Anitta conversa exclusivamente com a L'Officiel Hommes Brasil
Beijada pelo fogo! Diretamente de Honório Gurgel, no subúrbio carioca, para o topo do mundo, Anitta - alter ego de Larissa Macedo Machado - dobrou a crítica, inverteu a lógica e rebolou, literalmente, na cara da sociedade.
Uma França inteirinha está no encalço dela – são mais de 65 milhões de seguidores apenas em uma rede social. Anitta não tem um minuto de paz. E ela está absolutamente bem resolvida com isso. Nascida na zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 31 de março de 1993, esta ariana determinada, enérgica e corajosa, que figura entre os nomes mais importantes da indústria fonográfica, sabe escolher as batalhas que quer lutar – e ganhar. O sentimento de fracasso passa longe do seu vocabulário.
Com agenda de shows lotada e presença nas festas mais concorridas do mapa (leia-se: big party do Oscar, Grammy e Met Gala), Larissa deu os passos iniciais na carreira no coral em que o seu avô tocava, na igreja Santa Luzia, e nas calçadas do bairro de Honório Gurgel, onde adorava cantarolar com seu microfone fictício. Na época, ela também frequentava aulas de dança de salão. Ainda criança, costumava dizer aos seus pais que “um dia seria famosa e muito rica”. “Já sabia que seria artista, então falava para a minha família que isso iria acontecer, contava pra eles os lugares em que cantaria e em quais programas de TV eu iria... Descrevia até como seria a minha casa.” A profecia concretizou-se antes mesmo de ela completar 21 anos.
Seu talento logo foi percebido pelo avô materno, Pedro Júlio, migrante paraibano saído de Guarabira, a quase cem quilômetros da capital João Pessoa. “Os ensaios do coral aconteciam na casa dele, e eu ficava lá assistindo e cantando junto. Então uma das freiras pediu para ele me deixar cantar. Ele perguntou: ‘Você quer?’ E eu respondi: ‘Sim’”, conta. Do solo católico para um ambiente nada bíblico, Anitta – codinome emprestado da minissérie “Presença de Anita” (2001), com toda a pompa de quem recobre a pele com múltiplas camadas de proteção –, decolou no Furacão 2000. “Os bailes funk eram gravados e depois exibidos na televisão. Como eu queria ser vista, procurava uma câmera e passava a noite toda dançando – e dançava tanto que se abria uma roda em torno de mim. Fiquei até amiga do cameraman. O passo seguinte foi mostrar que sabia cantar. Postei um vídeo no Orkut (mídia anterior ao Facebook) cantando, dançando, imitando a apresentadora do Furacão, e aí eles viram e me questionaram: ‘Você canta? O que é isso?’ E me chamaram para fazer um teste. Assinei contrato aos 17 anos.” Anitta cursou técnico em Administração e chegou a estagiar na Vale. “Acho que isso me ajudou a entender como é a rotina de trabalho numa grande companhia. Como era estagiária, tratavam-me como se fosse café com leite. Ouvia como os funcionários se comportavam a respeito do chefe e como um disputava com o outro. Ali compreendi como funciona o universo corporativo. Nada nunca parece bom. E olha que era uma empresa que dava tudo pra gente, mas o pessoal só reclamava. E isso me irritava demais.” À frente dos seus negócios, com a internacionalização da carreira, ela ampliou a base de atuação para Miami e Los Angeles – esta última, cidade em que recebeu a nossa equipe. Aos 31 anos, Anitta anunciou a turnê “Baile Funk Experience”, que vai passar por Estados Unidos, Canadá, México, Colômbia, Peru, Chile, Alemanha, Holanda, Reino Unido, França, Espanha e Itália. O projeto tem a expertise da Live Nation e estreiou oficialmente no dia 18 de maio, na Cidade do México. “Nunca fiz nada igual ao que vou fazer agora. Essa turnê será boa para consolidar o meu trabalho no exterior e também para continuar a divulgação do álbum de funk, que é o que quero. Serão 22 shows. Estou muito feliz e plena – realizei tudo o que planejei. Há uns três anos, era dominada pela tensão e pelo nervosismo, e pensava, ‘ai meu Deus, o que vai acontecer? Por que tenho que fazer isso? Por que tenho que bombar aqui? Por que não posso fazer aquilo?’ E quando não acontecia da forma como imaginava, ficava estressada. Agora não. Hoje em dia, o que rolar, rolou. Sem deslumbramento, sem esperar o aval dos outros e sem dúvidas de quem eu sou”, e completa: “É muito arriscado fazer um álbum inteiramente de funk, coisa que ninguém está fazendo. A chance de dar errado é grande. Mas também pode dar muito certo, como várias coisas na minha trajetória. E você só descobre se fizer. Mas não conseguiria fazer se não tivesse com essa mentalidade de o que rolar, rolou. Se der certo, deu. Se der errado, deu. E está tudo bem. Acho que vai dar certo. Não faria nada achando que vai ser ruim. A gente só faz com a esperança de que vai ser incrível. Confio muito na qualidade daquilo que entrego. A minha intenção com este álbum é de existir um antes e um depois do funk”.
