Adriano Pedrosa é curador da Biennale de Veneza! Confira entrevista
Adriano Pedrosa assume a curadoria da 60ª Exposição Internacional de Arte da La Biennale di Venezia
Adriano Pedrosa assume a curadoria da 60ª Exposição Internacional de Arte da La Biennale di Venezia, e promete uma edição recheada de nomes de artistas outsiders, populares, queers, indígenas e expatriados. Confira entrevista exclusiva L'Officiel Hommes Brasil!
Desde 15 dezembro de 2022, Adriano Pedrosa acumula os dois cargos de maior prestígio nas artes visuais dos dois hemisférios. Continua à frente do MASP como diretor artístico do museu paulista mais importante da América do Sul e é o curador da 60ª Exposição Internacional de Arte da La Biennale di Venezia.
Conhecida em todos os idiomas apenas como “Biennale”, há mais de um século o visionário evento de Veneza continua à testa das artes plásticas do planeta, assinalando tendências artísticas, notabilizando do dia para a noite artistas até então desconhecidos, redirecionando as coleções particulares e de instituições de cultura, e influindo para mais ou para menos nos preços das galerias e casas de leilão.
A escolha de Pedrosa sinaliza um reposicionamento significativo da antiga instituição. É a primeira vez na história da Biennale que um latino-americano comanda a curadoria que, nesta montagem, exibe 330 artistas internacionais, o maior contingente até hoje. Claro, todos os selecionados por Pedrosa. Incluindo 30 artistas brasileiros, o maior número a expor no evento, que, nesta edição, refletindo o caos sociopolítico atual, salienta talentos outsiders, populares, queers, indígenas e expatriados, de 20 de abril a 24 de novembro, sob o tema “Estrangeiros em Todo Lugar”.
L’OFFICIEL HOMMES Como é ser o primeiro latino-americano a ocupar o posto de curador da Biennale de Veneza, plataforma mais importante da arte contemporânea mundial?
ADRIANO PEDROSA É uma grande honra, mas também uma grande responsabilidade!
L’OFF O que seu olhar estrangeiro, brasileiro, traz à mostra de arte mais famosa e antiga do mundo sob o tema “Estrangeiros em Todo Lugar”?
AP O meu projeto para a Exposição Internacional da Biennale Arte 2024, Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere, tem, claro, uma presença muito forte de artistas do Sul Global, tanto no Núcleo Histórico quanto no Núcleo Contemporâneo da mostra. O Núcleo Contemporâneo tem quatro focos: artistas estrangeiros, outsiders ou populares, queers e indígenas. Já o foco do Núcleo Histórico são as expressões do modernismo do Sul Global, com artistas que trabalharam no século 20 na África, Ásia, América Latina e Oriente Médio.
L’OFF Em sua trajetória, o que influenciou o seu olhar estético? Você tentou ser artista nos anos 1980, mas enveredou pelo caminho da curadoria de arte, por quê?
AP Esse olhar é uma construção das experiências vividas ao longo dos anos, e inclui as muitas exposições, livros, conversas, visitas de ateliê, filmes e viagens com que nos deparamos nessa trajetória. Comecei como artista, mas aos poucos fui trabalhando cada vez mais com textos e exposições, curadorias e acervos, num determinado momento pensei que pudesse ser mais útil como curador.
L’OFF Você continua à frente da diretoria artística do MASP. Como é driblar essas duas responsabilidades curatoriais de peso?
AP São dois trabalhos de tempo integral. Sem finais de semana, sem férias. Mas é um esforço extraordinário que se faz uma vez na vida ou na década. Logo a vida volta ao normal.
L’OFF Desde quando você frequenta a Biennale? Quais foram as edições que mais o impactaram?
AP A primeira Biennale que visitei foi em 1991, a partir de 1997 visitei todas as edições. Para mim, as mais marcantes foram as Biennale com curadorias de Francesco Bonami (2003), Massimiliano Gioni (2013), Okwui Enwezor (2015), e Cecilia Alemani (2022).
L’OFF No MASP, quais foram as exposições que você mais gostou do resultado em que atuou como curador?
AP Gostei de muitas, na verdade, diria que gosto de todas que fiz. Tarsila Popular, em 2019, foi a que teve maior visitação, Histórias Afro-Atlânticas, em 2018, foi a que teve mais impacto e maior reconhecimento internacional, mas tenho carinho especial pela mostra da Ione Saldanha, em 2021.
L’OFF Hoje, o menu anual de bienais mundo afora é vasto. Além das duas mais importantes – Veneza e São Paulo –, quais são as outras que deveriam ser visitadas por colecionadores e profissionais de arte?
AP Eu indicaria a Bienal de Istambul e a de Sharjah, nos Emirados Árabes, mas também a Documenta, em Kassel, Alemanha, apesar de suas crises.
L’OFF Como curador, você privilegiou a arte brasileira na Biennale?
AP A arte brasileira desempenha um papel importante num projeto que tem foco no Sul Global, do mesmo modo que a arte da Argentina, do México, da Nigéria, da África do Sul, da Índia, do Egito e do Iraque.
L’OFF Algo mais a mencionar, Adriano?
AP Fazer uma Biennale em Veneza implica desafios enormes, sendo que fui nomeado curador somente em 15 de dezembro de 2022. Passados 11 meses eu já tinha finalizado todas as listas de artistas e de obras. Além disso, há o desafio da captação de recursos para a exposição. Neste ano de trabalho intenso foi difícil para mim não poder atender às inúmeras demandas que surgem e se multiplicam vindas de artistas, curadores, críticos, galeristas, colecionadores, colegas e amigos no mundo todo. Isso talvez seja o mais frustrante para mim.
60ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DA LA BIENNALE DI VENEZIA
DE 20 DE ABRIL A 24 DE NOVEMBRO DE 2024. VENEZA, ITÁLIA
LABIENNALE.ORG
