Chanel celebra a década de 1930 em coleção da alta-costura
Para a temporada de inverno 2022/23 da alta-costura, a Chanel aposta em modelos idealizados por Coco na década de 1930, dando continuidade no legado deixado pela estilista francesa
Muitas marcas trabalham a própria memória como forma de manter sua herança cultural. Nenhuma, entretanto, na mesma intensidade que Chanel. Aqui, o sentimento de continuidade é tão forte que a ideia de atemporal é a base de tudo. Talvez porque Gabrielle Chanel, sempre à frente do seu tempo, já estivesse mirando a vocação futurista do purismo quando deu os primeiros passos profissionais, sem abrir mão do respeito ao contorno suave do corpo. Karl Lagerfeld veio logo depois, assumindo linhas marcantes. Virginie Viard dá sequência a esse legado. “Gosto de quebrar a abordagem gráfica com um visual natural. As roupas permanecem leves, femininas, projetadas para serem usadas. Não consigo me ver fazendo isso de outra maneira”, diz a diretora criativa no texto sobre a coleção alta-costura inverno 2022/23, apresentada hoje em Paris. De maneira inspiradora, é sequência do desfile anterior, verão 2022, com tempero extra de experimentação, que Virginie traduz em vestidos longos como Mademoiselle Chanel imaginou na década de 1930: ajustados ao corpo, embora tenham ombros fortes; e plissados como o vestido de noiva. Entre os materiais preciosos, renda incrustada, retrabalhada, repintada; tweed tecido manualmente. Na cartela de cores, verde brilhante, cáqui, bege, rosa, prata e muito preto. Para arrematar, elementos que brincam com imaginários opostos: colares da coleção de aniversário de alta joalheria '1932' – que homenageia a primeira e única coleção 'Bijoux de Diamants' – criada em 1932, chapéus masculinos e capelines com abas largas, além de botas de cowboy. O grupo de artistas escalado para o show anterior também deu o tom: o artista plástico Xavier Veilhan, o multi-instrumentista Sébastien Tellier, a embaixadora da marca Charlotte Casiraghi, o músico Pharrell Williams e a modelo Vivienne Rohner. Sendo a moda templo de eternas mudanças, a Chanel ensina que é possível fazer diferente sem desprezar a sua própria essência ou a do setor.