Hommes

Coppola fala exclusivamente sobre seu mais opulento filme: Megalópolis

Tudo ao seu tempo! Lenda viva do cinema, Francis Ford Coppola fala sobre o seu mais opulento filme, “Megalópolis”, parte de um projeto que consumiu metade da sua vida e custou 120 milhões de dólares para ser realizado.

cup adult male man person knife sitting plate senior citizen wristwatch
Coppola em sua vinícola num raro clique da filha Sofia (Foto: Sofia Coppola/Divulgação)

É clichê, mas não tem como falar de Francis Ford Coppola sem resgatar o maior de seus filmes, na verdade, a trilogia toda. “O Poderoso Chefão”, lançado entre 1972 e 1990, trouxe para as telonas a saga dos Corleones, estrelada por um elenco encabeçado por Marlon Brando, Al Pacino, Richard Castellano, Diane Keaton e James Caan na versão de estreia; Robert de Niro, John Cazale e Talia Shira na parte dois; e Andy Garcia, Sofia Coppola e Joe Mantegna no grand finale.

Mas Coppola não vive de feitos antigos. Aos 85 anos, dono de seis estatuetas do Oscar (uma delas pelo conjunto da obra), apaixonado por vinhos e pelos rótulos que estampam o seu sobrenome, ele não gosta de pausas. Em seu portfólio figuram “Caminhos Mal Traçados”, “A Conversação”, “Apocalypse Now”, “O Selvagem da Motocicleta”, “Peggy Sue, Seu Passado a Espera”, “Drácula de Bram Stoker” e “O Homem que Fazia Chover”. Nascido em Detroit, numa família ítalo-americana de artistas – o pai era músico e compositor e a mãe atriz –, mudou-se ainda criança para o bairro do Queen’s, em Nova York. Contraiu poliomielite aos nove anos e graças a sua persistência, driblou as adversidades e voltou a andar. A irmã Talia conta que o viu paralisado, mas que ele jamais admitiu parar de lu- tar. Mais tarde estudou Cinema na Universidade da Califórnia (UCLA) e rodou os seus primeiros filmes no início da década de 1960. O reconhecimento veio algum tempo depois, com o roteiro de “Patton”, em 1971.

Em passagem relâmpago pelo Brasil no final de outubro de 2024 para divulgar a superprodução “Megalópolis”, Coppola relembrou a estadia em Curitiba, em 2003 – um dos lugares que o inspiraram na construção do enredo atual. Por sinal, na época em que esteve em solo paranaense, ele chegou a dizer que fazia parte de seus “experimentos sociológicos” coletados mundo afora. “Também fui a destinos como Portland, no Oregon, e ao Arizona. Em cada uma dessas paradas existiam projetos inovadores (e utópicos).

No set de filmagem.

Nesta recente visita, ele afirmou que o arquiteto vivido pelo ator Adam Driver na trama faz alusão direta ao ex-governador e ex-prefeito curitibano Jaime Lerner (falecido em 2021), de quem tornou-se amigo. O script tem como gancho o livro “Doze Contra os Deuses”, de William Bolitho, que narra a conspiração Catilinária ocorrida em Roma, e que por muito tempo repousou na cabeceira do cineasta. “Depois que o li, numa lacuna de 14 anos sem entrar num set, pensei: ‘Isso é algo que quero fazer, um épico romano adaptado em Nova York’”, disse.

Com custo de 120 milhões de dólares, bancado pelo próprio diretor, o longa se passa na fictícia “Nova Roma” devastada por um desastre, e acompanha as discussões entre Cesar Catilina (Adam) e o pragmático prefeito Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito). O megalomaníaco Catilina imagina ser possível criar uma metrópole autossustentável, onde as pessoas podem se permitir sonhar. Mas para dar prosseguimento aos seus planos, ele precisa considerar os interesses de figuras ultrapassadas, ambiciosas e corruptas. Embora a crítica ianque tenha sido bastante ácida e as bilheterias ainda não tenham dado o retorno esperado, Francis confessa que isso não lhe tira o sono. “Tive a ideia de ‘Megalópolis’ ainda muito jovem. E durante todo este período de maturação – praticamente 40 anos –, fiz outros filmes, de diferentes estilos, e a maioria deles de sucesso. Gosto de dizer que faço filme para mim, entretanto, acredito que com o tempo, aquilo que é considerado avant-garde permanece, e o passado se transforma em pano de fundo para o futuro. Enfim, o único crítico da arte é o tempo.” A fala é ancorada pela extensa lista de longas-metragens aclamados, que mistura dramas shakespearianos, tomadas surrealistas e alguma teatralização. Avesso ao cinema que vem sendo produzido em Hollywood, Coppola compara os blockbusters ao fast food. “Querem que os filmes sejam como Coca-Cola, que você continua tomando, mas que não tem nada a ver com arte. Isso é por causa do sistema de gerenciamento dos estúdios, que está falido e que só enxerga dinheiro. Acredito que esta instituição que eu amo, que me criou, mas que não me quer mais, vai renascer. E essa é a boa notícia.”

O cineasta durante gravação de “Twixt”, em 2011.
Nos bastidores das filmagens com o ator Adam Driver.
Durante uma partida de futebol, no estádio do Atlético Paranaense, em Curitiba, em 2003.
Na gravação do programa “Tomorrow”, da NBC, em 1976.
Nas filmagens de “Megalópolis”.

Tags

Posts recomendados