Bulgari: uma entrevista com o diretor criativo de relógios da grife
A arte do extraordinário! Desde que foi introduzido pela Bulgari, o Octo Finissimo impressiona. A saga começou em 2014, com o relógio turbilhão mais fino do mundo. E a casa romana acaba de bater um novo recorde. Confira!
Na última década, a série Octo Finissimo estabeleceu nove recordes, incluindo o de relógio de três ponteiros e cronógrafo automático mais fino do mundo. Este ano, a Bulgari completa o seu 140o aniversário e para a data, ela investiu no Octo Finissimo Automatic Sketch, que conta com mostrador ilustrado, que revela a parte traseira do movimento no lugar do mostrador – como se você estivesse admirando o relógio do outro lado, através de uma caixa aberta. Mas, confesso, quem atraiu todos os olhares na coleção 2024 da brand foi mesmo o Octo Finissimo Ultra COSC, que estabeleceu outro recorde mundial [Octo Finissimo Ultra, de 2022, já tinha apenas 1,8mm de espessura]. Nunca antes um relógio mecânico resistente a choques e campos magnéticos foi produzido em espessura menor que a de uma moeda – com espessura de 1,7milímetros. A jornada até este parâmetro foi impressionante. Sim, porque engenheiros, relojoeiros e designers desafiaram as leis da Física para desenvolver um complexo de finura incomparável. Em termos de estrutura geral, o fundo da caixa serve como placa principal, sobre a qual são montados os 170 componentes do calibre de manufatura BVL180 de corda manual. O desafio de garantir a rigidez adequada para um relógio medindo 40 milímetros de diâmetro e apenas 1,7mm de espessura foi superado pela confecção do fundo/placa principal da caixa em carboneto de tungstênio particularmente denso, rígido e ultrarresistente. Além disso, para maximizar a sua utilização da área de superfície, os mostradores das horas e dos minutos, o barrilete grande – com uma reserva de marcha de 50 horas – e o escapamento interagem habilmente com a geometria circular da abertura do bisel. Se o usuário não quiser usar os métodos tradicionais para ajustar as horas, ele pode optar por colocar o relógio na caixa customizada, equipada com display digital. O horário desejado é então programado e o ciclo de regulagem é iniciado com o toque de um botão – é como ter um relojoeiro em casa. Em uma conversa exclusiva com Fabrizio Buonamassa, diretor criativo de relógios da Bulgari, ele falou sobre os detalhes deste desenvolvimento e do estilo único da casa romana, incluindo o poder de inovação, a determinação e a capacidade de questionar as normas estabelecidas.
L’OFFICIEL HOMMES: Entre as tendências de alta relojoaria, quais fazem parte do estilo Bulgari?
FABRIZIO BUONAMASSA: Não seguimos tendências. Talvez tenhamos criado as tendências dos relógios temáticos. Quando lançamos o Finissimo, há dez anos, estávamos um pouco sozinhos. E então a indústria relojoeira começou a renovar os modelos ultrafinos, marcas importantes e mais antigas do que nós. E assim, novamente, o relógio ultrafino é algo que está no mercado – temos que agradecer ao Octo Finissimo por isso.
L’OFF: Como você descreve a importância histórica dos esboços na arte? E como essa tradição se relaciona com a alta relojoaria da maison?
