O chef que merece todas as estrelas do mundo
Conheça o trabalho de Bruno Verjus, um chef autodidata que conta lindas histórias através do seu restaurante parisiense Table e de suas aventuras pelo mundo.
Conheci o Bruno Verjus pela primeira vez através da tela no Instagram. Estava em minha casa no sul da França e parei em um vídeo dele falando sobre berinjelas assadas. Fiquei encantado com o personagem carismático, e curioso para saber mais. Desde então, eu não paro de acompanhar seus passos e, coincidentemente ou não, tive a oportunidade de ver seu trabalho de mais perto em diversas oportunidades a seguir. Primeiramente, vou conhecer seu restaurante Table em Paris. Mal eu sabia que esse endereço é um dos mais concorridos da cidade e do mundo. É quase impossível conseguir uma reserva, o preço do menu degustação fica nas alturas e o restaurante abre apenas quatro dias por semana.
Ao chegar adiantado na casa de Verjus em um bairro nada óbvio da cidade, sou recebido pelo próprio com uma simpatia ímpar. Imediatamente sinto o espírito do lugar, vejo um balcão que segue os movimentos da cozinha e poucas cadeiras ao redor. Enquanto minha convidada não chega, aceito uma taça de Champagne e, hipnotizado, observo uma equipe jovem interagindo em silêncio para os preparativos desse almoço que marcaria minha memória. Table é uma viagem sensorial, uma experiência gastronômica sem afetação e com alta precisão. Bruno Verjus trabalha apenas com os melhores dos melhores ingredientes franceses, e mostra um apreço especial pelos frutos do mar. Ele e sua equipe pensam juntos em como extrair os sabores mais intensos de cada produto, sem regras ou códigos estabelecidos. Aqui não há artifícios, não há blá blá blá, não há técnicas mirabolantes. Há uma grande pureza e integridade no prato.
Eleito o décimo melhor restaurante do mundo pela The World 's 50 Best, a casa possui duas estrelas no guia Michelin. A verdade é que Verjus merece todas as estrelas do mundo. Autodidata, o chef tem um percurso intrigante. Já foi empresário no ramo de importação e até crítico de gastronomia. Hoje, ele se diverte contando uma história gastronômica sem nenhum medo. Bem pelo contrário, Verjus afirma com ousadia ser estilo e provoca a unanimidade dos gourmets mais céticos.
O segundo capítulo do meu romance com Bruno Verjus é uma viagem até a Bangkok, onde o chef deve pilotar um jantar com outro famoso, Gaggan Anand. Embarcado na aventura, estou curioso para ver como seria a atuação de Verjus em um território diferente. Sento à mesa com altas expectativas. Bruno não nasceu ontem, e sua ligação com a Ásia é forte, vem de outros carnavais. Em poucos minutos, a criatividade, versatilidade e adaptabilidade vêm à tona. Afinal de contas, nunca é fácil cozinhar fora de casa, mas Bruno leva isso com pé nas costas. De volta a Paris, dessa vez é Bruno Verjus que recebe seu colega Vicky Chang diretamente de Hong Kong. Outro papo, outra história. Esse jovem prodígio faz uma comunhão de bem com Verjus para servir um dos almoços mais especiais do meu recente percurso gastronômico.
Fato é, Bruno Verjus é um ser apaixonante. Ele consegue contar belas histórias através de belas receitas. Sua certa simplicidade leva a uma máxima sofisticação. Ele consegue provar que um restaurante fine dining não precisa ser chato, longo e cheio de dourado. Ele consegue, com uma equipe jovem, ser o mais atual de todos os tempos e inspirar uma nova geração de cozinheiros focando no essencial: o produto.