Stella Artois e chefs criam experiência Uncomfortable Food
Stella Artois e Ipsos realizam pesquisa inédita sobre os desafios enfrentados pelas mulheres em cozinhas profssionais. O resultado, ressignificado em criações autorais, deu origem à experiência gastronômica Uncomfortable Food
No primeiro semestre deste ano estreou a série Julia, em streaming. Não foi a primeira vez que a apresentadora e culinarista Julia Child chamou a atenção de diretores e roteiristas. Precursora dos programas de receitas com o The French Cuisine, a norte-americana já teve sua história contada em outras produções. Mas entre receitas apetitosas e muitas risadas, essa também destaca questões sérias como a distância dos homens da cozinha doméstica versus o machismo na gastronomia profissional.
Era assim nos anos 1960, quando a produção foi ao ar, e continua sendo uma triste realidade até hoje. O que é sentido pelas chefs no dia a dia ganhou respaldo do primeiro estudo do gênero realizado no país por Stella Artois e o instituto de pesquisa Ipsos.
Os resultados negativos apontados pela pesquisa, entretanto, foram ressignificados por mãos talentosas no desafio Uncomfortable Food, um menu 100% feminino feito pelas chefs Bela Gil, Kátia Barbosa, Andressa Cabral, Bel Coelho, Cafira Foz, Bruna Martins, Kalymaracaya Nogueira, Amanda Vasconcelos, Michele Crispim e Nara Amaral. Seus pratos autorais dão impulso a um movimento que reconhece e valoriza a jornada e o talento de cada uma delas. Cada criação é uma reflexão sobre o cenário atual e um convite à mudança e pode ser degustada em um circuito gastronômico que dura por tempo limitado (mais informações podem ser conferidas em stellaartois.com.br/menu).
Essa iniciativa integra o movimento Juntas na Mesa, plataforma de transformação social de longo prazo criada pela marca da Ambev para promover a equidade de gênero, protagonismo e empreendedorismo feminino na gastronomia. A iniciativa ganhou o endosso das chefs. “Fizemos a pesquisa para conhecer a fundo as dores e os desafios dessas mulheres e vamos atuar para propor uma mudança dessa realidade, principalmente nas três frentes mais problemáticas: formação, visibilidade e crédito”, explica Mariana Porto, diretora de marketing de Stella Artois.
A pesquisa mostra que uma em cada duas participantes concorda que cozinhar para a família ainda é trabalho das mulheres na opinião dos brasileiros, dado que está em sintonia com outros dois levantamentos. É a realidade em 96% das residências brasileiras (PNAD, 2019). Elas também são apenas 7% nos restaurantes mais renomados do país (Chefs Pencil, 2022). A pesquisa da Stella Artois e Ipsos revela que mais de um terço das entrevistadas já teve suas capacidades questionadas apenas por se identificar pelo gênero feminino. Há, ainda, dados sobre discriminação e assédio, e evidencia dificuldades em três áreas específicas para quem deseja seguir a profissão citadas por Mariana.
A problemática começa ainda nos estudos. Quase metade das mulheres (45%) desejam adquirir mais conhecimento, mas esbarram na falta de tempo e dinheiro. Muitas delas sonham em ter o próprio negócio, porém encontram dificuldade em obter crédito bancário – cerca de uma em cada três afirma que empreender no setor custa mais caro em comparação aos homens. Sobre visibilidade, os dados revelam que um terço das participantes da pesquisa acredita que elas não conseguem crescer na gastronomia porque não são ouvidas pelos chefs homens. Ao mesmo tempo, 35% concordam que muitas mulheres já tiveram suas criações e autoria de pratos roubadas na cozinha e cerca de três em cada dez profissionais já sofreram discriminação de gênero ou pensaram em mudar de profissão por falta de oportunidade. Para gerar mudança nessas frentes, Stella Artois anunciou um investimento de R$ 10 milhões, incluindo publicidade para chefs mulheres, oferta de crédito para até mil mulheres em parceria com a fintech da Ambev BEES Bank e mil vagas gratuitas em um curso em parceria com a ONG Gastromotiva.
