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Alejandro Claveaux fala sobre trabalho e tabus na dramaturgia

Alejandro Claveaux revela seus processos criativos, inspirações e a polêmica levantada sobre masculinidade em sua atuação na série Rensga Hits, da Globoplay, em entrevista exclusiva à L’Officiel Hommes

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Alejandro Claveaux | Foto: Asafe Ghalib

Alejandro Claveaux vive um dos momentos mais prósperos da carreira. No ar em várias plataformas, o ator pode ser visto em novelas, séries de televisão, cinema e no streaming. Ele já esteve ao lado de Bruna Marquezine em Maldivas, série da Netflix, além de protagonizar Desejos S/A, na Disney Plus entre outras produções na carreira. Claveaux impactou o público com o sucesso da série Rensga Hits, da Globoplay, em que vive o cantor sertanejo Deivid Cafajeste que assume um relacionamento homoafetivo na trama. Hoje, o ator de 41 anos interpreta o enigmático Jordão Nicácio em No Rancho Fundo, novela das 18h escrita por Mário Teixeira, na TV Globo.

Em entrevista exclusiva à L’Officiel Hommes, o ator falou sobre o início de sua trajetória, suas inspirações, as repercussões sobre masculinidade de seu personagem na teledramaturgia, além dos desafios da atuação. Confira! 

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Alejandro Claveaux | Foto: Asafe Ghalib

Quando começou o interesse pelo universo da atuação? Você sempre quis ser artista?

Eu sou formado em Engenharia de alimentos. Tinha o desejo de trabalhar com meu pai que tinha uma indústria de laticínios. Montei uma fábrica/loja de sorvetes pela qual sou apaixonado. Desenvolvi alguns sabores diferentes e fazia bastante sucesso, mas, durante a faculdade, fui chamado para fazer parte do grupo de Teatro Guará de Goiânia. Ainda na faculdade, com o tempo, o teatro passou a não ser mais uma dúvida para mim. Virou meu norte.
A partir daí, fui em busca desse desejo. A fábrica de sorvetes já não fazia mais sentido para mim. Portanto, eu a fechei ainda nesse período e me mudei para o Rio de Janeiro em busca de trabalho e me voltei completamente para a arte.

Em quase duas décadas de trabalho, você já esteve em elencos de longa-metragem, séries e novelas. Como é se adaptar a vários formatos de conteúdo?

Realmente não é simples entender a linguagem de cada plataforma. Como profissional, no mercado atual, nós nos adaptamos a cada formato.
O teatro, por exemplo, tem um preparo maior, uma dedicação intensa e um retorno mais imediato do público; é muito instigante. Já o audiovisual de televisão tem sua assinatura própria e rapidez na produção, requer que o ator esteja mais dinâmico e sagaz e, na maioria das vezes, exige uma entrega por um período mais longo. O cinema seria talvez uma mistura de tudo, também com sua linguagem peculiar que permite, muitas vezes, que o ator crie, sugira ideias e mergulhe bastante no universo da história.
Independentemente da plataforma, é importante que o projeto e o personagem sejam desafiadores. Eu estou sempre em busca de possibilidades diferentes e que me tirem da zona de conforto.

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Alejandro Claveaux | Foto: Asafe Ghalib

Quais são as referências artísticas que mais influenciam o seu trabalho?

Eu costumo dizer que sou um ator de processos. Adoro viver os processos, mergulhos profundos e me coloco à disposição para isso dentro do meu trabalho. Minhas inspirações são artistas que se aprofundam em pesquisas, que buscam conhecimento, que estudam através de vídeos, artes visuais, livros e o material que for interessante para que o produto final seja valorizado e esteja o mais próximo da realidade sugerida para o espectador. Também me interesso por palhaçaria e dança.

A repercussão do personagem Deivid Cafajeste, cantor sertanejo do seriado Rensga Hits, foi grande. Como uma série que abordou a quebra de estereótipos impactou o público?

