Alexandre Rodrigues constrói a sua própria história na dramaturgia
De volta ao consagrado roteiro de “Cidade de Deus”, Alexandre Rodrigues constrói a sua própria história na dramaturgia
Ninguém mais me chama de 'Buscapé'! De volta ao consagrado roteiro de “Cidade de Deus”, Alexandre Rodrigues constrói a sua própria história na dramaturgia.
A arte tem o poder de transformar vidas, especialmente quando há apoio familiar. Foi o que aconteceu com Alexandre Rodrigues, o carioca que encontrou no teatro e no cinema uma forma de expressar as suas emoções e construir uma carreira sólida. Desde cedo, sua mãe, Rosângela, o incentivava a ir em busca dos seus sonhos e de uma carreira que o fizesse feliz. Esse suporte foi importante para ele, que aos 13 anos estreou a sua primeira peça teatral, “Aurora da Minha Vida”, marcando o início de uma jornada que emocionou a sua família e definiu o seu caminho.
Aos 16 anos, ele alcançou um novo patamar ao interpretar “Buscapé” no filme “Cidade de Deus”. Na época, o longa-metragem de Fernando Meirelles, aclamado pela crítica especializada, recebeu quatro indicações ao Oscar e, apesar de não levar nenhuma estatueta pra casa, foi muito bem recebido em Cannes e levou 48 prêmios internacionais. “Em 2022, de acordo com um estudo realizado pela plataforma Preply, ‘Cidade de Deus’ está em segundo lugar na lista de filmes estrangeiros mais vistos do mundo”, comemora Alexandre. Esse papel foi um divisor de águas em sua vida e carreira, trazendo reconhecimento e permitindo-lhe crescer tanto como artista quanto como provedor.
Após o sucesso estrondoso, Rodrigues encontrou espaço no audiovisual, mas sempre com as dificuldades típicas dos atores negros no País. A resiliência foi fundamental nesse processo de altos e baixos, mas ele nunca deixou a cor de sua pele ser vista como impedimento. “A estrutura do cinema ainda é eurocêntrica. Quando aceitei o convite para o filme, já sabia que seria assim. Aprendi muito cedo que todas as profissões têm os seus contratempos. Experimentei momentos em que pensei em desistir, mas era acolhido pelos conselhos da minha mãe, dizendo que era uma fase e que iria passar. Com todo esse suporte, sigo na profissão até hoje.”
Falando sobre representatividade, ele afirma que os atores negros desempenham um papel importante na luta por mais diversidade e inclusão no cinema nacional. A sua presença nas telas e nos bastidores ajuda a romper estereótipos e a promover uma imagem mais autêntica da sociedade brasileira. “Nós trazemos para o cinema histórias e perspectivas que muitas vezes são negligenciadas ou distorcidas pela indústria predominante. Além disso, ao conquistarmos lugares de destaque, conseguimos inspirar novas gerações”, diz.
“ANTES, os FILMES FREQUENTEMENTE RETRATAVAM as COMUNIDADES de MANEIRA BASTANTE ESTEREOTIPADA, FOCANDO QUASE que EXCLUSIVAMENTE na VIOLÊNCIA e na CRIMINALIDADE. EMBORA ‘CIDADE de DEUS’ TENHA SIDO ACLAMADO por SUA ESTRUTURA PODEROSA e REALISTA, ele TAMBÉM CONTRIBUIU PARA ESSA VISÃO LIMITADA e MUITAS VEZES NEGATIVA das COMUNIDADES”
Neste momento, Alexandre está de volta ao papel de Buscapé na série “Cidade de Deus: A Luta Continua”, disponível na MAX. Revisitar este personagem icônico foi um desafio emocionante, que exigiu capturar a essência do original enquanto incorporava as mudanças que ele teria tido ao longo dos anos. A narrativa deve explorar como “Buscapé” lida com as complexidades do passado, as responsabilidades da presente maturidade e as esperanças para o futuro, mostrando uma figura dramática que cresceu, mas que ainda carrega as marcas e as lições da juventude. Essa evolução trará novas camadas à sua personalidade, proporcionando uma visão mais profunda e enriquecedora de quem ele se tornou.
Outro ponto importante no qual o script pretende abordar é a representação atual das favelas nas telonas. O ator observa que houve um progresso significativo. “Naquele período, os filmes frequentemente retratavam as comunidades de maneira bastante estereotipada, focando quase que exclusivamente na violência e na criminalidade. Embora o longa tenha sido aclamado por sua estrutura poderosa e realista, ele também contribuiu para essa visão limitada e muitas vezes negativa das comunidades.”
“A ESTRUTURA do CINEMA AINDA é EUROCÊNTRICA – e, POR CONTA DISSO, EXPERIMENTEI MOMENTOS em QUE PENSEI em DESISTIR, MAS SEMPRE FUI ACOLHIDO PELOS CONSELHOS da MINHA MÃE, DIZENDO QUE ERA UMA FASE e QUE TUDO IRIA PASSAR. FOI o QUE ME FEZ SEGUIR ADIANTE”
Mais recentemente, alguns cineastas estão adotando abordagens amplas, mostrando não apenas os desafios, mas, também, as riquezas culturais e a resiliência dos moradores. Essa evolução está, em parte, alinhada às mudanças nas políticas públicas e nas iniciativas comunitárias que visam melhorar as condições em regiões periféricas. Filmes e séries têm buscado dar voz a personagens complexos, refletindo uma gama mais diversa de experiências verossímeis.
Enquanto esse enredo está em plena transformação, Alexandre quer dedicar-se exclusivamente à arte, quer ser livre para provocar sentimentos, ser alguém que jamais pensou em ser, sentir o que nunca se permitiu sentir. É perseguindo os seus sonhos que ele pretende continuar trilhando a sua jornada – e quem sabe um dia trabalhar com grandes diretores do cinema internacional, como Wes Anderson e Vince Gilligan. “Qualquer projeto que for viabilizado por eles seria bom demais em atuar”, finaliza. @ALEXANDRERODRIGUESREALL
Fotografia: RENATO COSTA.
Edição de moda e beleza: CACÁ SANTINI.
Texto: ESTER JACOPETTI.
Assistente de moda: MIRO MOREIRA. M
Agradecimento: NOON SMALL LUXURY APARTAMENTO.