PARA COMER E REFLETIR
Confira alguns dos highlights do menu Uncomfortable Food
Lagostim da Prosperidade
por Andressa Cabral e Bruna Martins
Por mais crédito
O Lagostim da Prosperidade é um chamado para tempos melhores, com mais potencialização e investimento em mulheres na gastronomia.
Baião de Todas
por Cafira Foz e Kátia Barbosa
Por mais visibilidade
Não é de dois: é de todas. Este prato representa a visibilidade que as chefs e as cozinheiras merecem ter.
Mousse Quebrando Barreiras
por Bela Gil e Bel Coelho
Por mais oportunidades
Estar na gastronomia enquanto mulher é quebrar barreiras todos os dias. E a cada nova oportunidade na cozinha, surge uma chef para mostrar o seu talento.
Nem Tudo São Flores
por Amanda Vasconcelos
Por mais reconhecimento
O que as cozinheiras precisam fazer para serem reconhecidas? Seguir em frente mesmo com tantos obstáculos. É por isso que, para uma experiência completa deste prato – e que faz jus à realidade –, recomenda-se quebrar a barreira da tuile antes de começar a degustação
Escada da Resistência
por Kalymaracaya Nogueira
Por mais empoderamento
O primeiro degrau significa tudo o que é imposto para as mulheres. O segundo mostra a resiliência feminina: a mulher pegou a força de seus ancestrais e subiu um pouquinho. Já o último degrau, que traz a delicadeza e a doçura de ser mulher, expõe o resultado de não ter desistido de subir.
Beleza Oculta
por Michele Crispim
Por mais equidade
A esfera representa a cor da pele negra: que é linda, porém, vista como um impeditivo. Chefs negras são invisibilizadas e não valorizadas, mas a luta diária abre frestas nessa casca do preconceito e, aos poucos, o talento vai sendo visto e reconhecido. Afinal, o sabor da igualdade é doce.
Maturi da Ilusão
por Nara Amaral
Por mais aceitação
A casquinha de siri lembra o maturi: parece uma coisa, mas não é. Isto também acontece com as cozinheiras, que parecem menos habilidosas no ponto de vista de muitas pessoas, mas não são.
CENÁRIO DA PESQUISA
O levantamento realizado em agosto deste ano por Stella Artois e o Instituto de pesquisa Ipsos foi dividido em duas etapas e realizado nas regiões Norte e Centro-Oeste (Belém, Brasília e Goiânia), Nordeste (Recife e Salvador), Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e Sul (Curitiba e Porto Alegre). Em cada uma delas foram ouvidas 500 pessoas. A primeira etapa entrevistou homens e mulheres responsáveis por estabelecimentos de alimentação; a segunda reuniu apenas mulheres que trabalham na área da gastronomia, em cargos de proprietárias ou sócias, chefs e sous-chefs, cozinheiras e cozinheiras-chefe, auxiliares de cozinha, garçonetes, atendentes e operadoras de caixa. Para a etapa quantitativa da pesquisa, a margem de erro é de 4,4 p.p.
COM A PALAVRA, AS CHEFS
“A pesquisa escancarou preconceitos que existem no nosso trabalho e, às vezes, nem percebemos que estão lá.” Chef acreana Amanda Vasconcelos, à frente do restaurante Casa Tucupi, em São Paulo.
“O processo foi até mais leve do que eu imaginei, todas já meio que sabíamos o que fazer – até porque sofremos na pele – e a troca foi fundamental para que fechássemos um menu coerente, bonito e muito bom!” Chef carioca Kátia Barbosa, do restaurante Aconchego Carioca e do Bar Kalango, no Rio de Janeiro.
“Sempre ouvi um ditado que diz que, quando o homem se dedica para cozinhar, faz melhor que qualquer mulher. Isso nunca foi verdade. Qualquer um que se dedica e faz com amor, faz melhor.” Chef Nara Amaral, do restaurante Di Janela, em Salvador (BA).
“A experiência de participar deste processo de criação foi incrível! A elaboração toda foi minuciosamente pensada e trabalhada nas questões pessoais e isso me impressionou muito. A troca e o compartilhamento de saberes foi muito importante para mim.” Chef indígena Kalymaracaya Nogueira, de Campo Grande (MS).