Pois é... nem eu imaginava que o Deivid faria tanto sucesso. É uma história sensível, pois fala sobre coragem e aceitação. O Deivid é solar, tem seus conflitos internos e usou da coragem para passar por cima disso.
Ao longo da primeira temporada, eu recebia muitas mensagens de pessoas que se identificavam com as mesmas dificuldades que o Deivid tinha de assumir a sexualidade. Ainda é um tabu muito grande na sociedade e muitas pessoas ainda são "punidas" por isso. O medo da exclusão e do cancelamento é uma mazela moderna que inibe as pessoas de viverem suas vontades e desejos.
Espero profundamente que ele tenha ajudado a movimentar esse debate, principalmente se considerarmos que o personagem está inserido num universo sertanejo, portanto mais machista.

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Alejandro Claveaux | Foto: Asafe Ghalib

Em entrevista recente, você declarou que "o galã não precisa ser másculo. Ele precisa ser livre". Em tempos em que a sexualidade é pauta recorrente, você acredita que falar sobre masculinidades ainda é um tabu hoje?

Todas as questões que mexem com estruturas antigas e pré-concebidas são difíceis de serem aceitas e debatidas. Estamos falando de uma questão geracional. Eu cresci acreditando em fundamentos que hoje já não fazem o menor sentido para mim.
Sobre a liberdade, essa sim é a nossa maior preciosidade em busca da verdade de cada um. Viver em um mundo antidemocrata e preconceituoso é tóxico e te aprisiona.

A sedução, o mistério e o antagonismo do garimpeiro Jordão Nicácio, de No Rancho Fundo, também tem repercutido bastante. Como o público reage a um vilão de novela hoje?

O Jordão é uma figura enigmática. Ele é considerado por todos como um matador vil, mas nunca foi visto matando alguém. Tem uma aparência afrontosa com olhos de cores diferentes um do outro e, de certa forma, isso causa certa inibição.

Jordão é bastante misterioso e isso gera uma curiosidade. Existe uma humanidade nele, uma das características que ajuda a gostarem dele. Essa humanidade que ele tem fica clara na relação dele com Esperança [personagem interpretada pela atriz Andréa Bak]. Talvez, ele use de uma dureza para sobreviver em um universo de poucas oportunidades, ou talvez ele seja mesmo uma pessoa truculenta...isso vamos descobrir juntos até o final de No Rancho Fundo.

 

Dos personagens que já interpretou na carreira, qual deles foi o mais desafiador até agora?

Vou citar o Adriano do longa Ruas da Glória que fiz recentemente. Talvez por estar mais fresco na minha cabeça. Esse personagem está inserido em um contexto de promiscuidade, prostituição e drogas no tradicional bairro da Glória, no Rio de Janeiro. O Adriano é um garoto de programa uruguaio que se envolve com o personagem que é interpretado pelo ator Caio Macedo. Juntos, eles vivem uma aventura amorosa marcada por violência e paixão. É um personagem diferente de tudo que já tinha feito.
Fiz bastante pesquisa sobre o universo do submundo sexual e das drogas para entender a estrutura do personagem. Tive a possibilidade de conhecer pessoas com histórias muito marcantes e o motivo que as levaram a viver essa realidade. Contar histórias sobre universos pouco explorados pela massa é um desejo. Gosto de estar em projetos que convidem o público a pensar.

Você terminou, recentemente, as gravações de Ruas da Glória, filme em que interpretará um garoto de programa uruguaio nas ruas do Rio de Janeiro. Como foi viver um personagem da mesma nacionalidade dos seus pais?

Foi uma coincidência. O personagem já tinha um perfil latino e, como minha família mora no Uruguai e tenho facilidade com a língua, deu match. Fiz um filme recentemente em Madrid também em espanhol e tem pintado convites para atuar em outros países, sobretudo na Colômbia. Tenho muito interesse por estreitar o diálogo com culturas diferentes de modo que não nos isolemos pela barreira da língua.

 

O que podemos esperar de Deivid Cafajeste na próxima temporada de Rensga Hits?

Os fãs de Rensga podem esperar um Deivid internacionalizado, apostando na carreira internacional. Ele começa a cantar em espanhol numa mistura de sertanejo com reggaeton. Está bem divertido. No lado amoroso, ele vive um dilema com o Kevin e aí tem que assistir para acompanhar esse desfecho.

 

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