Música latina: qual a língua do pop?
Ícones da música latina como Gloria Estefan, Ricky Martin e Enrique Iglesias foram alguns dos cantores que abriram as portas desse universo
De tempos em tempos o apetite musical se renova com a apresentação de artistas que não cantam em inglês e inovam no cenário pop. Ícones latinos como Gloria Estefan, Ricky Martin e Enrique Iglesias foram alguns dos cantores que abriram as portas para que Despacito, com Daddy Yankee (e o famoso remix de Justin Bieber), se tornasse a terceira faixa mais transmitida no Spotify em 2017.
Mas não é apenas a música latina, representada por Ozuna, Maluma, Rosalía e Karol G, que ganha espaço. 2019 foi um ano marcado pela ascensão do K-pop: o BTS foi o primeiro grupo asiático a conquistar a marca de 5 bilhões de reproduções no Spotify, ultrapassada por eles mesmos em 2020, com oito bilhões. Já o grupo coreano BLACKPINK é um fenômeno no YouTube, tendo atingido 82,4 milhões de visualizações no primeiro dia de seu lançamento. Esse recorde em uma estreia só foi ultrapassado pelo lançamento de Dynamite, outra faixa do BTS.
A conquista do espaço por artistas que não cantam em língua inglesa fica visível na presença de Jennifer Lopez e Shakira como estrelas do Super Bowl LIV, bem como pela aparição de ícones do K-pop nas casas de moda internacionais. Jimmy Fallon, que em The Tonight Show costuma destacar os astros que cantam em inglês, foi o responsável pela estreia da francesa Lous e The Yakuza no palco americano. Tudo isso indica que, finalmente, a globalização do pop ocorre sem se prender à tentação dos artistas de cantar em inglês.
Outro exemplo disso é o reconhecimento de Bad Bunny. O rapper porto-riquenho apresenta-se apenas em espanhol e faz raras parcerias com artistas de língua inglesa. Ainda assim, foi o artista mais transmitido no Spotify em 2020, com 8,3 bilhões de reproduções.
Para Maluma, astro colombiano com mais de 57 milhões de seguidores no Instagram, o segredo do sucesso está no tom emocional da letra e da batida. O cantor acredita que é importante permanecer fiel a quem se é, e não apenas tentar se ajustar ao que já se espera.
O sucesso daqueles que cantam em outras línguas não apenas é reconhecido pelos cantores de língua inglesa, como também visto como uma oportunidade. Se anteriormente, eles eram procurados para colaborações, agora são eles que buscam por parcerias com esses artistas. BLACKPINK, por exemplo, colaborou para os álbuns de Lady Gaga e Dua Lipa.
Como reflexo disso, há o aumento da busca pela aprendizagem de novos idiomas. O espanhol é a segunda língua mais procurada no Duolingo e, segundo relatório de 2018 da Modern Language Association, 14000 estudantes estariam aprendendo coreano – duas décadas antes o número era bastante inferior: apenas 163 alunos. Para o professor de história coreana na Universidade de Toronto, Andre Schmid, o ensino foi impulsionado graças à emergência da música pop, bem como da dramatização coreana. Atendendo a pedidos dos fãs, o próprio BTS lançou o programa Aprenda coreano com o BTS, no Weverse, em 2020.
Assim, ainda que as músicas não cantadas em inglês nem sempre atinjam o topo em países de língua inglesa, sua influência tem sido crescente. Prova disso é a vitória de Rosalía no Grammy e a predileção por Bad Bunny no streaming.