Ducasse exalta a simplicidade da gastronomia como ‘o novo luxo’
O mais estrelado dos chefs, Ducasse fala sobre um Mediterrâneo inusitado
Alain Ducasse abre as portas de seu novo restaurante em Mônaco como um velho amigo recepciona aqueles que quer bem. Com grandes vidraças beijadas pelo sol, o Ômer se traduz em uma jornada por um Mediterrâneo oriental ainda pouco explorado. Com certeza, é um inédito e desejado hotspot dentro do Hotel de Paris para assistir ao Grande Prêmio mais chique da temporada de Fórmula 1.
Confira o que o mestre dos sabores tem a dizer sobre seu novo capítulo na arte de comer bem.
Revista L’Officiel - Quais são os pontos de intersecção entre a simplicidade da culinária mediterrânea e a haute cuisine oferecida em Mônaco? A simplicidade pode ser luxuosa?
Alain Ducasse - A simplicidade, de fato, é o novo luxo. E isso é o resultado de uma tendência de longo prazo. Esse esforço pela simplificação começou algumas gerações atrás e tornou-se muito perceptível com a Nouvelle Cuisine, nos anos 70. Desde então, essa tendência tem acelerado sob a influência de duas preocupações. Uma delas está relacionada com a saúde, pois as pessoas estão ficando cada dia mais conscientes em relação ao efeito negativo de uma dieta maléfica e procurando comidas mais saudáveis; com menos sal, menos açúcar, mais frutas, vegetais e cereais. A segunda é a preocupação ambiental. Isso favorece produtos locais e sazonais.
Em termos culinários, todas essas evoluções resultam de uma busca por simplicidade, pois ela tornou-se uma questão de qualidade do produto e sinceridade de sua preparação.
R.L: A culinária mediterrânea é a melhor amiga do vinho?
A.D: Certamente. É por isso que no Ômer, com Mathias Negro (chef sommelier), exploramos novos terroirs mediterrâneos. Por exemplo, do Mar Egeu, Dalmácia, o interior sírio e marroquino. Experimente, por exemplo, nosso tinto croata Primorska Hrvatska com o Arroz Socarrat. Essa junção é excepcional.
R.L: Para você, o que é essencial na cozinha do Mediterrâneo?
A.D.: Especiarias, simplicidade e compartilhamento. Ela é a cozinha da comida caseira. E eu queria essa raiz perceptível no Ômer! Mas quando falo de especiarias, me refiro ao tempero (épicé) e não aquelas feitas com chilli pepper (piquant). Por exemplo, o cominho e o cardamomo trazem muito sabor, porém ainda assim não são ‘quentes’.
Sobre compartilhamento, a maioria dos pratos é colocado ao centro da mesa e assim todos os convidados pegam um pedaço. É aí que a cozinha vira um estilo de vida.
R.L.: O Ômer tem pilares sustentáveis?
A.D.: Com certeza! A maior parte dos nossos produtos são de fontes locais e, sempre, sazonais. Também muito importante, nossa cozinha é baseada em vegetais e cereais, o que é bom para a saúde e para o planeta.
Fotos: Divulgação Ducasse Paris e Monte-Carlo Société des Bains de Mer.