FB: Começamos a ideia dos esboços há dois anos, porque era a celebração de Finissimo. Queríamos comemorar. Às vezes proponho algo e digo, “bem, isso não é viável”. Eis que sugeri fazermos no mostrador um dos primeiros esboços existentes – uma ideia fantástica, incrível. Assim, iniciamos o desenvolvimento da primeira edição Sketch. Levou um ano só para elaborar estes dois mostradores que fizemos a laser nas nossas instalações. E agora decidimos celebrar uma das conquistas mais importantes da marca nos últimos tempos. Não me lembro há quantos anos fabricamos relógios – mais de cem, provavelmente. O movimento Finissimo, muitos clientes dizem, é fantástico. Eles comentavam que era uma pena não ficar à mostra... Bem, isso sempre esteve na minha mente. Até que pensei: “Precisamos exibir esse movimento”. Comecei a fazer rascunhos e o relojoeiro falou: “Fabrizio, você está desenhando o movimento?” Sim, eu estava desenhando exatamente o que via quando tirava o relógio do pulso e olhava o seu curso. Depois de mais de 20 anos na empresa, devo dizer que talvez eu desenhe relógios, joias, acessórios só porque quero fazer esboços. É a minha obsessão. Então, ouso dizer, que graças a mim existe esta edição Sketch na maison. Aos 52 anos, não quero perder tempo fazendo lindas reflexões. Gosto de ir direto ao ponto, sem efeitos especiais. Se olhar com atenção, vai ver uma pequena assinatura no esboço do mostrador do relógio – mais ou menos às 9h. Há muitos colecionadores obcecados que começam a olhar para o relógio e ver todos os detalhes – “o diabo está nos detalhes”. E, no final, esta é a diferença entre o objeto belo e o objeto qualquer.
L’OFF: A Bulgari é movida a desafios?
FB: A palavra e a missão mais importantes na Bulgari são: “Por que não?” Temos reuniões surpreendentes com o nosso time. Se você nos comparar com outra marca de alta relojoaria, vai perceber que somos bem diferentes. Somos um time que faz o produto inteiro. Não tem um time responsável pela pulseira e outro pelo movimento. Fazemos o relógio. Isso é perigoso, porque no final temos muitas oportunidades em jogo, e precisamos fazer escolhas. E também temos muitas ideias e odiamos aquilo que já fizemos. Amamos mudar. Sim, porque senão fica chato. A Serpenti não tem concorrentes. Você ama ou odeia. Octo Finissimo não tem concorrentes. É o primeiro relógio com uma abordagem contemporânea na execução ultrafina.
L’OFF: Vamos falar um pouco sobre Finissimo: este ano o temos com apenas 1,7mm...
FB: Fomos um pouco conservadores no início de Octo Finissimo Ultra. Nós dissemos: OK, é o suficiente, está tudo bem, já é o recorde mundial. Mas não foi suficiente (risos!). O problema do Finissimo Ultra COSC é que o relógio é totalmente montado: o movimento faz parte da placa principal e a placa principal faz parte da caixa. E para ter a certificação COSC, cada movimento deve ser certificado. É realmente uma obra-prima. No fim das contas, o Octo Finissimo foi especial para nós, pois foi a oportunidade de falarmos sobre a marca. Quando entrei na empresa, em 2001, as pessoas se perguntavam: “Por que eu teria um relógio Bulgari?” Não estamos ligados ao esporte, não estamos ligados aos carros de corrida, não estamos ligados à aviação. Somos uma marca italiana que vem de Roma. Bem, em 20 anos, fomos capazes de produzir o relógio mais fino do mundo. Mas ninguém quer usar um relógio finíssimo e ultrafino todos os dias. Então, talvez haja uma oportunidade de criar um conceito totalmente novo em torno de relógios ultrafinos. Em termos de habilidade, é a coisa mais difícil que você pode imaginar. E é por isso que o Finissimo faz tanto sucesso: porque era uma nova estética com característica técnica sólida. Não é apenas um movimento com design bonito. Muitas vezes você tem objetos lindos com engenharia antiga. Outras vezes você tem engenharia fantástica com design feio. Ambos, para o italiano, não funcionam. Para nós, design significa arte aplicada à indústria. Temos que fazer algo que seja arte. Eu sou um artista. A marca é tão poderosa, o DNA é tão único. Somos obrigados a fazer peças diferenciadas, como Tubogas, Serpenti, Finissimo. Opa: Serpenti e Finissimo – talvez tenhamos que unir os dois. No ano que vem, quem sabe?