O chef brasileiro Raphael Rego inaugura Fogo e Oka em Paris
Em Paris, o colunista de gastronomia Charles Piriou foi descobrir o novo projeto do chef brasileiro estrelado Raphael Rego com seus restaurantes Oka e Fogo.
Encontrei pela primeira vez o chef Raphael Rego durante a pandemia, quando a incerteza pesava no setor de restaurantes na França e no mundo. O brasileiro radicado em Paris há 17 anos me mostrou seu pequeno restaurante gastronômico Oka, servindo um longo menu degustação nos moldes tradicionais do guia Michelin. O chef defende orgulhosamente uma cozinha francesa com ingredientes brasileiros como açaí, tapioca e cacau. Enquanto as ideias eram boas e os pratos deliciosos, me lembro do serviço formal e distante do espírito carioca despojado do chef. Curioso e certo do seu futuro crescimento, eu passei a acompanhar de perto o trabalho de Rego. Alguns meses depois, o chef anunciou o fechamento temporário do Oka, uma mudança de endereço e o lançamento de um projeto mais amplo e, ainda bem, mais brasileiro em sua essência.
A novidade de Raphael Rego em Paris é magnífica e traduz a versatilidade e o alto potencial do cozinheiro. O projeto vai além do novo cenário do Oka. É um verdadeiro renascimento, uma virada de chave. Rego resgatou um sonho antigo para juntar sua fome com sua vontade de comer. Ele lança também o Fogo, um lugar onde expressa com diversão uma cozinha descontraída de bistronomia com uma pegada francamente brasileira. Oka e Fogo são restaurantes irmãos que vivem no mesmo lugar e são separados apenas por uma sala privativa. Os dois convivem com harmonia em décors chiques sem ser pomposos. Assinado pelo arquiteto Arnaud Behzadi, o projeto traz uma predominância de madeiras, mármores e pedras. Essa mistura do aconchego brasileiro com a elegância francesa é um acerto alinhado com a gastronomia do chef. As ilustrações nas paredes e a curadoria de arte da mesa representam o que há de mais gostoso nesse multiculturalismo.
No Oka, os dezesseis clientes diários podem apreciar um menu maduro, ritmado e cheio de surpresas nos pratos e nas taças. Entre elas, a vieira grelhada com molho de moqueca, o lagostim defumado com madeira de Amburana e a picanha Wagyu servida com mil folhas de beterraba e açaí. A maturidade do chef está evidente e confirmada a cada garfada. No serviço comandado por Yoann Grégory, Adeus formalidades e bem-vinda à alma moderna com leveza. O rigor francês com a ginga brasileira fazem mesmo maravilhas. No capítulo sobremesas, o cacau baiano da marca Dengo foi integrado a todas as receitas e vem aí uma doce bossa. Na carta de vinhos, mais de 400 rótulos agradam todos os estilos. Prove o divertido e marcante Muscat Macunaïna, produzido especialmente para o chef.
Depois de um jantar absolutamente delicioso no Oka, eu terei inevitavelmente de voltar para provar e sentir toda a ginga do Fogo em chamas. A vontade não falta. O caminho Oka-Fogo ou Fogo-Oka será o programa de muitos parisienses e brasileiros em busca dessa deliciosa miscigenação.
Oka - Fogo
8 rue de la Messionier, 17 ème.