Casa de Criadores 55: Mateos Quadros apresenta nova coleção

Mateos e Gui, a dupla por trás da Mateos Quadros, gosta de uma abstração — vide o desfile de estreia, há um ano. Esta segunda apresentação tinha já um caminho definido quando os dois (e todos nós) foram pegos de surpresa pela enchente trágica que afetou o Rio Grande do Sul, no primeiro semestre. Gaúchos radicados em São Paulo, viram-se como observadores da terra arrasada, distantes de família e amigos, com corações apertados. Foi aí que a subjetividade ficou de lado, a criação foi puxada para a terra firme e veio esta coleção, que versa sobre as casas de origens dos seus. Mas qual casa, em um momento de tragédia? A real, atingida pelas águas, e a da memória, idealizada, se confundem — especialmente quando puderam visitar a região, meses depois. É uma coleção cheia de simbolismos. Como das madeiras descartadas pelas ruas das cidades, que inspiram detalhes, pulseiras e uma bolsa em formato de cavalo — todas construídas em impressão 3D, com polímero imitando o material orgânico. A tecnologia é o que fez Mateos ganhar destaque quando surgiu mas, no último ano, em contato com os clientes, um crescente olhar mais prático também apareceu. E de forma muito bem-vinda e interessante, nos plissados, nas malharias e em silhuetas usáveis. O RS não aparece apenas na interpretação-homenagem, mas também na rede importante de afeto dos estilistas, que movimentou profissionais e cooperativas gaúchas na sua construção — também como forma de mitigar os efeitos financeiros do desastre. Uma coleção que teve origem e processo claramente sofridos, mas que prova que, entre calamidades, afetos e solidariedades, belas histórias renascem.