Cultura

“Não se preocupe, querida”: Entrevistamos a figurinista do filme

Arianne Phillips, figurinista do filme "Não se preocupe, querida",  conta com exclusividade para a L’Officiel tudo sobre os figurinos espetaculares do filme mais esperado do ano

Arianne Phillips
Arianne Phillips (Foto: Getty Images)

“Não se preocupe, querida é um dos filmes mais comentados dos últimos anos. Entre críticas boas e outras mais duras, é difícil saber se isso foi resultado de fato da qualidade cinematográfica ou pelas fofocas de bastidores. De qualquer forma, com um visual espetacular e uma trilha sonora marcante, a segunda produção dirigida por Olivia Wilde está sendo um sucesso de bilheteria surpreendente. E como não poderia ser diferente, a L’Officiel trouxe um conteúdo privilegiado sobre o making off do filme. Tivemos a oportunidade de conversar com exclusividade com aqueles que foram o braço direito da diretora e contribuíram para dar a história um visual e trilha sonora única. Nos próximos dias vocês poderão ler aqui essas conversas.

Um dos pontos mais comentados do filme, são os figurinos espetaculares que dão uma saudades dos looks do final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Por isso, a primeira entrevista é com a renomada figurinista Arianne Phillips que tem em seu currículo filmes como Era uma Vez em Hollywood, Walk the Line e Animais Noturnos dirigido por Tom Ford.

 
Arianne Phillips
Arianne Phillips - Foto: Getty Images

L'Officiel: Pela narrativa, o filme deve ter um visual “perfeito” e outro que é mais sóbrio. Quais foram os elementos principais que você procurou trazer para fazer este contraste?

Arianne Phillips: Tudo começa no roteiro, e na visão da diretora, Olivia Wilde, no nosso caso é claro. Eu já trabalhei em outros filmes que retratavam essa época do início dos anos 1960 como o Walk The Line baseado na vida de Johnny Cash. Mas como era biográfico, tinha seu próprio parâmetro. No entanto, uma das melhores coisas de trabalhar neste filme é que é fictício e nós estávamos criando um mundo da forma que queríamos, um mundo que a Olivia imaginou. E essas conversas são muito divertidas porque estamos falando sobre temas maiores, como do que o filme trata, o que estamos tentando passar. Os figurinos ilustram o personagem e realmente ajudam a criar a identidade deste, portanto falamos do arco do personagem, como conhecemos Alice ou Jack, por exemplo.  A história pela qual eles passam, o que queremos aprender sobre eles no final.

 
 

L'Officiel: O que lhe motivou a entrar no projeto de “Não se Preocupe, Querida”?

AP: Eu sempre escolho filmes que têm um enredo transformador para os personagens, para que eu sinta que posso expressar algum tipo de movimento ou história com figurinos. É muito mais difícil quando são duas pessoas em uma sala e a história se passa em um dia. Há muitos personagens e muitas mudanças de figurino para todos, então, eu me diverti muito com isso. Mesmo que, claro, o filme seja mais centrado em Florence Pugh e Harry Styles, também parece um filme de conjunto, porque há diversos personagens fortes. Senti que tinha a capacidade de ilustrar personalidades diferentes e dar um tom diferente no filme com cada personagem. Foi realmente uma espécie de exagero de riquezas.

 

L'Officiel: Este é o segundo filme da Olivia como diretora e ela também é conhecida por ser uma fashionista. Como foi a colaboração para dar vida para estes personagens, uma vez que a roupa é uma forma de expressão?

AP:  Essa é uma ótima pergunta. Eu acho que a moda é um reflexo da nossa cultura em determinada época. Se você olhar uma L’Officiel de 1950 ou de 1970 você vai ver o que era relevante naquela época. Não apenas o que eles vestiam, mas o que a sociedade e a cultura valorizavam. Antes deste filme, eu apenas conhecia a Olivia pelo seu trabalho como atriz e ativista, e sempre adorei. Além disso, sua estilista, Carla Welsh, é uma grande amiga e acho que o trabalho que elas fazem juntas é fantástico. Sempre admirei o seu senso de estética. E isso ajudou pois eu sabia que poderia me identificar com ela em um nível mais alto visualmente. A maior parte dos diretores são homens, por sorte trabalhei com muitos que entendiam de verdade sobre nuança e vestimentas. Já trabalhei com Tom Ford em seus dois filmes e também com Madonna. Com pessoas assim o nível de conversa é muito mais alto, porque eles têm um vernáculo para roupas. Eles conseguem ver isso de uma forma muito sofisticada e o mesmo se passa com a Olivia. E parte do motivo que me fez participar do filme. A história é sobre verniz e fachada, esse mundo de Victory e a ideia de perfeição.