Essa mulher turbinada, com o corpo sarado pela rotina fitness e gosto por comidinhas descomplicadas (arroz com feijão, batata frita, miojo de tomate da Turma da Mônica, pipoca e brigadeiro) percebe o potencial que tem e não rema contra a maré. A silhueta carrega uma porção de tatuagens cheias de significados – do coração teste no dedinho ao nome da avó (e melhor amiga) Maria Glorete, passando pelo intrigante paradoxo entre o 8 e o 80. Anitta deixou no passado um relacionamento abusivo e ainda busca o amor (ou amores) – embora deixe escapar que está “in love” com um bonitão gringo, na faixa dos 50 anos. Ela avisa que planeja investir em seu lado atriz e em ações que a desafiem. “Gosto de atuar. Quero brincar mais com isso. Depois de participar de ‘Elite’, da Netflix, tomei gosto pelo set. E adoro fazer coisas que me provoquem, que me obriguem a me superar. Penso que seria incrível gravar com Seu Jorge ou com a Marisa Monte. E, óbvio, com a minha diva Mariah Carey.” Sim, divas também têm as suas próprias divas.
No posto de cantora mais conhecida do Brasil, ela conquistou o ASCAP Latin Music Awards, em 2019, e o American Music Awards, em 2022. No ano passado, concorreu ao Grammy. Na versão latina do prêmio, Anitta já recebeu sete indicações. Sua música “Bellakeo”, feita em parceria com o mexicano Peso Pluma, figurou no top 10 Global 2023, enquanto “Envolver” abocanhou a primeira posição em 2022, desbancando Elton John, Imagine Dragons e Justin Bieber.
No campo político, ela engrossa a lista de astros que se posicionam abertamente, a exemplo de Lady Gaga, Taylor Swift, Chico Buarque e Caetano Veloso. “Não acho que se posicionar seja obrigatório. Digo sempre que é legal ser rico, gastar dinheiro e usufruir aquilo que se tem. Só que sinto que é importante dar de volta algo que faça bem para as pessoas. Porque não é possível que a gente ganhe todo esse reconhecimento, toda essa visibilidade, todo esse poder de influência para simplesmente não fazer nada. Só para falar ‘compre isso ou compre aquilo’. Se você tem tanto poder sobre as pessoas, é imprescindível utilizá-lo. Sei que isso vem com um custo grande de carga energética. De pessoas te desejando o mal. Então você tem que estar muito disposto. Por isso, não julgo quem não declara aquilo que pensa.” Entretanto, para as eleições que acontecem este ano, ela promete ajudar apenas com informações. “As pessoas precisam aprender a pensar sozinhas. Elas têm que ter o poder da escolha. Não podemos mais ser preguiçosos. Ir em busca do conhecimento é o que nos torna menos manipuláveis.” Mais uma vez, a musa pop está certa. Enfim, como diz em uma de suas letras mais famosas: “Prepara, que agora é a hora, do show ‘da Poderosa’”.
Créditos:
- Convidada @anitta
- Fotografia @fredothero
- Edição de moda @janellermiller
- Beleza @itorresbeauty
- Cabelo @florido
- Concierge @guiacalifornia
- Diretora de redação @patriciafavalle
- Diretora de arte @mariliamartins__wk
- Produção executiva @alessandra.drocca
- Assistentes de moda @rum_brady e @_shmian
- Assistente de beleza @camilaamezcuabeauty
- Agradecimento @copaairlines e Lucas Castellani