, Mr Wonderful (Bem Cultural Editora), de Dininha Morgado, conta como essa previsão acabou dando certo, projetando um artista da pequena Magé (RJ) para a Quinta Avenida de Nova York.

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Luiz de Freitas - Foto: Divulgação.

“Hoje com 83 anos, continuo preto, gay, pobre. Depois de rodar o mundo, voltei a ser interiorano. E ainda acrescento: careca”, sintetiza com humor o personagem principal desse livro, que conta também como a marca se tornou uma oferta de roupas masculinas sem os ranços opressores do machismo dos anos de chumbo. Com muita ousadia e irreverência (para usar os termos da época), seu estilo pavimentou a noção de ambiguidade sexual que definiu a estética da cultura jovem nas décadas seguintes.

Gabeira foi o primeiro cliente famoso de Luiz de Freitas, na mesma época que ele chamava atenção no Posto 9 com a controversa tanga de crochê azul e amarela. Outro de seus clientes famosos foi Gilberto Gil, que também em 1979 lançava a música “Realce”, marcando o início do culto ao corpo e do reconhecimento da sensualidade dos homens nas praias do Rio de Janeiro. Luiz vestiu também Caetano Veloso, que havia inspirado muitos senhores maravilhas com o movimento Tropicália.

“Minha trajetória foi disruptiva, fruto de referências que vieram da brasilidade, do desbunde, do amor livre. Fiz naturalmente aquilo que hoje é bandeira do empoderamento”, explicou o estilista em bate-papo no lançamento do seu livro em São Paulo.

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Luiz de Freitas - Foto: Divulgação.

Ficavam todos encantados com o efeito sexy das camisas transparentes nos homens musculosos e também com o ineditismo dos spencers de tapeçaria e dos desenhos gráficos coloridos. O ponto de venda em Ipanema teve ainda muitos clientes internacionais que visitavam o país em turnê nos anos 1980, como os músicos Freddie Mercury, Rod Stewart e Prince, o bailarino Rudolf Nureyev e o estilista Jean Paul Gaultier, ícones de uma comunidade ainda tão invisível que não era definida por siglas. Na esteira desse sucesso, a marca foi vendida ainda em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Amsterdã, Porto, Lisboa e um showroom na multimarcas Saks NY.

“MINHA TRAJETÓRIA FOI disruptiva, FRUTO DE REFERÊNCIAS QUE VIERAM DA brasilidade, DO DESBUNDE, DO amor livre. FIZ NATURALMENTE AQUILO QUE HOJE É bandeira DO EMPODERAMENTO.”

LUIZ DE FREITAS

Além das roupas, vendia bastante dos perfumes em frascos de metal que pareciam de farmácia antiga (frascos esses que o estilista Gianni Versace comprou para presentear os amigos). O design de remédio era proposital e fazia parte do conceito da Clínica de Moda, como ele chamava sua loja. Não por acaso, era toda decorada com equipamentos hospitalares. “A ideia era curar a caretice do homem brasileiro ao se vestir. Eles precisavam de terapia”, diverte-se Luiz de Freitas ao tentar definir sua proposta comportamental arrojada e provocativa. Servia para homens gay, bi ou hétero, desde que não fossem caretas…

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Luiz de Freitas - Foto: Divulgação.

Com seu talento para o drama, fez figurinos para muitas estrelas da TV, cinema e teatro (homens e mulheres). Destacou-se também com os desfiles teatrais e performáticos, como um no Copacabana Palace que foi encerrado com a figura audaciosa de um modelo que era metade homem e metade mulher. Esse momento foi lembrado pela editora de moda Regina Guerreiro na dedicatória que escreveu na contra-capa. 

A publicação de 429 páginas foi financiada com recursos da lei federal Paulo Gustavo, via editais culturais da prefeitura de Magé. Um bom exemplo do esforço local para contar a história de um de seus mais ilustres cidadãos. Outros que valem mencionar, inclusive seus vizinhos no bairro de Pau Grande, foram Mané Garrincha e a autora do livro, a psicóloga Dininha Morgado, com quem trabalhou na marca por mais de uma década. “Receber homenagens em vida, premissa defendida por Nelson Cavaquinho em seus versos, é uma realidade na vida do incomparável Luiz de Freitas”, resume a autora.

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Luiz de Freitas - Foto: Divulgação.

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