 

L'Officiel: Além de Olivia Wilde, você também teve que vestir Florence Pugh e Harry Styles, que é um ícone da moda. O quanto o estilo próprio deles impactou o figurino de seus personagens?

AP: O foco é o que é certo para o personagem. Tanto Florence quanto Harry foram ótimos para trabalhar. Tivemos muitas conversas sobre seus personagens e eles também estavam dispostos e curiosos e essas são as duas características que eu sempre espero para um ator. Harry foi fantástico. Quando ele entrou na sala, foi impressionante… porque quando fazemos a primeira prova com o ator, é o ponto de entrada com o filme. A Florence já estava ensaiando com Olivia, mas foi muito generosa com o seu tempo. O Harry entrou um pouco mais tarde na produção e estava realmente aberto. Mostrei a ele os livros que eu crio para cada personagem com muitas referências visuais que fiz com base nas reuniões com a Olivia. Meu primeiro encontro com um ator é para transmitir o que o diretor e eu temos pensado, e é claro que é tudo conceitual até você colocar roupas no ator.

 

L'Officiel: Como é esse processo para criar o figurino do filme, não apenas de um personagem só?

AP: “Não se preocupe, Querida” é um mundo que nós construímos. Começou com um mood board lindíssimo que a Olivia desenvolveu de elementos visuais que ela queria para o filme, o que ajudou muito como um ponto de partida, junto ao ponto de vista do cineasta Matthew Libatique. Então eu criei os meus próprios boards de referência, todos estes arquivos eram digitais e foram sendo atualizados durante todo o processo. Eu faço uma pesquisa histórica geográfica, faço também uma pesquisa de moda bem como de pessoas para entender o que as pessoas vestiam. E também acho importante olhar para a arte e fotografia artística. Geralmente minha paleta de cores vem da arte. Para o filme eu olhei para muitas obras de Jackson Pollock ou Jasper Johns e até as lindas cores de Mark Rothko. A arte abstrata dessa época me ajudou muito, porque estávamos olhando para um design do meio do século e na arquitetura, arte e moda do período. Claro que olhei muito para a moda. Mas desenvolvi um visual que fosse atraente para o olhar contemporâneo. Eu queria usar peças que seduzissem o público para que quisessem viver neste mundo. Queria que Victory fosse delicioso, lindo e irresistível. Era importante criar um mundo que o público entendesse também, por isso tomei uma licença cinemática para usar cores mais chamativas. E por ser um suspense, também podia usar cores e estampas de uma forma que ajudasse a destacar o humor ou a energia de uma cena. Foi muito divertido. Havia muitas oportunidades de tons no filme, como nas cenas de pesadelos… conseguimos fazer com que o design ajudasse muito a mover a narrativa e isso é muito legal.

 

L'Officiel: Alguma cena que você gostou mais de trabalhar?

AP: Para mim foi a cena da festa. Não só pelos figurinos, mas porque eu trabalhei com a Bvlgari que emprestou jóias dos anos 1950 e 1960 de seu acervo. Voaram da Europa para os Estados Unidos, teve muita segurança em volta disso. Eu até achei que não iria acontecer, porque filmamos em uma época que tinham muitas restrições de viagem por conta da pandemia. Florence e Olivia, todas as mulheres estavam usando Bvlgari. Também adorei que a Dita Von Teese participou da cena. Fui eu quem a chamou para participar. Sugeri para Olivia que disse não saber como poderia fazer isso acontecer. Expliquei que ela era minha vizinha, minha amiga. Dita falou “não estou fazendo nada, entediada. Meu tour foi cancelado por causa da pandemia. Amaria filmar”. Todos estavam vestindo o figurino de festa e se sentiam bem. Foi uma cena divertidíssima. Você vê o Harry se apresentando para o público, dançando. Fiquei muito grata de participar deste set, pelo jeito que Olivia inclui todo mundo e faz com que todos se sintam vistos e ouvidos. Foi realmente uma experiência de trabalhar em grupo. Sempre irei valorizar minha experiência de trabalhar neste filme. E esse set em todos os sentidos foi o ponto culminante para mim.

 

Tags

Posts recomendados